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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Cuba - Um giro pela ilha-cárcere dos Castros – Libertação de dissidentes e o ressurgimento do 'COMA ANDANTE' Fidel Castro - Debate entre os reformistas e a velha guarda ortodoxa

Cuba


 Foto: ANA GUELLER / REUTERS / AFP


César González-Calero
LA NACION

Tradução de FRANCISCO VIANNA


Um giro pela ilha-cárcere dos Castros – Libertação de dissidentes e o ressurgimento do 'COMA ANDANTE' Fidel Castro - Debate entre os reformistas e a velha guarda ortodoxa

Arrastando-se como lesma, a revolução comunista cubana se prepara para uma etapa decisiva no seu meio século de atraso e miséria socialista.

Sob visível preocupação e temor de um possível retorno do "período especial" da década de 1990, o ditador Raúl Castro, deu sinais – na maioria, enganosos – de que o reduzidíssimo politburo cubano estaria disposto a uma nova abertura ao capital privado, ao turismo externo (embora monitorado) a aos investimentos estrangeiros.


Depois de quinze anos e de várias cirurgias em Fidel Castro, Cuba volta a debater hoje – mais por necessidade do que por convicção ou politização – se deve ou obsequiar a abertura política e econômica exigida pela empobrecida sociedade insular ou manter a ferro e fogo o imobilismo e a distribuição da miséria a todos, características de todos os regimes socialistas, como quer a velha guarda comunista que controla a ilha.

As noticias têm fervilhado pela ilha, nas últimas semanas.

Primeiro houve o insólito diálogo entre o governo e a Igreja, que resultou num processo de libertação de presos políticos, que ainda não terminou.

Dias depois, e após quatro anos de convalescença, Fidel Castro reapareceu publicamente "totalmente recuperado" da doença intestinal que o afastou do poder em julho de 2006.


No início deste mês, o irmão, Raúl, anunciou alguns "ajustes" no modelo econômico para fazer frente à paralisia produtiva em que a ilha de há muito padece.

Não há geração de riqueza, renda ou trabalho.

Os únicos beneficiados a levar uma vida de ricos são os membros do politburo comunista de Havana.

É o que se esperava de Raúl Castro, desde 26 de julho de 2007, quando, uma ano depois de ter assumido as rédeas do país, o general reconheceu que o país não podia mais continuar como estava.

Eram necessárias "reformas estruturais e conceituais". Mas pura demagogia socialista.

Durante três anos, a única reforma aprovada foi a ‘entrega’ de terra improdutiva, em usufruto, a camponeses paupérrimos, descapitalizados e totalmente despreparados a fazer a terra produzir com a mínima produtividade. Como sempre, para agravar os maus resultados, a ‘entrega em comodato’ dessas áreas rurais se fez acompanhar de uma enxurrada de imposições e travas típicas do marxismo-leninismo anacrônico.

Agora, o regime resolveu “por um pouco de ordem no super povoado aparato estatal, onde sobram – segundo seus cálculos ainda desconhecidos e misteriosos – 1,3 milhões de trabalhadores ociosos, no campo e nas cidades, ou seja, praticamente 10% de sua população absoluta, de 11,217 milhões de habitantes, e quase 30% de sua população ativa.

A idéia, esboçada por Raúl Castro na Assembléia Nacional em 1° de agosto último, é as de reduzir progressivamente os organogramas e os "gastos improdutivos" relacionados ao emprego estatal. Para absorver parte dessa mão de obra excedente, Raúl Castro ampliará as ‘licenças de trabalho particular’ (por conta própria), que começaram a ser outorgadas na década de 1990, mas foram congeladas mais tarde.
 


Nos dias atuais, só 150.000 pessoas são "contapropristas", ou seja, pouco mais de 1% da população.

Além disso, o governo se diz interessado em estimular o turismo e o investimento estrangeiro com uma série de iniciativas, como a construção de 16 campos de golfe com capital misto (estatal e externo) ou a venda de residências para estrangeiros nessas instalações turísticas.

Trata-se, afinal, de uma intenção de reeditar a ‘abertura’ dos anos 90s, que foi freada de pronto por Fidel Castro logo no início da década, porque as pessoas “começaram a ganhar dinheiro”.

Isso ele fez com uma nova ‘cruzada ideológica’ – a "batalha das idéias" – (com a inestimável ajuda do venezuelano Hugo Chávez) e restaurou a centralização quase total da economia, ao mesmo tempo em que silenciava, à força, as vozes dissidentes crescentes na ilha.

"A ampliação do trabalho por conta própria, ou privado, não é, em si, uma reforma estrutural; já existia nos anos 90s e do qual permaneceu apenas um resíduo, mas, só com essa medida vai ser difícil para Cuba resolver sua grave situação econômica", adverte Carmelo Mesa-Lago, catedrático emérito da Universidade de Pittsburgh.

Para este renomado economista cubano, exilado há décadas nos Estados Unidos, os anúncios de Raúl Castro são insuficientes.

Segundo Mesa-Lago, "o governo quer administrar com conta-gotas, com muitas limitações e restrições, quando só a livre iniciativa pode realmente despertar o interesse e a vontade do povo em trabalhar e produzir, e, ainda não explicou o ditador, como vai ser essa ‘ampliação do trabalho por iniciativa privada’, ou ainda como pensa em recolocar 1,3 milhões de funcionários públicos que irão ‘sobrar’, ou seja, uma quarta parte da mão de obra hoje empregada".

Para Mesa-Lago, a intervenção de Raúl Castro no Parlamento "caiu como um balde de água fria" nas aspirações populares.

"Foi um discurso sobre como administrar a miséria e não como gerar a riqueza e a renda", lamenta-se.


Já o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe, mais otimista, acredita que, depois de vários anos de ditadura ferrenha de Raúl, e de demoras contínuas na aplicação de reformas, "agora parece que virá o processo de mudanças de verdade".

"É a primeira vez que vemos uma luz tênue no fim do túnel depois de anos de escuridão; por isso creio que devemos apoiar que se siga por este caminho", assegura o opositor, membro do Grupo dos 75 e libertado da prisão em 2004 por motivos de saúde.

Superada a fase da "batalha das idéias" – cujos programas Raúl começou, a passo de cágado, a desmantelar progressivamente e sem alarde –, a pergunta que corta a ilha em todas as direções neste momento é se essas mudanças anunciadas pelo ditador ("ajustes ao socialismo", na terminologia do regime) virão acompanhadas de outras reformas de maior envergadura, como a agrária, por exemplo.

Segundo os dados oficiais, a produção agrícola, que já era baixa – Cuba é uma nação fortemente importadora de alimentos básicos – caiu 7% na primeira metade desse ano.


Décadas de monocultivo de cana de açúcar e fumo deixaram as terras exauridas e improdutivas e hoje a ilha se vê obrigada a importar açúcar do Brasil e da Colômbia. A ilha-cárcere dos Castros compra no exterior 80% dos alimentos que consome.

Mesa-Lago e Espinosa Chepe coincidem na opinião de que Cuba necesita desesperadamente de uma reforma agrária em profundidade. "Temos tido as piores safras [colheitas] açucareiras dos últimos cem anos, pouco mais de um milhão de toneladas; para produzir com ‘garantias’, é necessário uma reforma na qual o processo de produção e de comercialização não estejam sob o controle do estado", explica Espinosa Chepe.


as fORÇAS imoBilistas

Às vozes que pedem mais abertura política e econômica, se têm unido, nos últimos tempos, a dos dirigentes e artistas ligados à situação.

Ainda ressoam as declarações de Alfredo Guevara, representante da geração histórica e preposto cultural durante décadas, pronunciadas em maio último perante universitários: "Creio que aqueles a quem cabe realizar as mudanças estão prontos para dar esse passo; o importante é que tal passo seja dado e que os interpretadores do futuro no tenham que dizer: ‘Tiveram que dar sumiço aos dirigentes para que esse passo fosse dado’".

Até o jornal Granma, eixo de transmissão do PCC (Partido Comunista Cubano), abriu uma seção há mais de um ano pela qual os leitores – com muito medo e cuidado – possam expressar suas inquietudes quanto ao rumo da revolução comunista cubana.

O diálogo entabulado recentemente entre governo e Igreja Católica tem sido saudado quase de forma unânime como uma mudança de atitude positiva do regime.


"Quero confiar em que Raúl seja pragmático o suficiente para deixar de lado as ideologias e liderar um processo gradual de mudanças que promovam a progressiva democratização da sociedade cubana", assegura Espinosa Chepe. "É um processo esperançoso", concorda Mesa-Lago.

Todavia, as forças imobilistas relutam a deixar a ilha deslanchar para o progresso, nem tampouco para a liberdade política. Para esse setor do regime, com Fidel Castro sendo visível no comando, qualquer mudança, por pequena que seja, pressupõe uma concessão à "contra-revolução" e dar terreno ao inimigo: os Estados Unidos. Dirigentes do PCC e funcionários de alto escalão do politburo, receosos de perder seus privilégios, agem como guardas do dogmatismo ideológico decretado por Fidel há já quatro décadas.

Hoje, Cuba aguarda uma nova ofensiva, se não democrática, pelo menos "pragmática". Cuba está a espera de Raúl.


A CUBA DE FIDEL


· Liderança egocêntrica e ortodoxia revolucionária

· Centralização total da economia

· Confrontação ideológica permanente com os EUA


A CUBA DE RAUL

· Governo colegiado e sem personalismos

· Discretíssima abertura à iniciativa privada e sem qualquer segurança jurídica.


· Pragmatismo político para a continuidade do regime comunista




EM AMBAS AS CUBAS, O QUE CRESCE É A ESTAGNAÇÃO E A POBREZA

NÃO DEVEMOS PERMITIR QUE O MESMO OCORRA NO BRASIL


Francisco Vianna

Agosto de 2010

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