Aécio questiona favoritismo de Serra e vai à disputa
O governador de Minas, Aécio Neves, informou à direção do PSDB que vai “esticar a corda” na disputa que trava com o colega José Serra, de São Paulo.
O tucanato parecia rumar para uma definição por acordo. Serra iria a 2010 como presidenciável do partido. Aécio se conformaria com o Senado.
O PSDB organiza eleições prévias. No momento, faz o recenseamento de seus filiados. Mas dava-se de barato que o acordo dispensaria a prévia. Deu chabu.
Aécio, que parecia ter refluído da idéia das prévias, voltou à carga. “Estou muito mais animado hoje do que há três meses”, disse ele a um amigo, na última sexta (4).
Vai abaixo um resumo das razões que Aécio expõe, em privado, para justificar o seu apetite pela candidatura presidencial:
1. “Boa largada”:
Em sintonia com o óbvio, Aécio reconhece que Serra está mais bem-posto nas pesquisas
Tem cara de favorito. Porém...
Porém, a despeito do que chama de “uma boa largada” do rival, Aécio acha que reúne mais condições de prevalecer sobre o candidato de Lula.
Manuseando as pesquisas, Aécio argumenta que sua taxa de rejeição é menor do que a de Serra. Reuniria, segundo esse raciocínio, mais condições de crescer.
Realça o fato de que Serra exibe posição estacionária nas sondagens eleitorais, com leve oscilação para baixo.
Aécio afirma, de resto, que é menos conhecido dos brasileiros do que Serra. Diz que sua taxa de conhecimento é de 55%. A de Serra, 96%.
2. Efeito FHC:
Na opinião de Aécio, só cochichada entre quatro paredes, a eventual candidatura presidencial de Serra facilitaria a vida do inimigo.
Menciona o fato de Lula ter decidido transformar 2010 numa espécie de plebiscito em que o eleitor seria convidado a comparar a sua gestão com a de FHC.
Servindo-se de pesquisas qualitativas, Aécio diz que Serra é associado a FHC por algo como 60% das pessoas consultadas
Natural, já que Serra foi, sob FHC, ministro do Planejamento e da Saúde. Vem daí que Aécio acha que, fechando com sua candidatura, o PSDB esvazia a tática de Lula.
O governador mineiro diz considerar “injusta” a avaliação negativa que se faz da gestão de FHC. “Ele fez muita coisa boa para o país”, diz.
Mas Aécio crê que não convém brigar com os fatos.
Os índices acerbos atribuídos a FHC são um dado da realidade.
Melhor fugir à armadilha arquitetada por Lula.
Acha que, com ele, o PSDB inviabilizaria a “polarização” do tipo passado versus futuro. Até porque seu lema é o “pós-Lula”, não o “anti-Lula”.
Em seus diálogos privados, Aécio conta que vem sendo procurado por mandachuvas de partidos acomodados sob o guardachuva de Lula.
É gente, incomodada com a opção por Dilma Rousseff, teria passado, nas palavas de Aécio, a “observar o que se passa do outro lado do muro”.
Assediado, Aécio também lança um olhar por sobre o muro. Acha que tem mais condições de atrair os descontestes do que Serra.
Julga-se mais “agregador”.
De saída, são três as legendas governistas que Aécio imagina que o PSDB poderia atrair caso optasse pela candidatura dele.
Menciona o PP, presidido por Francisco Dornelles, seu tio. Cita o PTB, cujo presidente, Roberto Jefferson, manifesta, em reserva, simpatia por seu nome.
Aécio revela que, em conversas privadas, o ministro Carlos Lupi (Trabalho), mandachuva do PDT, disse que o apoiaria se o PSDB fechasse com o nome dele.
Diz que também o PSB balançaria por ele.
Aécio se diz consciente de que o futuro dele e o de Serra estão irremediavelmente entrelaçados.
De novo, rende homenagens ao óbvio. Acredita que a chance de êxito do PSDB na disputa presidencial depende da unidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com Minas, o segundo colégio.
Noutras palavras: Sem Minas, Serra não chega a lugar nenhum. Sem São Paulo, Aécio tampouco teria chances de chegar ao Planalto.
Por isso, o governador mineiro esforça-se para jogar limpo com o colega paulista. Mantém com Serra uma linha direta. Admira-se da boa relação que construíram.
Aécio diz que não é movido a obsessão, mas a bom senso. Declara que não hesitará em apoiar Serra se ficar claro que é a melhor opção.
Apenas acredita que não deve se render antes de “esticar um pouco a corda”, expondo à
exaustão as suas razões.
Aécio calenta a onírica expectativa de que Serra se convença de que talvez sirva melhor ao partido e a si próprio concorrendo à reeleição para o governo de São Paulo.
Nesse caso, haveria um acordo.
Do contrário, restariam as prévias.
Uma fronteira à qual Aécio diz que só irá se concluir que tem chances de vencer internamente.
Hoje, acha que tem.
Aécio disse a assessores que vai encomendar, nos próximos dias, uma pesquisa. Deseja tirar uma licença do cargo de governador. Coisa de 15 dias. Antes, quer saber se os mineiros não vao torcer o nariz para a ausência temporária do governador.
Daí a pesquisa. Se o resultado for favorável, Aécio planeja usar o tempo livre para correr o Nordeste, uma região onde só 10% dos eleitores dizem conhecê-lo.
Quer ver e, sobretudo, ser visto.
Deseja mostrar que continua no páreo. Faria o ciclo de viagens em novembro. Espera que, em dezembro, o grão-tucanato se reúna para decidir entre ele e Serra.
À falta de acordo, a prévia seria feita em janeiro.
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