Estelionato
Por pitacos
A imprensa traz a informação de que a assessoria de Lula Dilma já estuda medidas duras na economia, em particular na área fiscal.
O pressuposto é que o situacionismo já levou a fatura eleitoral.
Dilma Lula iniciará (isso mesmo, no singular, pois de trata de uma única entidade) um eventual governo sob o risco de crescimento da inflação e com a herança da elevação dos gastos governamentais com custeio.
O objetivo é apertar os gastos públicos, sobretudo com o funcionalismo e cumprir a meta de ter um superávit primário de 3,3% do PIB.
Não se trata, nesta nota, de discutir a correção das medidas eventualmente adotadas por um eventual governo vitorioso, mesmo porque, a despeito dos prognósticos, existe a realidade mutante e, queiram ou não alguns, as urnas.
O que deve ser realçado é a prática do lulopetismo de apresentar-se ao eleitorado com propostas paradisíacas e, no governo, adotar outras.
Na campanha eleitoral de 2002, Lula tinha a chave do paraíso, para libertar os brasileiros do inferno fernandista.
Nos dias seguintes à posse, disse que tudo o que defendera na oposição não tinha validade. Adotou medidas duras na área econômica, até para acalmar o tal “mercado”.
Reconheça-se a verdade. Essa prática de edulcorar-se durante as eleições e mostrar as garras depois não é privativa do lulopetismo.
A cultura política brasileira aceita e consagra a votação não em propostas programáticas, mas em personalidades e, quase sempre, em quimeras. Não existe o costume de comparar o prometido com realizado. A memória é curta.
Não é preciso cruzar a linha do Equador para citar países com cultura democrática muito mais avançada. No Chile as eleições se dão em torno de grandes propostas, personalizadas em alianças políticas, principalmente de centro-esquerda e de centro-direita.
A contribuição particular do lulopetismo para a despolitização da política é expressiva. Essa corrente reivindicou para si práticas diferenciadas e éticas, aliás, as mais diferenciadas e as mais éticas. Não é preciso gastar teclado com o que resultou.
É clássico o exemplo da campanha de Marta Suplicy, em 2004, contra Serra. A saúde da capital de São Paulo estava na porta da UTI. No entanto, Duda Mendonça e Marta Suplicy centralizavam suas propostas em maquetes futuristas de unidades de saúde de fazer inveja aos habitantes da Dinamarca. Felizmente a campanha de Serra reduziu a pó a enganação.
Na atual campanha, Lula Dilma apresenta um Brasil de fazer inveja à Noruega e à Suíça, em qualquer terreno. É verdade que é preciso avançar aqui e ali, mas para entrar em definitivo no paraíso, bastam pequenos ajustes, “que eu vou fazer”, assegura a ungida.
Lula Dilma não ousa correr o risco de apresentar os problemas reais da economia e deixar claras as medidas duras de ajustes necessários, se vencer.
A imagem da felicidade estaria comprometida.
Para não se pensar que este opinativo tem alinhamento automático, lembre-se o recente episódio do aumento dos aposentados. Serra deu o recado. Apoiaria qualquer posição do presidente, inclusive se vetasse. Recado mais claro, impossível. Se fosse oportunista, sairia em defesa da sanção, a qualquer custo. Faturaria se Lula aprovasse e também se negasse, pelo desgaste que poderia sofrer.
As informações veiculadas pela Folha sobre eventuais duros apertos numa eventual gestão de Lula Dilma a partir de janeiro não são desprovidas de sentido. Lula abriu o caixa para ajudar a eleger sua ungida. Uma vez vitoriosa, ela tem de fazer os apertos para credenciar-se perante o “deus mercado”.
Consagra-se, sem pruridos, o estelionato eleitoral. Vende-se um peixe e se entrega outro.
A cultura política do país que se exploda.
24/08/2010
0 comentários:
Postar um comentário