Enredo do Senado evoluiu do suspense para o thriller
Antes de mergulhar no recesso, o Senado encenava um roteiro de suspense.
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Todos se perguntavam: qual será a próxima denúncia contra Sarney?
De volta das férias, os senadores imprimiram à cena um ritmo de thriller.
A indignidade é tamanha que até atores indignos já posam de indignados.
A coisa começou a esquentar no instante em que Pedro Simon subiu à tribuna.
Pregou, uma vez mais, a renúncia de Sarney ao cargo de presidente.
Disse que o “gesto de grandeza” deveria ocorrer imediatamente.
Antes da reunião do Conselho de Ética, marcada para a tarde de quarta (5).
Do contrário, disse, a encrenca do Senado assume contornos “imprevisíveis”.
Renan Calheiros, que costuma operar à sombra, levou o rosto à vitrine.
Pediu um aparte a Simon. Ironizou o espírito pacificador do orador.
Renan foi à jugular de Simon. Disse que o colega ataca Sarney há 35 anos.
Insinuou que Simon guarda no freezer uma mágoa. Queria ser o vice de Tancredo.
E não se conforma com o fato de o destino ter conspirado a favor de Sarney.
É invenção, reagiu Simon. Seguiu-se um acalorado e deprimente bate-boca.
Renan mirou abaixo da linha da cintura. Disse que Simon tem duas caras.
Em reuniões da bancada do PMDB, defendera a candidatura de Sarney.
Estabelecida a crise, disse Renan, Simon foi a Sarney para solidarizar-se.
Simon engoliu a seco. E disse que mudança de lado é coisa de Renan.
Lembrou que Renan participara da gênese da candidatura de Collor.
Depois, abandonou-o antes do impeachment. Collor abespinhou-se.
Pediu a Mão Santa, que presidia a sessão, o direito de se defender.
Collor disse: "Engula suas palavras e as digira como achar conveniente".
Postou-se ao lado de Sarney. O mesmo que, no passado chamara de “ladrão”.
Jarbas Vasconcelos instou Mão Santa a mandar retirar da ata as expressões de Collor.
Mão Santa disse que não vira no linguajar collorido nada de ofensivo.
Cristovam Buarque apelou a Simon que não engula nada. Fale, fale e fale.
“Sua credibilidade é porque não engole. Diz, fala, acusa. Mantenha-se assim”.
Arthur Virgílio e Álvaro Dias também saíram em defesa de Simon.
Garibaldi Alves apelou a Collor para que refizesse suas declarações.
Collor não se deu por achado. Disse que Simon o espicaça há tempos.
"Quero lamentar os termos que usei para canalizar minha indignação...”
“...Lamento, mas não retiro [...]. Não posso retirar uma palavra do que disse".
Numa segunda intervenção, Collor desmentiu Simon.
O senador dissera que, candidato, Collor o visitara no Rio Grande do Sul.
Convidara-o para compor a sua chapa, como candidato a vice.
“É mentira”, indignou-se Collor. “Isso jamais me passou pela cabeça”.
Renan também voltaria à carga. Lembrou que Simon fora ministro de Sarney.
Sob Simon, disse ele, a Agricultura fora acusada de importar carne ilegalmente.
“Nem por isso o presidente Sarney pediu a Vossa Excelência que renunciasse”.
“É mentira”, foi a vez de Simon reagir. Disse que, à época da denúncia, já não era ministro.
Em timbre acusatório, Renan lançou no ar uma pergunta enigmática:
“Vossa Excelência conhece a Pôr do Sol?", indagou um par de vezes.
A interrogação ficou boiando na atmosfera crepuscular do plenário do Senado.
Sarney não testemunhou o rififi. Passara pelo plenário. Mas batera em retirada.
“Imagine ele [Sarney] como árbitro desse debate”, disse Cristovam.
Restou evidenciado que o Senado está longe de chegar a uma definição.
Sarney e Cia. parecem movidos pelo insano desejo de conhecer o caos.
Escrito por Josias de Souza
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