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domingo, 1 de junho de 2008

O foro dos dinossauros

O foro dos dinossauros

Reunida no Uruguai, a esquerda da América Latina passa o tempo a repetir velhos clichês

Fotos Federico Gutierrez
Plenário do Foro de São Paulo, em Montevidéu: abaixo os Estados Unidos, viva o terrorismo das Farc

Um parque dos dinossauros políticos instalou-se durante quatro dias em um edifício à beira-rio em Montevidéu: o 14º Encontro do Foro de São Paulo, que reuniu partidos de esquerda da América Latina e Caribe, entre 22 e 25 de maio.

A quantidade de participantes era relativamente grande – 840 delegados, representando 107 organizações de 32 países –, mas a diversidade de idéias fossilizadas era pequena.

Apesar de muitos desses partidos e organizações estarem representados em treze governos do continente (as contas são do Foro), o que se ouviu nos debates foram cinqüenta horas de monocórdia repetição de refrões da Guerra Fria – "condenar a crescente e permanente ameaça dos Estados Unidos contra os povos do mundo", "defender a revolução cubana".

A idade média dos presentes, pelo menos entre os mais ativos na tribuna, era de 60 anos. Muitos deles são militantes comunistas que, vinte anos depois de essa ideologia fracassada ter sido varrida da história, ainda não arejaram suas idéias políticas.

Apesar de os membros do Foro de São Paulo participarem de tantos governos, só um presidente, o da Nicarágua (o segundo país mais pobre do continente, atrás apenas do Haiti), compareceu ao convescote.

Nem o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, cuja coalizão era a anfitriã do encontro, deu as caras. O naipe dos principais oradores em Montevidéu – o nicaragüense Daniel Ortega e o petista Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula – ressalta a irrelevância política dos debates que aconteceram em Montevidéu.

É bom que o que foi dito lá não tenha maior repercussão.

Se o Foro de São Paulo servisse como um ponto de inflexão capaz de formular políticas para os partidos participantes, a esquerda latino-americana seria convocada a se empenhar em aventuras desastrosas para os povos da região.

Para exemplificar o perigo das idéias expostas e aplaudidas em Montevidéu, temos o desprezo que o presidente nicaragüense dedica à democracia. Em seu discurso, ele assim descreveu esse sistema de representação popular: "Trata-se de um instrumento para os capitalistas se perpetuarem no poder".

Em seguida, Ortega explicou que apenas aprendeu a usar os meios do inimigo para ascender democraticamente ao comando do país.

Já o brasileiro Garcia tratou de atacar a imprensa independente e, revelando-se generoso com o dinheiro que não é dele nem do governo petista, mas do povo brasileiro, ofereceu aos outros países latino-americanos uma participação na exploração das novas reservas petrolíferas encontradas no Brasil.

Apoio às Farc

"Eu quero expressar minhas condolências e minha solidariedade às Farc e à família do comandante Marulanda. Ele era um homem humilde, e me sinto honrado de ter-lhe dado, em nome de nosso povo, a ordem ‘Sandino’. Manuel Marulanda Vélez, um valente, um lutador."

Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, em discurso de encerramento do Foro de São Paulo




Generosidade brasileira

"Tivemos recentemente grandes descobertas de petróleo em nosso litoral. Nós queremos produzir uma parte disso. Mas queremos também que a América Latina participe da produção petrolífera, que tem de ser um instrumento que alavanque não só a economia brasileira como também a economia de toda a região."

Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais do presidente Lula, em debate sobre integração regional, no Foro de São Paulo

Diogo Schelp, de Montevidéu

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