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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O homem no comando do Conselho de Ética no Senado Federal

Vida (boa e mansa) e obra (rala e rasa)
de um pai da pátria no inverno


Até descobrir que seu maior trunfo no Congresso é a certidão de nascimento, o senador Paulo Duque escondeu a idade com cuidados de ex-miss balzaquiana. “Aniversário: 02/10″, limita-se a informar o site do parlamentar nascido no Rio de Janeiro em, só se soube agora, 1928. Foi provavelmente a vaidade que o aconselhou a também omitir a condição de casado (com Consuelo, ex-vereadora em Maricá). Foi certamente a esperteza que o levou a camuflar a condição de 2° suplente no exercício do cargo. Quem lê o site acha que Duque ocupa a vaga do titular Sérgio Cabral, que trocou o Senado pelo governo do Rio.

O interino não conta que ainda estaria no limbo dos políticos que se aposentam sem deixar saudade se Cabral não tivesse nomeado para uma secretaria de Estado o 1° suplente Régis Fichtner. Os registros biográficos nem sequer mencionam a vida (mansa e boa) e a obra (rala e rasa) do deputado estadual permanentemente a serviço do governador Chagas Freitas, um campeão do fisiologismo político nos anos 70. Abstraídas tais omissões, o resto está lá.

Quem quiser olhar de perto o carioca Paulo Hermínio Duque Costa, por exemplo, deve bater à porta do gabinete 2 da Ala Senador Afonso Arinos. Quem preferir mandar mensagens pode remetê-las ao endereço eletrônico paulo.duque@senador.gov.br, ou enviá-las pelo fax 61-3303.2736. Quem optar pelo telefone deve discar um dos sete números disponíveis: 61-3303.2431 a 2437. E meia dúzia de cliques saciarão a curiosidade dos interessados em saber o que andou fazendo no Senado o novo presidente do Conselho de Ética .

Em janeiro de 2007, a volta ao Rio de Sérgio Cabral e Régis Fichtner transformou-o em herdeiro do gabinete, da residência oficial, dos 15 salários anuais, das boladas adicionais e dos incontáveis privilégios que contemplam um senador da República. Cauteloso, o novato esperou até 20 de junho para subir à tribuna. Terminado o discurso besuntado de elogios a Renan Calheiros, então agonizando na presidência da Mesa, Duque voltou ao plenário já com a patente de sargento da tropa de choque governista, conferida pelo colega alagoano sempre grato aos comparsas.

“Meu estilo é atender ao povo”, disse Paulo Duque no fim de semana em entrevista ao Estadão. Por enquanto, já pendurou nos cabides do funcionalismo público mais de 5 mil parentes, amigos, vizinhos, agregados, simpatizantes e transeuntes com título de eleitor. ”Meu estilo é o feijão com arroz”, explicou. “Cuido da bica d”agua, interno quem precisa, nomeio gari. Dou valor a isso”. Também cultiva a mania de requerer a transferência para o Estado do Rio de prédios pertencentes à União.

Duque não é de muitas palavras. Em 2007, discursou 13 vezes e fez dois apartes. Em 28 de agosto, homenageou a Santa Casa de Misericórdia do Rio. Na tarde seguinte, com cinco dias de atraso, festejou o 54° aniversário da morte de Getúlio Vargas. Em agosto, saudou num palavrório só o Piauí, o Rio Grande do Norte e o Pará. Em 12 de dezembro, encerrou as atividades do ano requerendo a entrega da Medalha de Distinção de Primeira Classe a um cidadão de 5 anos de idade, Riquelme Wesley dos Santos, que salvou uma menina de morrer num incêndio em Santa Catarina.

Até virar presidente do Conselho de Ética neste começo de julho, Duque faria 49 intervenções em quase dois anos e meio. Em 2009, o senador do PMDB inscreveu-se na lista de oradores três vezes. Em 17 de março, elogiou os funcionários da Fiocruz. Em 22 de abril, pediu que o Edifício Oscar Niemeyer fosse incorporado ao patrimônio do governo fluminense. Em 25 de junho, leu da tribuna a nota oficial em que José Sarney jurou não ter feito o que fez. E então Renan Calheiros identificou o homem certo para o comando do Conselho de Ética.

“Confesso que não sei por que está havendo esse bombardeio todo em cima do Sarney, que aliás está agora pegando em mim”, fingiu espantar-se na entrevista ao Estadão. Se o Senado não perdeu a vergonha de todo, se os brasileiros decentes não capitularam de vez, Duque ainda não viu nada.

Por Augusto Nunes

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