O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abrindo mão do decoro mínimo que se espera de um presidente da República — porque ele continua presidente mesmo quando faz campanha para a sua candidata —, foi a TV ontem acusar o tucano José Serra de “partir para a baixaria”.
Curiosamente, alguns textos na imprensa dizem que ele partiu para o “contra-ataque”.
Um mínimo de decência e de apreço pelo significado das palavras nos informa que o “ataque” foi a quebra dos sigilos e a tentativa de envolver Verônica Serra numa das tramóias a que o PT se habituou.
O “contra-ataque”, se houve, foi o do tucano. Lula apenas junta um ato indecoroso a outro.
Se querem saber, acusar o adversário — adversário de Dilma, é bom deixar claro, já que Lula não disputa a eleição — de “partir para a baixaria” é muito menos grave do que qualificá-lo como o “candidato da turma do contra”, referindo-se, então, aos milhões de eleitores que votarão em Serra como cidadãos se segunda categoria, gente desprezível que não “tem amor pelo Brasil”.
É uma violência com o próprio processo democrático.
Na democracia, a “turma do contra”, de que fala Lula, é tão legítima quanto a “turma a favor”.
Afirmar que o adversário é aquele que “torce o nariz para tudo” desqualifica a oposição, sem a qual não existe regime democrático, uma vez que se pode dizer “sim” na Coréia do Norte, em Cuba ou no Irã.
A fala de Lula explica muita coisa.
Quando classifico certas posturas políticas de “esquerdopatia” e seus praticantes de “esquerdopatas”, não o faço por acaso.
O esquerdista — e pouco importa que forma esse esquerdismo assuma nas circunstâncias dadas —
é o psicopata da política.
Um psicopata não se compadece da dor alheia porque o outro, para ele, é “coisa”; na política, o esquerdopata age da mesma maneira.
É preciso esvaziar o adversário de sentido para, então, eliminá-lo.
Há oito anos Lula vem promovendo, por exemplo, o desmonte do governo FHC e da própria figura do ex-presidente.
Usou a máquina pública para construir uma fabulosa teia de mentiras sobre si mesmo e sobre o antecessor.
O Brasil, segundo a propaganda, começou com Lula.
Ontem, calculem!, no 7 de Setembro, Dilma Rousseff chegou a afirmar que o país teve a sua segunda independência ao “romper com a tutela do FMI”.
Em primeiro lugar, não rompeu com o Fundo, mas pagou o que devia.
Em segundo, nunca houve tutela.
Mas e daí?
Isso é parte da farsa petista.
Transformado o outro em coisa, então ele pode ser eliminado.
E aí vale tudo: mensalão, aloprados, dossiês, invasões de sigilo, qualquer coisa.
Se Serra representa “a turma do contra” e as pessoas que “não amam o Brasil”, então é evidente que ele tem de ser banido da política, não importa por quais meios.
E seus eleitores são, igualmente, expressão do mal.
O que se viu ontem na TV foi um troço fabuloso, único, verdadeiramente inaugural: os petistas quebraram o sigilo de tucanos e da filha do presidenciável da oposição, mas Lula acusa a “baixaria” de Serra e fala em “calúnias e mentiras”.
E, como vimos, não foi ela a responder. O “macho Alfa” saiu em defesa da “mulher”, que estaria sendo vítima de preconceito.
Caso Dilma seja eleita, vocês podem se preparar para emoções fortes.
A máquina que praticou esses crimes em série contra a Constituição não vai parar.
Assim como o sigilo dos tucanos e de Verônica Serra serviu à guerra suja, o de muitos outros brasileiros também servirá.
Sempre haverá Lula para ir à televisão e exorcizar os demônios da “oposição”.
E que fique claro:
o monstro ainda não se criou; apenas dá os seus primeiros passos.
o monstro ainda não se criou; apenas dá os seus primeiros passos.
08/09/2010
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