Nos próximos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que se manifestar sobre uma investigação que desde dezembro vem sendo conduzida pela Polícia Federal. Trata-se da Operação Santa Teresa, que visava inicialmente apurar crime de prostituição e tráfico de mulheres para o Exterior e acabou descobrindo a existência de uma "organização criminosa" que, em troca de milionárias propinas, liberava recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para prefeituras e empresas privadas. ISTOÉ teve acesso com exclusividade a dois relatórios do setor de inteligência da PF. Nesses documentos estão registradas, em 48 páginas, conversas telefônicas de 17 pessoas, gravadas em 38 aparelhos fixos e celulares durante 45 dias. O conteúdo desses diálogos macula a imagem do maior banco de fomento da América Latina, maior indutor do PAC e tido até os últimos dias como um símbolo de eficiência e de rigor técnico na aplicação de seus recursos.
CERCADOS O advogado Tosto (acima) foi preso e deixou o conselho do BNDES. O deputado Paulinho (à esq.) terá que explicar as relações com os envolvidos nas fraudes |
Segundo o organograma elaborado pela PF, chamado de "Esquema BNDES", o chefe da organização criminosa é Manuel Fernandes de Bastos Filho, conhecido como Maneco. Ele é o dono da Fernandes Bastos Construtora e Incorporadora Ltda. e da Casa Noturna WE, origem da investigação. Abaixo dele está João Pedro de Moura, um dos principais assessores da Força Sindical, que já assessorou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da entidade, e que por indicação da central sindical ocupou um assento no Conselho de Administração do BNDES. De acordo com a PF, Moura exercia o papel de elo entre o grupo e o banco. Nos relatos gravados, fica evidente como o grupo atuou para a liberação de pelo menos R$ 396 milhões, sendo R$ 126 milhões para obras de urbanização e saneamento em Praia Grande, litoral sul de São Paulo, e R$ 270 milhões para as Lojas Marisa.
Nos relatórios, os agentes da PF revelam que a casa noturna de Manuel, freqüentada por garotas que chegam a receber até R$ 600 por programa, era usada como base de encontros dos envolvidos com as fraudes no BNDES e para fazer "relações públicas". Os policiais dizem ainda que "as garotas recebiam semanalmente, e não diretamente por programa", e asseguram que a maior parte delas morava num flat anexo à casa e pagava o aluguel do próprio bolso. Entre as conversas gravadas, uma das garotas revela que está "arregimentando 20 mulheres para trabalhar na Suíça e que o embarque seria na primeira semana de janeiro". Era prometido às garotas um pagamento de 20 mil euros para que ficassem no Exterior por pelo menos três meses.
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