Entrevista Guillermo Zuloaga
O dono do canal de televisão Globovisión, o único que ainda pode criticar Hugo Chávez, diz que o controle total da informação é o que falta para seu país virar ditadura assumida
Como uma aldeia de Asterix nos trópicos, resta apenas um canal de televisão que não foi fechado ou cooptado por Hugo Chávez na Venezuela. É a Globovisión, que transmite notícias em tempo integral para as três maiores cidades do país.
Desde que, em 2007, o regime chavista não renovou a licença da RCTV, querida por suas novelas, a Globovisión tornou-se a solitária voz independente a transmitir em sinal aberto. Não se sabe por quanto tempo.
Chávez trama o tempo todo para fechá-la e, com os freios e contrapesos do estado de direito cada vez mais minados, pode acabar conseguindo. A tática, no momento, é conhecida: inundar a Globovisión com processos de todo tipo.
Seu dono, Guillermo Zuloaga, 67 anos, tem sofrido diversas acusações esdrúxulas, que vão de caçar animais silvestres a especular com preços de automóveis.
Proibido de sair da Venezuela, Zuloaga falou a VEJA, por telefone.
Chávez já ameaçou encerrar as operações da Globovisión diversas vezes. Por que até agora não conseguiu fazer isso?
Entre todos os sessenta processos administrativos a que estamos respondendo, não há um sequer que tenha embasamento legal para levar ao fechamento do canal. Além disso, Chávez parece ter se conscientizado do custo político de tomar tal iniciativa. Uma parcela muito grande da população concorda com nossa causa. Pesquisas de opinião pública mostraram que cerca de 80% dos venezuelanos querem que nossa empresa continue funcionando. Recentemente, o governo nos impôs uma multa equivalente a 8 milhões de reais, alegando que não pagamos alguns impostos entre 2002 e 2003. Mentira. Fizemos uma campanha para angariar o dinheiro da multa e 400.000 famílias venezuelanas nos ajudaram.
Chávez fechou a RCTV em 2007, independentemente das manifestações que ocorreram contra ele.
O presidente é totalmente imprevisível. A nosso favor, pesa o fato de que nossa concessão só acaba em 2015. No caso da RCTV, o governo conseguiu o que queria porque simplesmente não renovou a concessão.
Qual seria o impacto do fechamento da Globovisión?
Somos a única janela na televisão em que o cidadão pode ver o que acontece no país. Todos os outros canais foram neutralizados por Chávez ou são totalmente complacentes com ele. Nos nossos concorrentes, os jornais só são transmitidos a altas horas da noite. Não há mais notícias em horário nobre. Dessa forma, caso haja uma informação que, mesmo inicialmente considerada benéfica, produza um efeito negativo ao governo, eles sabem que as consequências não serão tão grandes.
Que tipo de notícia não aparece nos outros canais?
Há inúmeros conflitos trabalhistas nas empresas que foram nacionalizadas.
Os diretores chavistas assinaram acordos coletivos e encheram os funcionários de promessas. Como as companhias estão todas fracassadas economicamente, eles agora não conseguem cumprir o que foi combinado. Também somos os únicos a entrevistar acadêmicos e pesquisadores que não compactuam com o governo.
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