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terça-feira, 13 de outubro de 2009

O HUMANISMO DE ROSTO INUMANO - HÉLÉ BÉJI

Os verdadeiros amigos do povo não são nem revolucionários nem inovadores, mas sim tradicionalistas.”

ROLLET, Jacques. Religião e Política – o Cristianismo, o Islão, a Democracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2002, p.113.

POR RIVADAVIA ROSA



o relativismo (i) (a) moral impulsionado pela ‘revolução cultural’ desde o século XX está avançando e 'dominando' impulsionado pelas idéias gramscinas (Antonio Gramsci) que gradativamente foi incutida na mentes das pessoas, especialmente na educação de jovens, cuja pseuda filosofia fundada na falácia marxista apóia-se na ‘tese’ de que todas as ‘teses’ são mais ou menos igualmente defensáveis.

A nível abstrato vale tudo.

É a dialética que prevalece em prejuízo da verdade que se conforma a ‘relativização’ e sob a embalagem do ‘politicamente (in) correto devidamente instrumentalizado pela novilíngua orwelliana (GEORGE ORWELL, 1984 - mostra como opera essaa patologia lingüística – que é uma forma de perversão/corrupção da linguagem e das instituições, quando a mente e o corpo já estão corrompidos).

No texto a seguir - O HUMANISMO DE ROSTO INUMANO pode se perceber o resultado do ‘fruto’ novilinguístico.
"O HUMANISMO DE ROSTO INUMANO"



Deste modo a cultura moderna caracteriza-se pelo facto de todas as espécies de direitos humanos se transformarem em códigos desumanos.

A soberania, que é o império que temos sobre nós próprios, é substituída pela supremacia, que é o império que assumimos em relação a outros.

A tolerância, que é a recusa do intolerável, tornou-se no direito ao intolerável – conforme dizia 
VOLTAIRE:

“O direito à intolerância é absurdo e bárbaro.”

A democracia tornou-se um slogan d
e hegemonia ou de teocracia.

A comunicação, em vez de compreender, faz alastrar o ininteligível.

As diferenças culturais, que se deviam diversificar de forma pacífica, confundem-se numa prática idêntica: a violência
.

O humanitário, que deve estar ao lado dos fracos, é acompanhado pelo super poder, uma dimensão providencial, a ponto de se tornar numa “inumanidade providencial”.

O anti-racismo tornou-se tão intolerante como o racismo.

O anticolonialismo tornou-se fascista como o colonialismo.

O individualismo multuplicou as doenças do íntimo em vez de as curar. O anti-sexismo desenvolve uma obsessão do sexo.

O direito do mais fraco é modelado pelos abusos do direito do mais forte, como o direito das vítimas se traduz por uma moral de carrascos
.

Como explica CATHERINE LABRUSSE-RIOU, professora de Direito na Universidade de Paris-I, os direitos do homem degradaram-se “a favor de princípios vagos, interpretados segundo ideologias individualistas e arbitrárias, com desprezo pela idéia de que o direito começa por ser a instituição das relações entre os seres humanos, constituídas por direitos e deveres e não a exaltação de um indivíduo solitário cujas liberdades indefinidas são outros poderes exercidos sobre outrem, portanto a alteração da liberdade e da dignidade do outro”.

(CATHERINE LABRUSSE-RIOU, “Droits de la personalité et de la famille”, in Mireille Delmas-Marty e Claude Lucas de Leyssac (dir.), Libertés et droits fondamentaux, Paris, Seuil, 1996).

Um dos desafios mais subtis do inumano tem assim a sua origem
no próprio humanismo, quando direitos culturais sem limitações se tornam apetites disfarçados de força.

O humanismo tinha visto já a sua própria traição, quando os europeus, em nome da civilização, inventaram esse primeiro direito cultural que foi o crime da colonização.

Outra vez quando o descolonizado, na sua condição de antigo oprimido, se erigiu em opressor, em nome da sua tradição cultural.

Finalmente, uma terceira vez, quando o ocidente retoma, perante o fascismo dos fracos, a bandeira da sua missão civilizadora, com os mesmos argumentos militares, com a finalidade de pacificar os “selvagens”.

Parece então que o inumano não é a violência nem a animalidade do homem (ela e o a-hamano), mas o discurso civilizado ou cultural do ódio, quando se trata de justificar intelectual ou culturalmente a sua crueldade, disfarçando-a em vestes culturais que a enobrecem em direito.

Tivemos tanto medo da noção de raça, em nome da diversidade de culturas, que esquecemos a única que merece consideração: a raça humana.

O humano tornou-se, se me atrevo a dizê-lo, objecto de ódio racial.

Nesse furor de imagens culturais dos nossos contemporâneos, existe um deficit de representação do humano.

A imagem do humano não pode ser encontrada na cultura. A cultura já não dá acesso à nossa humanidade e é talvez isso que a pintura abstracta nos diz, quando vai além da figuração para apresentar a interioridade, a densidade, a vibração da interioridade humana no mundo
.

O critério cultural já não consegue fundar uma ética de reconhecimento: o étnico liquidou o ético. Debaixo da máscara cultural, esqueceu-se essa “luz natural” da razão, essa capacidade de que falava ROUSSEAU de entrarmos em nos mesmos para “executar a voz da consciência no silêncio das paixões”.



Toda a verdadeira cultura tem por missão discernir o humano do inumano.

Mas levamos tão longe o gosto pelas diferenças que o humano confundiu as suas diferenças.

Os homens já não querem parecer homens
.

Os velhos critérios da identidade humana já não interessa a ninguém: desde que nos possamos distinguir, podemo-nos mascarar com outro qualificativo, por exemplo, o de “monstro”.

Cultivamos a imagem de monstro (de monstro, monstrare, que é mostrar” ou “mostrar-se” ou de moneo, monere, que deu monstro, facto prodigioso que vem da natureza).

O homem já não liga tanto à sua natureza. Acomoda-se a uma cultura inumana para afirmar a sua diferença.

O monstro já não se preocupa em fazer parte do humano, quer ser de outra espécie e reclama-se mesmo de um direito filosófico de ser um monstro, isto é, alguém que é insensível não apenas ao sofrimento de outros mas ao próprio sofrimento."


BÉJI, Hélé. “A Cultura do Inumano” – in BINDÉ, Jérôme. Para onde vão os Valores? (Où vont les valeurs? - Debates do século XXI – UNESCO). Lisboa: Instituto Piaget, 2004, pp. 61-63

enviada por Gracias a La Vida

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