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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Farc, o PT e os objetivos de longo prazo do Foro de São Paulo - 3


As Farc, o PT e os objetivos de longo prazo do Foro de São Paulo


2C Do atual site do PT, atestando a participação das Farc como partido integrante do Foro, não como um mero partido convidado.

 
Partidos de esquerda da América Latina e Caribe terão encontro no próximo ano
 
O Grupo de Trabalho do Foro São Paulo reuniu-se no mês passado em Manágua, na Nicarágua com o objetivo de preparar o IX Encontro dos Partidos Latino-Americanos e Caribenhos de Esquerda, que será em fevereiro do ano que vem, na própria Nicarágua.
 
O PT e os demais partidos integrantes do Foro, além dos partidos convidados à reunião, participaram das comemorações do XX aniversário da Revolução Popular, promovida pela Frente Sandinista.
 
O Grupo de Trabalho fez uma análise sobre a situação política e econômica da região, da crise do modelo neoliberal que sob os chamados "efeito-tequila, samba ou tango acaba escamoteando a realidade que empobrece os países lationamericanos e concentra a riqueza nas mãos dos países desenvolvidos.
 
Durante a reunião, tratou-se também da dolarização das nossas economias, que nos converte em reféns do Tesouro americano e de sua política monetária, com altas taxas de juros.

O Grupo de Trabalho constatou que os partido do Foro têm desenvolvido política de alianças que tem o objetivo, por um lado de garantir transições pacíficas à democracia e, por outro, de consolidar os espaços de poder até agora alcançados nos processos eleitorais, destacando-se os casos do México e da Nicarágua.
 
Colômbia -
 
Foi tratado com especial ênfase o caso das negociações entre a FARC e o governo colombiano para um acordo de paz que garanta a democracia e a justiça social, a abertura do diálogo entre o ELN e o governo para facilitar o desenvolvimento da comunicação nacional. Neste sentido, o Foro repudiou veementemente qualquer tentativa de intervenção norte-americana no conflito armado que ocorre no país...
 
Participaram da reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, além do PT, o PRD, do México; FARC, Partido Comunista e ELN, da Colômbia; Partido Comunista de Cuba; Partido Comunista de Guadalupe; URNG, da Guatemala; e FSLN, da Nicarágua. Estiveram presentes também o Partidos dos Trabalhadores do México e o PSD-Frepaso, da Argentina, que foram convidados especialmente, em decorrência do Seminário do Cone Sul. Compareceram ainda representantes do Partido Social-Democrata, da Áustria; Partido Comunista da França e Partido Socialista de Esquerda da Noruega...
 

2D Carta de apoio das FARC ao então recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva

Publicada na Folha de São Paulo, em 5 de dezembro de 2002  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0512200207.htm (demonstrando que, ao se pronunciar contra as Farc durante a campanha, Lula somente despistava as atenções).
 
Carta das Farc manifesta apoio a Lula, Gutiérrez, Venezuela e Cuba
DA REDAÇÃO
 
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro de esquerda do país, expressaram ontem sua solidariedade ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma carta enviada ao Fórum de São Paulo, organização de partidos de esquerda latino-americanos.
O fórum, idealizado pelo PT, realiza um encontro na Guatemala. Na carta, a guerrilha também manifestou apoio a Cuba, à Venezuela, aos argentinos, aos palestinos e ao presidente eleito do Equador, o coronel esquerdista Lucio Gutiérrez.
Durante a campanha eleitoral, Lula criticou a atuação das Farc e fez questão de desvincular o PT da guerrilha colombiana.
A carta das Farc tinha data de ontem e foi assinada na clandestinidade pelo chefe da comissão internacional do grupo, o ex-negociador de paz Raúl Reyes.
A mensagem foi difundida no dia em que o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em visita oficial a Bogotá, se encontrou com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e com a ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez.
A visita de Powell, a primeira à América do Sul desde os atentados terroristas aos EUA em 11 de setembro do ano passado, serviu como demonstração de apoio aos esforços do governo colombiano na luta contra o narcotráfico e os grupos armados ilegais.
Ela indica a possibilidade de uma ajuda financeira adicional para o Plano Colômbia, com o qual os EUA já contribuem com mais de US$ 1,3 bilhão.
 

2E Entrevista do supracitado Raúl Reyes, então chefe da comissão internacional das Farc, como afirmou o artigo da Folha de São Paulo reproduzido acima

Em  24 de agosto de 2003, Reyes declarou abertamente a ligação das Farc tanto com Lula como com Chávez: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2408200318.htm.
[...]
Folha - Vocês têm buscado contato com o governo Lula?
Reyes - Estamos tentando estabelecer -ou restabelecer- as mesmas relações que tínhamos antes, quando ele era apenas o candidato do PT à Presidência.
Folha - O sr. conheceu Lula?
Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.
Folha - Houve uma conversa?
Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.
[...]
Folha - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?

Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.
Folha - O sr. pode nomear as mais importantes?
Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças; os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...
Folha - Quais intelectuais?
Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros.
[...]
Folha - Que relação as Farc mantêm com o governo venezuelano?
Reyes - Estamos propondo ao governo de Hugo Chávez uma explicação sobre a política das Farc em relação aos países vizinhos.
Folha - Existe contato ou não?
Reyes - Temos informações muito positivas sobre Chávez, um bolivariano patriota que luta pela dignidade do seu povo. Nós o admiramos muitíssimo [...]”


3. Apagando as Fontes

3A O site original do Foro de São Paulo era http://www.forosaopaulo.org (sem a preposição “de”), já não mais acessível. Foi dessas e outras fontes que o sítio Mídia sem Máscara, também utilizando a Wayback Machine, quando necessário, retirou as Atas do Foro de São Paulo http://www.midiasemmascara.org/arquivo/atas-do-foro-de-sao-paulo/7.html. O domínio original pertencia, pelo menos em 2007, ao Partido dos Trabalhadores, como pode ser verificado no “Who is” do site http://who.is/domain_archive-org/forosaopaulo.org/. Como se pode ver no mesmo link, o detentor do domínio está agora protegido pelo Whois Private Protection Service, serviço utilizado geralmente por pessoas físicas que não querem deixar seus dados pessoais expostos.  Mas por que o PT, ou seja lá quem possui o domínio atualmente, quereria esconder seu vínculo com o sítio?
 
[N.E] ATUALIZAÇÃO 23/08/2010
 
A posse do domínio explícita em nome do Partido dos Trabalhadores vai até 29/10/2009. A partir daí o proprietário ativou o serviço de proteção do whois, como atesta o screenshot do serviço DomainTools abaixo:
 
Sendo o registro de 29/10/2009:
 
E o de 21/12/2009, já protegido por sigilo:
 
3B Atualmente, o sítio http://www.forodesaopaulo.org (com a preposição “de” faltante no original) aparece como o oficial. O “Who is” desse site está disponível.
Infelizmente, mesmo o acesso ao site por meio da Wayback Machine pode ser impossibilitado através da disponibilização de um robô (um arquivo em formato .txt) na página de abertura, como é explicado aqui. Parece ser essa a razão por que há grande dificuldade em se acessar as atas do Foro de São Paulo nos sites originais.

4. Estratégia Revolucionária.

4A Matéria do Le Monde, conhecidíssimo jornal francês, durante as eleições que levaram Lula ao poder:
 
 
"En privé, Lula, âgé de 56 ans, pense tout haut que l'élection est une 'farce' et qu'il faut en passer par là pour prendre le pouvoir."

Tradução:
 
"Em particular, Lula, com 56 anos de idade, pensa alto que a eleição é uma 'farsa' pela qual é preciso passar para tomar o poder."
 
4B À mesma época, foi publicada a seguinte entrevista de Marco Aurélio Garcia. assessor especial para política internacional de Lula, no  La Nacion, diário da Argentina:
 
http://www.lanacion.com.ar/02/10/05/dx_437863.asp (link para a entrevista completa. Para acessá-lo, no entanto, será necessário cadastrar-se no site)
 
"...Pero destacó: "Brasil se movió hacia la izquierda. La impresión de que el PT se trasladó al centro surge de que hemos tenido que asumir compromisos que están en ese terreno. Eso implica que tendremos que aceptar inicialmente algunas prácticas. Pero eso no es para siempre...".

4C Entrevista de José Genoíno ao jornal O Estado de São Paulo, publicada em 19.10.2003.
 
 
Até Lenin fez concessões a multinacionais'
 
Genoino nega que PT aprofunde modelo de FHC, mas diz que é preciso ceder para atingir outro modelo
 
Agliberto Lima/AE
 
PATRÍCIA VILLALBA e CONRADO CORSALETTE
 
O presidente do PT, José Genoino, recorre a ícones da esquerda para responder às críticas ao governo de Lula e negar que, no poder, o partido esteja navegando pelos mares do neoliberalismo. Na defesa de que o PT é, de fato, um partido de esquerda, o ex-radical e agora moderado Genoino não hesita em comparar Lula a Lenin: "Depois da Revolução (Russa) de 1917, Lenin fez concessões a multinacionais sobre exploração do petróleo de Baku, porque não tinha dinheiro para explorar."
 
Genoino nega veementemente que o PT esteja aprofundando a política econômica do governo Fernando Henrique. Citando a tão recorrente "herança maldita", ele argumenta que a equipe econômica teve de "segurar o boi pelos chifres" para pôr o País no rumo certo. Na mesma linha, ressalta que o PT não foi eleito para fazer rupturas, mas para mudar o País gradualmente. Por isso, lamenta a atitude "precipitada" de alguns companheiros que acham que o sonho já acabou - como o deputado Fernando Gabeira, que acaba de sair do partido.
 
"Não adianta sonhar e ficar por isso mesmo. E para mudar, tem de sonhar com os pés no chão."
 
Nesta entrevista ao Estado, Genoino fala dos planos do PT para continuar na esquerda, mesmo sendo governo:
 
Estado - O que o sr. diria aos petistas que talvez estejam pensando como o deputado Fernando Gabeira, que sonharam o sonho errado?
 
José Genoino - A quase totalidade dos petistas, pelas pesquisas que nós temos e pelas plenárias que são realizadas pelo País afora, tem confiança no governo. A base entende as dificuldades que o governo está vencendo, confia na força que o partido está dando ao governo. Portanto, eu acho que o sentimento da militância do PT é de realizar o sonho. Os petistas que esperaram e que lutaram 23 anos por esse momento não vão baixar a cabeça na primeira dificuldade.
 
Estado - Que tipo de contribuição o governo Lula e o PT deram até agora para a mudança do pensamento hegemônico, do neoliberalismo? A política econômica manteve-se a mesma.
 
Genoino - Não. Nós não estamos realizando a política neoliberal. Nós estamos criando no Brasil uma maneira de governar, com responsabilidade. Fomos eleitos para fazer mudanças processuais e graduais. O PT não ganhou a eleição para fazer rupturas. E nós temos uma correlação de forças que não é maioria de esquerda. Por isso, nós governamos com a esquerda, centro-esquerda e setores de centro. Esse é o resultado do processo democrático.
 
Estado - Mas o que diferencia o PT no governo?
 
Genoino - Em primeiro lugar, é um governo de negociação. Nós negociamos com governadores, com empresários e com o Congresso. Nós sabemos negociar mantendo a linha central do que nós queremos. Sinceramente, eu imaginava que as dificuldades seriam maiores. Foi isso que eu disse pro Gabeira: 'Estamos há 23 anos esperando por esse momento e na primeira dificuldade a gente deixa de sonhar?'
Estado - Em resumo, vai demorar para o senhor acordar desse "sonho"?
 
Genoino - Eu não tenho sonho errado. Eu sou um sonhador com os pés no chão, quero realizar o sonho. Aliás, o marxismo é que disse que pra a gente mudar o mundo, em vez de fazer abstração, tem de mudar. Não adianta sonhar e ficar por isso mesmo.
 
Estado - Quando o sr. imaginou as dificuldades, pensou que muitas delas viriam justamente do PT?
 
Genoino - Claro que sim. Nós sempre avaliávamos que haveria um tensionamento com certos segmentos do PT. É natural que tenha um tensionamento entre o ato de governar do PT e a experiência do PT. As pessoas estão se posicionando muito mais por razões político-ideológicas do que por razões técnicas.
 
Estado - Mas quando o PT era oposição, não praticava a oposição ideológica? Descartar a ideologia hoje, não seria uma nova versão do "esqueça o que eu escrevi" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
 
Genoino - Não, pelo contrário. As idéias, os valores, as causas e os sonhos compõem o ideário do PT. O PT nunca foi vinculado a uma vertente ortodoxa da esquerda, não nasceu do muro.
 
Estado - Mas em algumas questões não há como não ser maniqueísta. Ou você agrada aos empresários ou agrada aos trabalhadores. Por exemplo, na reforma trabalhista. Os empresários vão aplaudir a reforma trabalhista do PT?
 
Genoino - Eu acho que nós temos de fazer uma mudança na CLT garantindo com direitos permanentes férias, repouso semanal, 13.º salário e licença maternidade. O que a esquerda tem de pensar é que a política não é um lado destruir o outro. Você não pode fazer política moderna sem negociar.
 
Estado - Mas não é constrangedor os maiores aplausos para o governo virem dos empresários, dos banqueiros e até mesmo do ex-ministro Pedro Malan?
 
Genoino - Elogios a gente recebe de qualquer pessoa. As pesquisas que nós temos mostram que a maioria da população brasileira elogia o governo Lula. A média de avaliação positiva do PT varia 31% a 36% e a rejeição, de 11% a 13%. A hegemonia é um processo paulatino de convencimento. É o que o PT está construindo.
 
Estado - Está construindo ou está se aproveitando de um pensamento e se moldando a ele?
 
Genoino - Não. Nós somos oposição ao pensamento neoliberal, aos valores de que o mercado resolve todos os problemas. Nós estamos construindo um projeto de Brasil com outros valores e outros parâmetros. Agora, essa construção não foi feita na base de um choque nem de uma ruptura.
Estado - Mas não há como negar que na economia houve um aprofundamento da política de Fernando Henrique.
 
Genoino - Nós não estamos aprofundando. Tivemos de segurar o boi pelos chifres para poder sair dessa situação. Já disse para os meus companheiros que eles precisam ler uma das decisões do Lenin, depois da Revolução de 1917. Ele fez concessões a multinacionais sobre exploração do petróleo de Baku, porque não tinha dinheiro para explorar. O problema é o sentido político de tomar essas medidas. Você toma essas medidas no sentido de aprofundar o modelo ou no sentido de processualmente criar condições para outro modelo. Eu acho que faria muito bem a alguns críticos do PT a leitura de algumas decisões de quando houve rupturas e confrontos. Ainda bem que o nosso filósofo inspirador da esquerda dizia: 'A humanidade só se propõe a fazer tarefas realizáveis.'
 
Estado - Depois das concessões de Lenin, veio uma grande mudança, o comunismo. O que vem por aí?
 
Genoino - Um país democrático, socialmente justo e soberano.
 
Estado - Isto é genérico demais.
 
Genoino - Nós não temos uma definição de implantar o socialismo como um projeto econômico e político. O PT está no jogo democrático, representa uma grande renovação da esquerda justamente porque saiu daquela matriz ortodoxa.
 
No início do governo Fernando Henrique nós fizemos uma oposição muito fechada. Qual foi o resultado? Derrota em 1996, perdemos quase todas as prefeituras. O PT aprende.
 
Estado - Como é que se sentiria o deputado José Genoino no Congresso tendo como aliado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que foi da tropa de choque de Fernando Collor?
 
Genoino - Eu estaria muito feliz, como estou na presidência do PT, para defender um governo. Em relação a essas pessoas, você sabe que desde a minha experiência parlamentar eu era criticado porque me dava bem com todo mundo.
 
O deputado Roberto Jefferson apoiou Lula no segundo turno, apóia e vota com o governo. Está sendo bom pra quem? Para o PT e para o governo Lula.
 
Estado - O deputado Roberto Jefferson está sendo mais companheiro do que a senadora Heloísa Helena?
 
Genoino - Estou me referindo a aliados. Sobre esses companheiros do PT, eles deveriam manifestar suas opiniões e, na hora de votar, votar com o partido.
 
Se eu dissesse o que eles dizem do PT, para ser coerente, eu já teria deixado o partido. A política de esquerda tem lado, e não vamos abrir mão do nosso lado.
 
Estado - Apesar de Lula dizer que não é de esquerda?
 
Genoino - O Lula nunca foi um esquerdista e há uma diferença. Esquerda nós somos. Ser de esquerda hoje não é defender corporativismo. É defender uma sociedade justa.            
 
4D A entrevista ao jornal foi citada em outra entrevista com José Genoíno, no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/programa/pgm0957 (à direita, clicar em “Transcrição”).
 
Paulo Markun: Só [vou] terminar a pergunta. No início do governo Lula, o senhor deu uma entrevista para a Patrícia Villalba e Conrado Corsalette, do Estado de S. Paulo, cujo título era “Até Lênin fez concessões a multinacionais”. E lá pelas tantas, eles lhe perguntaram: “Como é que se sentiria o deputado José Genoino, no Congresso, tendo como aliado Roberto Jefferson, que foi da tropa de choque de Fernando Collor?” E o senhor declarou o seguinte: “Eu estaria muito feliz, como estou na presidência do PT, para defender um governo. Em relação a essas pessoas, você sabe que, desde minha experiência parlamentar, eu era criticado porque me dava muito bem com todo mundo. O deputado Roberto Jefferson apoiou o Lula no segundo turno, apóia e vota com o governo. Está sendo bom para quem? Para o PT e para o governo Lula”. Eu pergunto: não foi uma tática errada, essa, de se apoiar em partidos que não tinham nenhuma ligação com as idéias do PT? E que veio dar aonde deu?
 
José Genoino: Paulo, o povo brasileiro, quando votou no Lula, não votou na maioria da Câmara e na maioria do Senado.
 
Paulo Markun: Sim, o PT chegou a 20%...
 
José Genoino: Diziam que o governo Lula não ia se viabilizar, porque o PT não tinha capacidade de fazer alianças. Nós construímos uma aliança com os partidos que apoiaram o Lula no segundo turno, inclusive o PTB. Ampliamos essa aliança com o PMDB, e nós devíamos ter incluído o PMDB desde aquela época no governo, porque nós tínhamos um programa, que era a estabilidade para o país crescer; melhorar emprego e renda, respeitando os termos da "Carta aos Brasileiros” [assinada pelo candidato Lula, em 2002, assegurando que, caso eleito presidente, o PT respeitaria os contratos nacionais e internacionais]; viabilizar os programas sociais, que nós unificamos no [programa] Bolsa Família, com sete milhões de famílias, aumentamos a renda média para 75 mil; recuperar o papel público das estatais e dos bancos públicos – foram recuperados: BNDES é banco de fomento, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, os bancos regionais –; e votar as reformas pendentes no Congresso: votamos a reforma da Previdência, a reforma do Judiciário e agora precisa retornar a reforma tributária. Estas alianças, elas foram importantes para o governo, que tem maioria. Não é só para aprovar o que o governo quer, é também para impedir que se aprovem coisas contra o governo. E a esquerda já fez alianças, inclusive em guerra. O Vietnã estava em plena guerra e fazia aliança pontual com quem estava matando; a China fez alianças...
 
Paulo Markun: [interrompendo] Sim, o Stalin fez aliança para...
 
José Genoino: Nós temos que ter objetivos...
 
Eliane Cantanhêde: Deputado.
 
José Genoino: Eu negocio. Eu usei um lema, que também está nessa entrevista [no Estado de S. Paulo]. Eu negocio com qualquer pessoa, mas eu sei qual é o lado da mesa e qual é a cadeira em que eu me sento...
 
Eliane Cantanhêde: Deputado.
 
José Genoino: Portanto, o mal não é das alianças. Agora, nós temos que definir, mudando o sistema político partidário, fazer alianças com critérios, fazer alianças mais precisas, isso nós temos que fazer. O PT é um aprendizado permanente...
 
Mauro Chaves: [interrompendo] E faz parte disso...
 
José Genoino: O PT muda o Brasil, e o Brasil ajuda a mudar o PT...
 
4E Recomendações de Lênin em “Esquerdismo, doença infantil do comunismo – Ensaio de palestra popular sobre a estratégia e tática marxistas”, clássico escrito em 1920 e disponível online neste endereço: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/index.htm. Lênin reprova o simplismo e ingenuidade dos revolucionários radicais, que criticavam quaisquer alianças estratégicas com forças políticas mais conservadores.
 
Ao surgir em 1903, o bolchevismo herdou a tradição de luta implacável contra o revolucionarismo pequeno-burguês, semi-anarquista (ou capaz de "namoricar" o anarquismo), tradição que sempre existira na social-democracia revolucionária e que se consolidou particularmente em nosso país em 1900/1903, quando foram assentadas as bases do partido de massas do proletariado revolucionário da Rússia. O bolchevismo fez sua e continuou a luta contra o partido que mais fielmente representava as tendências do revolucionarismo pequeno-burguês (isto é, o partido dos "socialistas revolucionários") em três pontos principais. Em primeiro lugar, esse partido, que repudiava o marxismo, obstinava-se em não querer compreender (talvez fosse mais justo dizer que não podia. compreender) a necessidade de levar em conta, com estrita objetividade, as forças de classe e suas relações mútuas antes de empreender qualquer ação política. Em segundo lugar, esse partido via um sinal particular de seu "revolucionarismo" ou de seu "esquerdismo" no reconhecimento do terror individual, dos atentados, que nós, marxistas, rejeitávamos categoricamente. É claro que condenávamos o terror individual exclusivamente por conveniência; as pessoas capazes de condenar "por princípio" o terror da grande revolução francesa ou, de modo geral, o terror de um partido revolucionário vitorioso, assediado pela burguesia do mundo inteiro, já foram fustigadas e ridicularizadas por Plekhanov em 1900/1903, quando este era marxista e revolucionário. [cap.IV]
 
Em 1908, os bolcheviques ‘de esquerda’ foram expulsos de nosso partido, em virtude de seu empenho em não querer compreender a necessidade de participar num ‘parlamento’ ultra-reacionário...” [cap. IV]
 
0 parlamentarismo é uma forma de trabalho; o jornalismo é outra. O conteúdo pode ser comunista em ambas, e deve sê-lo, se os que trabalham num e noutro setor são verdadeiros comunistas, verdadeiros membros do partido proletário, de massas. Mas, tanto numa como noutra - e em qualquer esfera de trabalho no capitalismo e no período de transição do capitalismo para o socialismo - é impossível evitar as dificuldades e as tarefas originais que o proletariado deve vencer e resolver para utilizar em seu benefício pessoas que procedem de meios burgueses, para alcançar a vitória sobre os preconceitos e a influência dos intelectuais burgueses, para debilitar a resistência do ambiente pequeno-burguês (e, posteriormente, para transformá-lo por completo)”.[cap. IV]
 
“Em 1918, as coisas não chegaram à cisão. Os comunistas ‘de esquerda’ só constituíram, na ocasião, um grupo especial, ou ‘fração’, dentro de nosso Partido, e por pouco tempo. No mesmo ano, os mais destacados representantes do ‘comunismo de esquerda’, Rádek e Bukharin, por exemplo, reconheceram abertamente seu erro. Achavam que a paz de Brest era um compromisso com os imperialistas, inaceitáveis por princípio e funesto para o partido do proletariado revolucionário. Tratava-se, realmente, de um compromisso com os imperialistas; mas era precisamente um compromisso dessa espécie que era obrigatório naquelas circunstâncias.” [cap. IV]
 
“Imagine que o carro em que você está viajando é detido por bandidos armados. Você lhes dá o dinheiro, a carteira de identidade, o revólver e o automóvel; mas, em troca disso, escapa da agradável companhia dos bandidos. Trata-se, evidentemente, de um compromisso. Do ut des (‘dou’ meu dinheiro, minhas armas e meu automóvel, ‘para que me dês’ a possibilidade de seguir em paz). Dificilmente, porém, se encontraria um homem sensato capaz de declarar que esse compromisso é ‘inadmissível do ponto de vista dos princípios’, ou de denunciar quem o assumiu como cúmplice dos bandidos (ainda que esses, possuindo o automóvel, e as armas, possam utilizá-los para novas pilhagens). Nosso compromisso com os bandidos do imperialismo alemão foi semelhante a esse.” [cap. IV]
 
“Todo bolchevique que tenha participado conscientemente do desenvolvimento do bolchevismo desde 1903, ou que o tenha observado de perto, não poderá deixar de exclamar imediatamente, depois de haver lido tais opiniões: ‘Que velharias conhecidas! Que infantilidades de ‘esquerda’!’” [cap. V]
 
“É impossível conceber maior insensatez, maior dano causado à revolução pelos revolucionários ‘de esquerda’! Se hoje, na Rússia, depois de dois anos e meio de triunfos sem precedentes sobre a burguesia da Rússia e a da Entente estabelecêssemos como condição de ingresso nos sindicatos o ‘reconhecimento da ditadura’, faríamos uma tolice, perderíamos nossa influência sobre as massas e ajudaríamos os mencheviques, pois a tarefa dos comunistas consiste em saber convencer os elementos atrasados, saber atuar entre eles, e não em isolar-se deles através de palavras de ordem tiradas subjetivamente de nossa cabeça e infantilmente ‘esquerdistas’”. [cap. VI]
 
“[O]s comunistas ‘de esquerda’ são pródigos de elogios a nós bolcheviques. Às vezes dá-nos vontade de dizer-lhes: louvem-nos menos e tratem de compreender melhor a nossa tática, familiarizar-se mais com ela!...” [cap. VII]
 
“É surpreendente que, com semelhantes idéias, esses esquerdistas não condenem categoricamente o Bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas alemães ignorem que toda a história do bolchevismo, antes e depois da revolução de Outubro, está cheia de casos de manobra, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses!” [cap. VIII]
 
As pessoas ingênuas e totalmente inexperientes pensam que basta admitir os compromissos em geral para que desapareça completamente a linha divisória entre o oportunismo, contra o qual sustentamos e devemos sustentar uma luta intransigente, e o marxismo revolucionário ou comunismo. Mas essas pessoas, se ainda não sabem que todas as linhas divisórias na natureza ou na sociedade são variáveis e até certo ponto convencionais, só podem ser ajudadas mediante o estudo prolongado, a educação, a ilustração e a experiência política e prática...” [cap. VIII]
 
“... [R]enunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais), não é, por acaso, qualquer coisa de extremamente ridículo?” [cap. VIII]
 
“Colocar obrigatoriamente, a todo preço e imediatamente em primeiro plano a denúncia do Tratado de Versailles, antes da questão de libertar do jugo imperialista os demais países oprimidos pelo imperialismo, é uma manifestação de nacionalismo pequeno-burguês ... podemos e devemos aceitar, se for necessário, uma existência mais prolongada do Tratado de Versailles...a situação atual é de tal natureza, que os comunistas alemães não devem amarrar-se as mãos e prometer a renúncia obrigatória e indispensável ao Tratado de Versailles em caso de triunfar o comunismo. Isso seria uma tolice...”
 
“[Q]uanto à paz de Versailles, não estamos de modo algum obrigados a rechaçá-la a todo custo e, além disso, imediatamente. Amarrarmos as mãos antecipadamente, declarar abertamente ao inimigo, hoje melhor armado que nós, que vamos lutar contra ele e em que momento, é uma tolice e nada tem de revolucionário. Aceitar o combate quando é claramente vantajoso para o inimigo e não para nós constitui um crime, e não servem para nada os políticos da classe revolucionária que não sabem ‘manobrar’, que não sabem concertar ‘acordos e compromissos’ a fim de evitar um combate que todos sabem ser desfavorável”. [cap. VIII]
 
Depois da primeira revolução socialista do proletariado, depois da derrubada da burguesia num pais, o proletariado desse país continua sendo durante muito tempo mais débil que a burguesia, em virtude, simplesmente, das imensas relações internacionais que ela tem e graças à restauração, ao renascimento espontâneo e contínuo do capitalismo e da burguesia através dos pequenos produtores de mercadorias do país em que ela foi derrubada. Só se pode vencer um inimigo mais forte retesando e utilizando todas as forças e aproveitando obrigatoriamente com o maior cuidado, minúcia, prudência e habilidade a menor ‘brecha’ entre os inimigos, toda contradição de interesses entre a burguesia dos diferentes países, entre os diferentes grupos ou categorias da burguesia dentro de cada país; também é necessário aproveitar as menores possibilidades de conseguir um aliado de massas, mesmo que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicional. Quem não compreende isto, não compreende nenhuma palavra de marxismo nem de socialismo científico, contemporâneo, em geral. Quem não demonstrou na prática, durante um período bem considerável e em situações políticas bastante variadas, sua habilidade em aplicar esta verdade à vida, ainda não aprendeu a ajudar a classe revolucionária em sua luta para libertar toda a humanidade trabalhadora dos exploradores. E isso aplica-se tanto ao período anterior à conquista do Poder político pelo proletariado como ao posterior.” [cap. VIII]
 
“E se replicarem dizendo que esta tática é muito ‘astuta’ ou complicada, que as massas não a compreenderão, que dispersará e desagregará nossas forças impedindo-nos de concentrá-las, na revolução soviética, etc., responderei aos meus contestadores ‘de esquerda’: não atribuam às massas o seu próprio doutrinarismo!” [cap. IX]
 
“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os ‘de baixo’ não querem e os ‘de cima’ não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.” [cap. IX]
 
É necessário unir a mais absoluta fidelidade às idéias comunistas à arte de admitir todos os compromissos práticos necessários, manobras, acordos, ziguezagues, retiradas, etc....” [cap. X]
 
“...[N]ão conseguireis nada através unicamente dos hábitos de propagandista, com a simples repetição das verdades do comunismo ‘puro’. E é porque nesse caso a conta não é feita aos milhares, como faz o propagandista membro de um grupo reduzido e que ainda não dirige massas, e sim aos milhões e dezenas de milhões. Nesse caso é preciso perguntar a si próprio não só se convencemos a vanguarda da classe revolucionária, como também se estão em movimento as forças historicamente ativas de todas as classes da tal sociedade, obrigatoriamente de todas, sem exceção, de modo que a batalha decisiva esteja completamente amadurecida, de maneira que
 
1) todas as forças de classe que nos são adversas estejam suficientemente perdidas na confusão, suficientemente lutando entre si, suficientemente debilitadas por uma luta superior a suas forças;
 
2) que todos os elementos vacilantes, instáveis, inconsistentes, intermediários, isto é, a pequena burguesia, a democracia pequeno-burguesa, que se diferencia da burguesia, estejam suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente cobertos de opróbrio por sua falência prática;
 
3) que nas massas proletárias comece a aparecer e a expandir-se com poderoso impulso o afã de apoiar as ações revolucionárias mais resolutas, mais valentes e abnegadas contra a burguesia. É então que está madura a revolução, que nossa vitória está assegurada, caso tenhamos sabido levar em conta todas as condições levemente esboçadas acima e tenhamos escolhido acertadamente o momento”.[cap. X]
 
O autor é professor, micro-empresário e pesquisador free-lancer das estruturas não-governamentais de poder político.
Opinião - América Latina

agosto de 2010

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