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domingo, 6 de setembro de 2009

Uma virada, uma doença e uma solução

Uma virada, uma doença e uma solução
"Tomem tento, Américas do Sul, Central e Caribe.
Para certos males insolúveis, endêmicos à região,
acaba de ser aberto o precedente da recolonização"

Por Roberto Pompeu de Toledo
VEJA

Raramente se veem reviravoltas de tal magnitude. De campeão do biocombustível, o Brasil tornou-se o maior torcedor mundial pela sobrevivência do petróleo.

Para a universalização do uso do álcool como fonte de energia, mobilizamos boa parte de nossas forças, dos produtores de cana-de-açúcar ao Itamaraty, até dois anos atrás.

Era o tempo em que reinava a palavra "etanol".

O auge desse período foi a visita do então presidente George W. Bush ao Brasil, em março de 2007, ocasião em que o presidente Lula recorreu ao melhor de sua lírica para cantar as maravilhas do álcool combustível, e ouviu respostas simpáticas do americano.

Um pouco mais tarde naquele mesmo ano, no entanto, uma outra palavrinha faria seu triunfal ingresso em cena – "pré-sal".
Uma fabulosa quantidade de petróleo havia sido descoberta nos mares brasileiros.

Então a mensagem brasileira ficou assim: o.k., mr. Bush, o.k., mr. Obama e todos os poderosos do mundo, o etanol é ótimo, mas vamos com calma; segurem as pontas, deem um tempo, e pelo amor de Deus continuem a consumir petróleo.

Não sejamos tão crentes nessa conversa alarmista de poluição e aquecimento global. Além disso, vejam que felicidade: teremos reservas abundantes e de boa qualidade aqui deste lado do planeta, bem longe das complicações do Oriente Médio.

O pré-sal brasileiro vai demorar no mínimo dez anos para dar o ar de sua graça nas bombas. Enquanto isso prosseguem os investimentos em carro elétrico, entre outras modalidades de veículo movido a energias alternativas.

Para que tanta pressa?

Os bons brasileiros esperam que o mundo continue confiando nesse meio seguro, eficiente e mais do que testado de mover os carros que é o petróleo.

***
O novo nome do golpe, na América Latina, é "terceiro mandato".

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu um importante passo para ganhar o seu ao obter do Congresso, na semana passada, aprovação para a realização de um plebiscito em que o povo decidirá se a Constituição deve ser alterada para permitir a re-reeleição.

Até tu, Uribe!

Até então, a febre do continuísmo estava restrita à banda bolivariana dos dirigentes latino-americanos, liderada pelo venezuelano Hugo Chávez, de quem Uribe é inimigo.

A soma de Uribe com os bolivarianos prova que, independentemente da ideologia, os latino-americanos estão unidos no horror ao império da lei acima dos homens e das instituições acima das contingências.

Há uma diferença entre os projetos continuístas de Uribe e de Chávez.

Uribe pleiteia uma reforma que permita três eleições seguidas do mesmo candidato a presidente, e não mais que três.

Chávez foi além, e conseguiu aprovar a reeleição sem limite.

Uribe mostra-se mais modesto?

Em princípio, sim, mas a ver se, ao fim do terceiro mandato, ele não desencadeará novo movimento, desta vez para possibilitar um quarto, e se ao fim do quarto não pleiteará o quinto, e depois o sexto, e depois…

Chávez, pelo menos, resolveu a questão de uma só tacada.

Que vergüenza, Latinoamérica,

que vergonzosa vergüenza.

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