Dora Kramer
O Estado de S. Paulo
Há duas maneiras de analisar o anunciado acordo entre PT e PMDB.
Sob a ótica da eleição presidencial, o aludido "pré-compromisso" não significa nada em termos definitivos.
Tanto é que a presidente em exercício do partido, deputada Íris de Araújo - integrante da chamada ala governista -, disse que o rumo do PMDB só será definido na convenção de junho do ano que vem.
Agora, do ponto de vista das eleições estaduais, para governadores, senadores e deputados, o acerto firmado entre as cúpulas do PT e do PMDB significa muito.
Para o PMDB, bem entendido, que apenas cumpre sua vocação de federação de interesses regionais.
Se dependesse do PT, que em nenhum momento pediu para que se firmasse compromisso algum, o assunto só entraria na pauta mais adiante.
O acordo foi a maneira que o PMDB encontrou de se prevenir contra manobras do PT para se apropriar com exclusividade da marca Lula, uma vez que o presidente não conseguiu - ou não quis - que os petistas se enquadrassem às exigências do parceiro de abrir mão de candidaturas próprias em Estados considerados importantes pelos pemedebistas.
A saída foi forçar um compromisso de divisão da coordenação presidencial, pois com isso o PMDB acredita que terá mais força para negociar as alianças regionais em melhores condições.
Os próprios termos do acordo deixam isso muito claro.
São quatro pontos.
O primeiro - "os dois partidos se comprometem a construir a aliança" - é mera manifestação de intenção.
O segundo - "os dois partidos comporão, necessariamente, a chapa de presidente e vice-presidente a ser apresentada ao eleitorado em 2010"- é um certificado de venda de terreno na Lua, pois trata de uma decisão a ser tomada pelas convenções partidárias daqui a oito meses.
O terceiro ponto - "os dois partidos dividirão a coordenação da campanha e a elaboração do programa de governo"- dá uma pista sobre o que realmente interessa.
O quarto vai direto ao ponto: "Esse compromisso será levado às instâncias partidárias para construir soluções conjuntas nas eleições regionais."
Tendo assento na coordenação nacional, o PMDB ganha força para influir nas alianças regionais sem que dependa de uma ação de Lula.
Note-se uma incongruência nos termos do acordo: no item 2 diz que os dois partidos integrarão "necessariamente" a chapa presidencial e no item 4 informa que o compromisso será "levado às instâncias partidárias".
Trata-se, portanto, de uma questão em aberto segundo os próprios signatários.
Não houve falha de redação e sim propósito de parte a parte.
Ao PMDB pouco se lhe dá quem sucederá a Lula.
Ao partido interessa eleger o maior número possível de governadores, senadores e deputados para garantir o cacife de principal parceiro do presidente. Seja ele, ou ela, quem for.
Esse acordo interessa até à ala dita dissidente do PMDB, pois o fortalecimento do partido para firmar alianças regionais conforme sua conveniência é algo benéfico para todos, aliados da candidatura presidencial governista ou não.
Lá na frente, se Dilma Rousseff, Ciro Gomes ou quem venha a ser o preferido do Planalto estiver bem, o compromisso fica mantido.
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