Arrogância e overdose
Mas a realidade é uma só.
Lula e o PT foram derrotados e não conseguiram o seu principal objetivo estratégico: transformar as eleições em um plebiscito entre “nós, os bons e eles os maus”.
Por este caminho, Lula acreditava que faria valer a sua vontade de, com um “dedazo”, nomear Dilma presidente da República.
Seu outro objetivo era o de ser o “exterminador da oposição”, que sairia do primeiro turno em estado terminal.
O Brasil, pluralista não se dobrou à vontade imperial de Lula e fez ruir seus dois planos.
A que se deve tamanha derrota?
Em primeiro lugar, à arrogância presidencial.
No melhor estilo caudilhesco, Lula enquadrou o PT de ponta a ponta, obrigando-o a não disputar o governo em Estados onde era competitivo e a engolir candidatos indigestos de outras legendas.
Que o digam os petistas de Minas e do Maranhão. Rifou ainda aliados fiéis, na disputa nacional e nos palanques estaduais.
Chefe de facção
Atropelou ainda a Justiça Eleitoral e elegeu a imprensa como inimiga, acusando-a de ser de oposição e de conspirar contra sua candidata.
Sua agressão à liberdade de expressão, só fez a imprensa tomar consciência da ameaça às instituições democráticas, que estava sendo insuflada por quem jurou respeitar e defender a Constituição-Cidadã.
Sem o menor respeito à liturgia do cargo, Lula se travestiu de garoto-propaganda nas disputas de governadores, senadores e deputados.
Por onde passou, destilou ódio contra a oposição.
Em Santa Catarina pregou que o DEM deveria ser extirpado. E agrediu aos paulistas e mineiros porque a maioria absoluta dos eleitores dos dois estados apoiavam os candidatos tucanos. Por onde passou, Lula pregou a divisão dos brasileiros e nomeou inimigos pessoais a serem execrados da vida pública.
Overdose
Dilma foi ofuscada por Lula, a grande estrela dos comícios e da propaganda na TV. Ora, ao se colocar no centro da ribalta, Lula confirmou que sua candidata não tinha ideias próprias, pois era sua teleguiada; um produto de marketing.
A arrogância e a overdose de Lula se constituem em sérios problemas para a candidatura governista, no segundo turno.
Setores do lulo-petismo clamam pelo retorno do “Lulinha, paz e amor” por entenderem que a truculência do presidente espantou setores expressivos das camadas médias.
Mas fica a pergunta: quem vai enquadrá-lo? I
sto é praticamente impossível. No caudilhismo, o que predomina é o princípio da verticalidade, onde quem dá a palavra final é o chefe.
E quem vai convencê-lo de que em decorrência de sua superexposição, o efeito Lula está praticamente esgotado e que é hora de ele se recolher ao fundo do palco?
As urnas revelaram uma verdade insofismável: o campo pautado por valores éticos e democráticos é maior do que as forças que se aglutinam em torno do projeto caudilhesco-autoritário.
A soma dos votos de José Serra e de Marina Silva mostra que não passaram em branco os dois últimos escândalos: o da Receita e o “Erenicegate”, assim como não ficou impune a postura da candidata Dilma de ter um discurso para cada plateia - até mesmo em questões de crença - e muito menos o ataque do lulopetismo à liberdade de imprensa.
Em vez do extermínio preconizado por Lula, os partidos oposicionistas saem do primeiro turno de cabeça erguida.
O PSDB foi quem mais elegeu governadores no primeiro turno e teve desempenho espetacular nos polos mais dinâmicos da economia brasileira.
São de grande relevância as eleições de Geraldo Alckmin em São Paulo, de Antônio Anastasia, em Minas Gerais, e de Beto Richa, no Paraná, para não falar que Aloyzio Nunes tornou-se o senador com a maior votação na história do país.
Em vez de ser extirpado, como Lula queria, o DEM fez os governadores de Santa Catarina e do Rio Grande do Norte. No segundo turno, o PSDB tem chances reais de eleger mais cinco governadores.
Antes do primeiro turno, os arautos do lulopetismo anunciavam que Serra encerraria sua carreira política com uma derrota acachapante.
Erraram feio.
Ele vai para o segundo turno contando com importante base de apoio e com todas as condições para ser o fator de convergência entre seus eleitores e os de Marina Silva, em torno de um projeto que combine desenvolvimento, meio ambiente, democracia, justiça social e valores éticos.
Estão dadas as condições para se derrotar a aliança entre o patrimonialismo tradicional e o aparelhamento partidário da máquina estatal, que são a base de sustentação do lulo-petismo e da candidatura de Dilma Roussef.
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