O relator da CPI dos Correios, Luiz Sérgio (PT-RJ), apresentou o seu relatório final. O colega Vic Pires (DEM-PA) chamou-o de “pateta”.
Gratuita a agressão. Faltou sofisticação ao deputado ‘demo’. O texto do relator tem inegável valor. Um valor literário.
Bem verdade que Luiz Sérgio não enxergou irregularidades nos cartões corporativos. Mas a analogia com o mundo de Disney é inapropriada.
O deputado petista aproxima-se mais do universo de George Orwell. Seu relatório é um belo exemplo do “doublespeak” de que falou Orwell no seu livro “1984”.
O texto de Luiz Sérgio é guiado pela lógica segundo a qual a verdade do poder não depende dos fatos. É doublespeak em estado latente.
O doublespeak da velha União soviética fazia desaparecer personagens de fotografias. Para não permitir que as versões convenientes fossem desmentidas.
Dotado de um mínimo senso de ridículo, Luiz Sérgio não ousou apagar os fotografados. Limitou-se a retocar a fotografia à sua maneira.
Ministros de Lula foram ao porta-retratos do relator algo esmaecidos, isentos de culpa. Auxiliares de FHC foram pintados em cores vivas. São devedores de explicações. Para ele, o erro está no cartão, não nos usuários.
Parlamentares oposicionistas pediram vista do relatório de Luiz Sérgio. Desejam analisá-lo com vagar. Depois, vão redigir um texto paralelo.
O signatário do blog recomenda cuidado aos leitores de Luiz Sérgio. Muita gente gosta de ler na cama.
Coisa arriscada no caso do texto final da CPI. A peça do relator tem 936 páginas.
Quem levar o calhamaço à cama flertará com o risco de afundamento do esterno –aquele osso situado na parte anterior do tórax, que se articula com as clavículas e as cartilagens das sete primeiras costelas.
Aqueles que sobreviverem à aventura literária decerto ficarão deliciados com o texto. O autor passeia por entre a ironia o sarcasmo e o cinismo.
Não é obra de um pateta. Não, não. Absolutamente. É obra de quem sabe bem o que faz. Muito bem.
Escrito por Josias de Sousa
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