Por Reinaldo Azevedo
Antevi aqui anteontem que não se diria por aí uma linha sobre o caráter escancaradamente autoritário e personalista da campanha petista na TV, em que um único homem, Lula, coloca-se como o donatário do povo, passando-o, mero objeto de seus desígnios — mas com sua concordância, em eleições que seriam meramente homologatórias —, para outras mãos, de sua inteira confiança.
Ele próprio, avisou, andaria por aí a cobrar o que está errado, telefonando para a sua “presidenta” pedindo correções — seria, assim, o condestável da República. Dono do povo, é inventor de Dilma.
Batata! Não se disse um “a”, nada, zero! Isso quer dizer que a quase totalidade da imprensa brasileira considera isso muito razoável — “democrático”, diriam muitos.
Essa gente chamava de “democráticas” até as eleições promovidas por Hugo Chávez — procurem e acharão.
Em compensação, Serra apanhou barbaridade.
Por quê? Por causa, justamente, de seu programa na TV.
Não acho que foi exatamente uma maravilha. Mas, ao menos, encontravam-se ali propostas concretas, compromissos assumidos, na área da saúde. Para o meu gosto pessoal, a campanha seria bem mais politizada — vamos ver os próximos dias.
Qual a natureza da crítica quando feita de boa-fé?
Serra teria se comportado como um candidato a ministro da Saúde (era um programa temático, é bom lembrar), não a presidente, faltando uma fala de apelo mais geral e abstrato. Tendo a concordar, sim, com aspectos dessa análise.
A rigor, o eleitor de São Pulo viu que as campanhas de Serra e Alckmin, feita pelo mesmo marqueteiro, são muito parecidas, como eram em 2006.
Há quatro anos, Serra tinha a eleição assegurada; Alckmin, não.
Agora é o contrário. Se há uma mesma linha de campanha para quem lidera com folga e para quem está atrás nas pesquisas, a lógica sugere que algum ajuste se faz necessário — e não na campanha de quem lidera, é evidente.
Mas a crítica não enveredou por aí. Basta ler.
Está em curso a pura depredação, a ânsia de liquidar logo a disputa, para fazer cumprir predições antigas de que Lula definiria o jogo, e ponto final!
Li verdadeiras apologias à “superprodução” da campanha petista, tomada sempre como o oposto do suposto acanhamento da propaganda tucana — boa parte dos textos vazada entre o desdém (para um lado) e o triunfalismo (para outro).
E a questão democrática?
E o que cada uma das campanhas dizia no que concerne à política, aos eleitores?
Nada!
Nem uma linha.
Serra estaria se negando, assim, a confrontar Lula, a fazer política etc.
Então tá.
Chegou a quarta-feira.
19/08/2010
continua no post abaixo
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