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sábado, 8 de março de 2008

Águas de Março, Elis e Tom Jobim no dia internacional das mulheres!

Saudade não tem idade...

Tem essas coisas das quais a gente gosta desde sempre, e cada um tem as suas: chocolate branco, meninos de olhos escuros, barulho do mar, cheiro de livro novo de capa dura. Eu poderia enumerar muitas, mas hoje me atenho apenas a uma canção: “Águas de Março”. Eu gosto dessa música há mais tempo do que posso me lembrar.

Na mais remota infância, minha mãe gastou de ouvir uma fita da Elis de capinha cor de laranja. “Águas de Março” era o primeiro título anotadinho no verso. Eu ouvia aquela seqüência de palavras e não entendia quase nada, mas achava fluente e bonito.

Comecei a fazer umas teorias e ligações a respeito da letra. Eu entendia “é uma Tita Pereira” em lugar de “é o Matita Perê”. Isso porque o apelido da minha tia era Tita, e talvez eles estivessem falando de uma outra Tita na música. A minha Tita era Passos, mas deviam existir Titas aos bocados por aí.

Aquela canção era cheia de coisas misteriosas, como a “festa da cumeeira” e a “febre terçã”, e de coisas assustadoras, como “a noite”, “a morte”, “o laço”, “o anzol”. E, de repente, ficava toda luminosa, com “a prata brilhando” e “a luz da manhã”.

Algumas coisas permaneceram misteriosas até hoje, e gosto que sejam assim. É a beleza da letra. Outras passei a entender muito tempo depois. “Festa da cumeeira”, por exemplo, é uma tradição que veio com imigrantes alemães. Trata de celebrar o fim do madeiramento do telhado quando se constrói uma casa; coloca-se ali um ramo de planta ou afim para afastar o mal.

Juntei isso ao tijolo chegando, o projeto da casa, o corpo na cama, o carro enguiçado e a lama e vislumbrei: acho que a música é sobre construir uma casa, claro!

Mas e o sapo, a rã, o belo horizonte, a febre terçã? Bom, essas coisas bonitas de se falar não acharam explicação na minha cabeça obcecada pela beleza da letra. Vão continuar assim. E dia desses, ouvindo a canção, pensei que o prazer de escutar “Águas de Março” em seu idioma original, ainda que não entendendo tudinho, é definitivamente uma das grandes vantagens de ter o português (do Brasil) como língua pátria.

Pesquisando no Youtube, encontrei uma versão legendada em inglês, com Elis cantando sozinha. Na seqüência, vários comentários, em várias línguas, sobre a beleza da música. “Águas de Março” arrebata os falantes de muitos idiomas, transcende a compreensão do léxico. E eu só posso agradecer por entender (ainda que assim-assim) essa jóia, e me orgulhar por ela ser cantada no meu idioma. Veja!

por Clara McFly


1 comentários:

Anônimo disse...

Simplemente MARAVILHOSO