domingo, 11 de outubro de 2009
Nos EUA, a guerra sobre como fazer a guerra no Afeganistão
NOVA YORK- No Afeganistão, este é o drama de Obama: o presidente americano quer reforçar o envio de tropas e dinheiro que ele não possui para fortalecer um governo no qual a Casa Branca não bota fé, em nome de uma missão indefinida. Não é à toa que existem divisões no alto comando do governo e ceticismo na opinião pública americana.
Obama sendo Obama, ele quis ganhar tempo com um longo processo de deliberações, escutando as "bases" (comandantes militares, o alto escalão do governo e gente influente no Congresso). Mas as conversas privadas vazaram (muitas vezes de forma premeditada em nome da agenda A ou da agenda B). O jornal "Washington Post" revelou detalhes do relatório de 66 páginas do general Stanley McCrystal, o comandante americano no Afeganistão, advertindo que será um desastre sem o reforço de tropas e uma estratégia abrangente.
O general quer mais 40 mil soldados no Afeganistão, em meio a um quadro de deterioração da segurança e ações mais agressivas do Taleban, que ressurgiu oito anos depois da invasão dos americanos e seus aliados ocidentais. Há informações de que McCrystal teve uma reunião tensa com o presidente em Copenhague, na sexta-feira da semana passada, no dia daquela outra guerra que resultou na escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
Militares alertam que uma solução minimalista será catastrófica e os americanos estariam retornando à estaca zero do governo Bush, quando o então secretário de Defesa Donald Rumsfeld achou que daria para resolver a parada no Afeganistão (tanto contra os rebeldes do Taleban, como contra a rede Al Qaeda) com um contingente enxuto. Comandantes como McCrystal, veterano do Iraque, argumentam que aprenderam a lição e que a única saída é reforçar as tropas e garantir o controle de território.
Natural que exista este fogo cruzado entre dois conceitos estratégicos. O primeiro é este do general McCrystal, de contrainsurgência, cujos objetivos são livrar extensas áreas do Afeganistão do controle dos insurgentes do Taleban e proteger a população. Trata-se de uma operação ambiciosa em um país onde os americanos já travam sua segunda guerra mais longa na história, depois do Vietnã, e é conhecido como cemitério de impérios. Hillary Clinton, a secretária de Estado, é "falcão" neste debate, assim como a maioria dos republicanos, a destacar o senador John McCain, derrotado por Obama nas eleições de novembro passado.
O segundo conceito é o de contraterrorismo, que pode ser definido como contrainsurgência "lite". A missão se concentra na caçada dos militantes da rede Al Qaeda e enfatiza operações aéreas na fronteira entre Afeganistão e Paquistão. E mais cômodo para um país avesso a maiores sacrifícios, mas pode significar uma intermitente e inconclusiva campanha. O vice-presidente Joe Biden, influente em política externa, é advogado deste conceito. Para este lado, pendem os setores mais esquerdistas do Partido Democrata.
Acosssado, Obama, por ora, aparentemente decidiu que uma retirada americana do Afeganistão está descartada, assim como uma redução substancial de tropas. Ele também avisa que não haverá um reforço instantâneo de tropas. Mas as decisões mais cruciais ainda não foram tomadas e irão representar o teste mais dramático até agora para Obama em política externa. O drama para o presidente é que ele não pode parecer fraco em segurança nacional, mas tampouco pode alienar sua base eleitoral. Se tentar tirar a média, pode deixar pouca gente satisfeita.
Uma medalha prematura como o Prêmio Nobel da Paz de 2009 não torna mais fácil a vida de Obama para fazer a guerra.
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