Celso Arnaldo e Augusto Nunes
Celso Arnaldo prova em mais um texto arrasador que, quando Dilma Rousseff resolve acender a luz, os brasileiros são tungados no escuro.
Confira:
Dilma Luz para Todos é seu nome. Uma das coisas que admiro nela é sua capacidade de esclarecimento pleno de todas as dúvidas — e são incontáveis –- que pairam sobre sua candidatura e seu provável futuro governo.
Sempre que surge uma controvérsia, uma polêmica, uma declaração desastrada, um fantasma do passado, Dilma vem para explicar e a tudo alumiar.
A verdade límpida instantaneamente se acende aos olhos de todos – da massa ignara aos leitores de José Sarney.
A manchete da Folha de ontem era forte:
“CONSUMIDOR DE LUZ PAGOU 1 BI POR FALHA DE DILMA”.
Grave, gravíssimo, prejuízo enorme justamente para o povão que vai sagrá-la presidente.
Resumindo: a tarifa social de luz, criada em 2002 ainda no governo FHC, isentando consumidores de baixa renda, não foi implementada em 2003 pela então ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff – que, alertada várias vezes pelo TCU, fez-se de surda.
Só em 2006 a lei saiu do papel, e em termos. No período que lhe cabe nesse atraso, 1 bilhão de reais foram tungados da patuleia, como diria Elio Gaspari.
Se há algum assunto que Dilma domina -– se há, repita-se -– esse é energia.
Microfones a postos, ela se apresenta, mais maquiada do que de costume, talvez para disfarçar o abatimento pela grave pecha de prevaricação. Mas a fala, como sempre, é cara lavada – sem um pingo de retoque:
“Eu queria hoje fazê uma avali…uma observação sobre uma matéria que me surpreendeu sobre a questão da baixa renda na área de energia elétrica”.
Nada como conhecer um tema a fundo: na abertura, Dilma já vai à raiz da questão – o problema não envolve a energia elétrica na baixa renda, mas a baixa renda na energia elétrica. A energia elétrica está ganhando pouco – daí os apagões, uma espécie de operação-tartaruga.
“Primeiro cabe esclarecê em relação à matéria que em 2002 foi feito uma lei chamada 10438”.
Se a lei foi feito, foi malfeito. Deveria ter sido feita. Mas o que mais chama a atenção é o “nome” da lei – um número. Eu não disse que Dilma é Luz?
Daqui pra frente, é cada um por si: se os colaboradores da coluna quiserem se arriscar no restante do esclarecimento feito por Dilma, pelos próximos 10 minutos de vídeo, sugiro acender uma tocha de paciência olímpica.
E perdoem-lhe os frequentes “kilowatt horas/mês” –
Dilma é uma mulher sem medidas.
Ouvindo assim por alto parece que ela culpa FHC pela tungada. Mas vou direto aos 10m40s do vídeo, quando se aproxima o grand finale:
“Eu tô cruzano baxa (sic) renda com consumidor (não maldem, por favor, o gesto de Dilma simbolizando cruzamento) de energia.
Então, se eu tivesse o baxa renda, todo o cadastro do baxa renda, eu baxo todo ele para as distribuidoras e as distribuidoras só vão botá aquilo que tá no cadastro”.
Mas esse tal “baxa renda”, segundo ela, é inocente. Alguém o colocou nessa história à revelia do governo. Dilma promete investigar de onde tiraram a informação:
“Agora eu vou levantá a fala que diz que o governo federal escolheu isentá quem ganhava até 80 kilowatts horas/mês (sic). Não é critério do nosso governo. Está na lei aprovada em 2002.”
Como se vê, a lei “chamada” 10438 instituiu uma nova moeda no Brasil – o kilowatt. Mas o culpado por ela ter demorado quatro anos para entrar em vigor é o tal cadastro:
“Eu não sei se ocês sabem como funciona o cadastro. Deixa eu só esclarecê isso. A gente paga, é, é, a gente faz… nós não conseguimo fazê o cadastro. Nós”.
Eu não disse que seria esclarecedor?
Sejamos justos: não é outra história quando Dilma conhece o assunto?
A doutora em energia, quando trata da sua especialidade, ensina aos brasileiros o que é um apagão mental.
06/09/2010
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