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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Político- social 159


Político- social 159


Mdagraça Ferraz
Gracias a la Vida


Enquanto isto
Enquanto isto
Muitos andares acima
Altura a perder de vista
Que nem a imaginação
da narradora imagina
E se imagina, não confia

Um anjo menino
cara de traquinas
brincava em sua oficina
Estava tão entretido,
em seu esconderijo,
que não percebeu
a chegada de seu Pai,
o grande Deus

- Lucinho,o que tu fazes? -
O Pai perguntou,
fazendo com que o pequeno,
pego de surpresa, se assustasse

- O Senhor, por aqui?
Não avisaste que viria -
ele disse enquanto
ajeitava uma de suas asas que caía

- Ora, não sabes que sou
Onisciente e Onipresente?
Além do quê, um pai precisa de convite
para visitar seu filho? -
Voz bondosa e triste,
refulgindo brilho

O pequeno anjo
colocou-se em pé
- É que estou...Estou trabalhando-
ele explicou
- Trabalhando?
- Sim, estou criando meu mundo
Um mundo de delícias e de prazer
Como vês, ando ocupado,
muito a fazer,
cheios de atropelos

- Posso vê-lo?
O pequeno anjo contrariado,
sem outra alternativa,
retirou a cortina
que cobria seu quadro
abstrato e surrealista

- Pai, ainda não está concluída
minha obra artística
Peço que não sejas muito severo
em sua análise crítica

O Pai observou, com atenção,
o trabalho do filho,
ao fim do qual, exclamou:
- Mas o que é isto?
Perdeste teu juízo?
O que tu fizeste?

- Isto é um trabalho moderno,
progressita e evolutivo -
Lucinho explicou com voz atrevida -
O que tu querias?
Que passasse minha vida como Rafael,
a replicar tuas maravilhas :
Os rios, as matas ,o céu?

- E estas figuras tortas e toscas
e monstruosas
em profundo desequilíbrio?
Já perdeste a noção mínima
de estética e de perspectiva? -
O Pai, então, apontou o dedo
para uns borrões vermelhos

- Ah, isto aqui?
É o Partido dos Trabalhadores
do Brasil
Confesso que até para mim
isto está muito ruim
É que o pincel estava gasto
e a tinta já chegava ao fim

- E esta coisa sem pescoço,
pernas curtas, língua presa,
mentirosa, cor do fogo?

- É o chefe do tal Partido
É mesmo horroroso!
Pai, seja compreensível com este novato,
a espátula estava quebrada
 o desenho saiu errado

O Pai mantinha-se preocupado
- Meu filho, tu és muito criança
ainda para criar
Larga de ser precipitado
Larga de vaidade
Tu deverias estar estudando
nas Escolas de Belas Artes

Neste instante, um outro anjo,
com seu elmo de ouro,
sobre um branco corcel,
entrou na sala. Era Miguel.

- Meu Pai, peço-lhe  bênção
Não pude deixar
de escutar esta conversa
que ecoa em todo Universo
Permita-me explicar :
Lúcio não é dado aos esforços
e nem aos estudos
Foi expulso
por insubordinação e indisciplina
de nossas Academias
Ele prefere frequentar
as reuniões de Satânia
nos mares dos abismos
onde incita rebeliões
proclamando que será
maior que vós - o Altíssimo

- Por favor, meus filhos,
deixem de brigas e de acusações
Vocês são irmãos
Já é hora da conciliação

- Pai, tu és demais condescendente
com este pequeno delinquente
Lúcio, desrespeita as Leis Universais
com suas criações estúpidas,
medíocres e infernais

E nesse instante, Miguel,
aponta o quadro animado
posto no meio da grande sala
- Observe Pai,
esta grande miséria
Lúcio rouba a energia
de nossas celestiais Usinas
para produzir matéria
e matéria e partículas
tontas e loucas
em colisões inadvertidas
pondo em risco a Vida

- Tu estás com inveja, Miguel
Eu sou rei do meu mundo
enquanto tu és apenas
 um escravo do Céu

O irmão mais velho sorriu
com desprezo
- Rei deste lixo?
De toda a dor, erro e tristeza?
E mais : Tu nada crias
Apenas copias as obras do pai
apenas para destruí-las

- É por esta razão
que no meu mundo vou destruir a família -
O pequeno anjo retrucou -
Vou abolir as palmadas
e qualquer tentativa de coerção
Vou formar um exército de tiranos mirins
Cheios de vontade e de má educação
sem precisar dar até satisfação de seus bolhetins

- Meus filhos, parem com isto,
só os dois juntos
é que podem criar
um perfeito mundo
Lúcio, por que não aceitas
os conselhos de teu irmão mais velho?

- Pai, creio que devamos
acabar de vez com esta aberração -
Miguel sugeriu
apontando o quadro animado
que girava como uma alucinação

- Não! Isto não!
Pai, dá-me um Tempo
Meu trabalho está inconcluso
Tenha piedade
Já fui proscrito e expulso
-
gritou Lúcio
abraçado ao quadro
como um Narciso
preso ao espelho quebrado

Ouvindo isto,
Miguel fez uma reverência ao Pai,
olhou Lúcio com indiferença
e saiu
- E agora, meu filho,
o que farás, o que farás?
Estás a perturbar a Ordem e a Paz
do Universo

- Dá-me uma ajuda
Eu não sei o que é perfeição
Ilumina minha face escura

- Não, Lúcio. A obra é tua
Conclua-a
Mas lembra-te de que o AMOR -
é a única fonte de criação verdadeira
Sem isto, tudo que tu fizeres
não terá o mínimo valor
Será como uma poeira
na prancheta do arquiteto,
tragada pelos buracos negros
para o esquecimento completo
Não haverá fruto...Nem vitória.
Nem júbilo.
Não haverá sequer uma estrela matutina
a anunciar uma aurora
Apenas esta tua estrelinha rubra
feita de cinzas
sem lustro

O pequeno anjo
mantinha-se com cabeça baixa

E antes de se afastar,
o Pai lembrou:
- Quanto àquele borrão vermelho -
O teu Partido dos trabalhadores -
é uma massa disforme, densa e cética
e está a descarregar todos os reatores
psíquicos energéticos
Para que tanto ÓDIO, meu filho?
E pensar que tu foste,
dentre todos meus filhos,
o mais luminoso e o mais bonito
O que tu queres
que já não te dei?
És escravo de Satã
quando deverias ser o REI

OBRIGADA POR TERES ME LIDO

Satã- corpo físico
Rafael- emoção- AMOR
Lúcifer- mente concreta- RAZÃO
Miguel - mente abstrata- INTUIÇÃO

 16. Agosto. 2010

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