Com uma franqueza surpreendente, ele não as desmentiu.
Ex-motorista de ônibus Omar José Gomes, que fazia a linha Rio-Caxambu no fim dos anos 70, há muito mudou de vida. Desde que ingressou no sindicalismo, o tempo do dinheiro contado ficou para trás.
Passados 30 anos, sua escalada social o levou ao eixo Rio/Londres/Paris/Roma, com passagem por Tóquio, voando de classe executiva. Omar, um senhor de 89 anos, é o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Terrestre (CNTTT) há três mandatos, com reeleição certa em maio. Ganha por mês pelo menos R$ 25 mil.
É também o personagem da denúncia de desvio de recursos da entidade, cuja principal fonte de receita é a contribuição sindical paga com um dia do salário de motoristas de ônibus, caminhões e trens.
Paulo Francisco disse que desde 2004 vem denunciando abusos na gestão do imposto sindical. É verdade?
OMAR GOMES: Em novembro do ano passado, no encontro do conselho geral, em Salvador, ele apresentou esse documento, que foi rejeitado por todos. O primeiro a me defender foi o secretário adjunto José Carlos Sena. Como em maio agora tem nova eleição e Paulo ficou fora da chapa, resolveu voltar com isso.
Depois de três mandatos, o senhor vai disputar nova eleição?
OMAR: Vou continuar se, por acaso, isso não me pegar. Enquanto tiver o apoio dos trabalhadores, eu continuo.
Paulo Francisco vai lançar outra chapa para disputar com o senhor?
OMAR: Não tem jeito. São 12 federações filiadas à CNTTT. Já estou com todos os eleitores fechados comigo. Será 11 contra 1. Na Federação do Rio, onde sou tesoureiro, serei reconduzido.
A denúncia diz que o senhor pratica nepotismo, e que as despesas de sua mulher na Federação do Rio são custeadas pela confederação.
OMAR: Lá, quem faz tudo é minha esposa. Ela recebe um salário de R$5 mil.
E essas viagens internacionais com dinheiro da CNTTT?
OMAR: Como conselheiro da ITF, que tem sede em Londres, todo ano eu tinha que viajar para a Inglaterra. Uma ou duas vezes eu levei minha mulher para conhecer a Inglaterra.
Mas tinha também Roma, Paris...
OMAR: Eu aproveitei as viagens a Londres para levar minha mulher para conhecer Roma e Paris. Você sabe, ali na Europa é tudo pertinho, não custava nada. Levei a Donatila, secretária do Trigo, porque, além de ser intérprete de inglês, ela trabalhava muito. Se dissesse que paguei do meu bolso estaria mentindo. Foi a entidade, não posso negar, porque depois aparecem as notas, vai ter essa investigação e como vou ficar? Não gosto de mentir.
Na viagem a Tóquio dona Maria também foi? E com uma intérprete para acompanhá-la nas compras?
OMAR: É verdade também. A agência de viagens recomendou que a CNTTT contratasse uma moça lá do Paraná como intérprete. Não sei quanto custou, foi a entidade que pagou. Se tiver que cair por isso, paciência. Está tudo documentado, vamos ver que bicho vai dar.
Mas essas viagens todas tinham que ser de primeira classe?
OMAR: Primeira classe não, que é muito mais cara. Era de classe executiva. Pela duração das viagens e pela minha idade, não agüento classe econômica.
O senhor acha natural que os empréstimos para sindicatos sejam perdoados?
OMAR: A gente emprestava e depois doava. Tudo aprovado pelo Conselho Fiscal, alguns o Paulo não aprovou. O dirigente falava que estava em dificuldade, que pagaria o empréstimo daqui a três meses. No fim do ano, o pagamento não vinha, a gente tinha que transformar em doação para fechar a prestação de contas.
O senhor não acha seu salário alto?
OMAR: Não acho, não. É relativo. Nas atas eu explico por que tenho esse salário. Pelo que faço, é o salário justo.
Maria Lima - O Globo
Senhores Senadores!
Não acham que já está na hora de acabar com a mamata dos sindicalistas vagabundos?
Basta o que está sentado no trono do planalto e os senhores empurram pra debaixo do tapete os escândalos que a cada dia surgem com mais intensidade.
Já está demais a inércia do Senado, não acham?
Já está demais a inércia do Senado, não acham?
Sueli Guerra
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