Tirania e liberdade não se podem considerar isoladas, mesmo se, vistas temporalmente, se revezam uma à outra.
Não há dúvidas de que se pode dizer que a tirania suprime e aniquila a liberdade – mas, por outro lado, uma tirania só pode ser possível, quando a liberdade se domestica e se volatiliza no seu conceito vazio.
O ser humano tende a confiar no aparelho político ou ainda a submeter-se-lhe, quando devia haurir das suas próprias fontes.
O que é uma falha em imaginação.
Ele tem de conhecer os pontos nos quais não pode deixar que a sua decisão soberana seja negociada.
Enquanto as coisas estiverem em ordem, a água estará canalizada e a corrente eléctrica ligada.
Se a vida e a propriedade forem ameaçadas, um grito de alarme fará afluir magicamente Bombeiros e Polícia.
O grande perigo está em que o ser humano conta em excesso com estas ajudas e fica desamparado quando lhe faltam.
Todo o conforto tem de ser pago.
A situação do animal doméstico arrasta atrás de si a do animal de abate.
Não há dúvidas de que se pode dizer que a tirania suprime e aniquila a liberdade – mas, por outro lado, uma tirania só pode ser possível, quando a liberdade se domestica e se volatiliza no seu conceito vazio.
O ser humano tende a confiar no aparelho político ou ainda a submeter-se-lhe, quando devia haurir das suas próprias fontes.
O que é uma falha em imaginação.
Ele tem de conhecer os pontos nos quais não pode deixar que a sua decisão soberana seja negociada.
Enquanto as coisas estiverem em ordem, a água estará canalizada e a corrente eléctrica ligada.
Se a vida e a propriedade forem ameaçadas, um grito de alarme fará afluir magicamente Bombeiros e Polícia.
O grande perigo está em que o ser humano conta em excesso com estas ajudas e fica desamparado quando lhe faltam.
Todo o conforto tem de ser pago.
A situação do animal doméstico arrasta atrás de si a do animal de abate.
Ernst Junger em O Passo da Floresta
Comentário
Tirania e liberdade podem ter conceitos muito próximos.
A indiferença na modernidade é um dos exemplos.
O só pensar em si, de dizer: "problema é dos outros", é um certo relaxamento daquilo que se pensava até então como função social.
Existe sociedade?
Função?
Só se for aquela que promete uma casa, carros e família.
O resto é pensado como um à parte, no entanto, é este resto que responde por uma parcela de uma conjuntura, que de certo modo, influencia um pouco o comportamento de todos.
O que é mais grave nisso é que termos antes impensáveis, como um "ordinário" ou "corrupto", se tornam rotineiros numa cidade grande, onde muito se fala e pouco se cumpre.
E mesmo sabendo disso, nada se faz.
Revoltas como a dos anos 60?
O mundo virtual está aí para nos proporcionar esquecimentos também.
Cada um se refugia num plano que isola o papel social.
Não estou dizendo que no século XIX, quando se afirmava que "ordinário" era uma palavra horrível, que todos eram "santinhos".
Negativo.
Eram todos cínicos, apoiados na moral.
Nietzsche e outros pensadores repensaram muito o assunto até que as duas guerras mundiais acabaram com este papo e inauguraram o discurso livresco e sem compromisso com títulos.
Hoje podemos ser socialistas e capitalistas ao mesmo tempo, podemos ser democratas e republicanos, um cristão ateu, ou seja, toda e qualquer classificação aceita e sem formas delimitadas.
A indiferença na modernidade é um dos exemplos.
O só pensar em si, de dizer: "problema é dos outros", é um certo relaxamento daquilo que se pensava até então como função social.
Existe sociedade?
Função?
Só se for aquela que promete uma casa, carros e família.
O resto é pensado como um à parte, no entanto, é este resto que responde por uma parcela de uma conjuntura, que de certo modo, influencia um pouco o comportamento de todos.
O que é mais grave nisso é que termos antes impensáveis, como um "ordinário" ou "corrupto", se tornam rotineiros numa cidade grande, onde muito se fala e pouco se cumpre.
E mesmo sabendo disso, nada se faz.
Revoltas como a dos anos 60?
O mundo virtual está aí para nos proporcionar esquecimentos também.
Cada um se refugia num plano que isola o papel social.
Não estou dizendo que no século XIX, quando se afirmava que "ordinário" era uma palavra horrível, que todos eram "santinhos".
Negativo.
Eram todos cínicos, apoiados na moral.
Nietzsche e outros pensadores repensaram muito o assunto até que as duas guerras mundiais acabaram com este papo e inauguraram o discurso livresco e sem compromisso com títulos.
Hoje podemos ser socialistas e capitalistas ao mesmo tempo, podemos ser democratas e republicanos, um cristão ateu, ou seja, toda e qualquer classificação aceita e sem formas delimitadas.
Tudo bem, se fosse questão apenas de personalização, todavia é algo que beira muito mais que isso, para uma banalização do mal infecunda.
Termino aqui com o texto de Martin Niëmoller:
"Eles começaram perseguindo os comunistas,
e eu não protestei, porque não era comunista.
Depois, vieram buscar os judeus,
e eu não protestei, porque não era judeu.
Depois ainda, vieram buscar os sindicalistas,
e eu não protestei, porque não era sindicalista.
Aí, vieram buscar os homossexuais,
e eu não protestei, porque não era homossexual.
Aí então, vieram buscar os ciganos,
e eu não protestei, porque não era cigano.
E depois, vieram buscar os imigrantes,
e eu não protestei, porque não era imigrante.
Depois, vieram me buscar.
E já não havia ninguém para protestar"
e eu não protestei, porque não era comunista.
Depois, vieram buscar os judeus,
e eu não protestei, porque não era judeu.
Depois ainda, vieram buscar os sindicalistas,
e eu não protestei, porque não era sindicalista.
Aí, vieram buscar os homossexuais,
e eu não protestei, porque não era homossexual.
Aí então, vieram buscar os ciganos,
e eu não protestei, porque não era cigano.
E depois, vieram buscar os imigrantes,
e eu não protestei, porque não era imigrante.
Depois, vieram me buscar.
E já não havia ninguém para protestar"
Por Phil
LIBERDADE
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues
"As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias."
Eça de Queirós, em Distrito de Évora
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