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domingo, 2 de março de 2008

Brasília, essa desgraceira...

Não deve haver outro país em que a
capital seja, ela própria, uma questão

Ao lançar o programa Territórios da Cidadania, o mais novo produto de sua superaquecida e super exigida oficina de marketing, o presidente Lula exortou os ministros a viajar pelo país, a seu ver a única maneira de "mapear e resolver" os problemas.

"Ficar em Brasília é uma desgraceira só", disse.

O historiador José Murilo de Carvalho, em artigo incluído num livro recente (Cultura das Transgressões no Brasil, editado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), escreve: "Brasília tornou-se uma corte corrupta e corruptora. Funcionasse o governo no Rio de Janeiro, mensaleiros e assemelhados seriam vaiados nas sessões e ‘ovacionados’ nas ruas".

As razões de Lula e José Murilo são opostas. O que no fundo Lula vê em Brasília é um obstáculo à sua vocação de arengueiro e animador de auditório. Falta-lhe o principal, a platéia.

Para Lula, falta um coadjuvante dócil ao teatro do poder. Para José Murilo, o déficit é de gente, de clima e de espaços que favoreçam o exercício de cidadania. Onde os dois se encontram é na crítica a Brasília, culpada de não satisfazer nem o político que ama o conforto das multidões, desde que domesticadas e melhor ainda se entusiasmadas, tampouco o historiador que reclama um povo nos calcanhares dos governantes.

A história de Brasília é cheia de paradoxos.

É a "ilha da fantasia".
Trechos do Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo
Leia mais: Revista Veja


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