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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O assassinato da política - continuação do post acima




O assassinato da política
Agora os isentos petistas acham que Serra foi “agressivo”



Debate Folha/UOL e a agressividade

Veio o debate Folha/Uol. Ele está no ar para quem quiser ver. O candidato tucano fez críticas ao governo, cobrou posições da candidata do PT; apontou incoerências — e foi alvo, igualmente, de críticas e cobranças.

Estava ali, enfim, alguém de oposição.

Foi o que bastou!

Certo jornalismo (falo a respeito dele na seqüência do texto) sacou da algibeira a palavra “agressividade”.

Isto: Serra estaria sendo “agressivo” como reação, então, às pesquisas eleitorais. Embora a estrutura do debate fosse outra, repetiu o tom da atuação do debate feito na TV Bandeirantes.

Como se decretou a sua “agressividade” — acusação que, na verdade, partiu dos petistas —, logo se buscou, como se diz, “repercutir” o que seria uma nova estratégia para enfrentar as más notícias nas pesquisas.

Então é preciso ouvir pessoas que referendem a tese. E elas foram ouvidas. No Globo Online, quem endossava esse ponto de vista eram o “isentos” Marco Aurélio Garcia e Rui Falcão. Na Folha Online, Gaudêncio Torquarto, um articulista que está na área de influência de Michel Temer, vice de Dilma Rousseff.


E em que consistiu a “agressividade” de Serra? Ora, vejam o debate: em apontar o que considera falhas na administração — e se espera, afinal de contas, em todas as democracias do mundo, que o candidato da oposição o faça.

Até outro dia, especialmente quando ainda não era candidato, o tucano era convocado para um bate-boca.

Não com Dilma, candidata então só oficiosa, mas com Lula. Sim, queriam que Serra partisse para o confronto pessoal com quem não iria disputar eleições.

Como ele declinava do convite, afirmava-se:

“Estão vendo?

Não quer se comportar como oposição!”

Agora, quando decide confrontar, em tom bastante respeitoso (há o vídeo!), a candidata do governo, porque é a hora, aponta-se a “agressividade” que teria nascido da “adversidade”.




Estado terminal

Não me lembro, desde que leio jornal — e já faz tempo porque comecei a militar com 14 anos — de uma imprensa, com as exceções de praxe, como a que leio agora. Em 1975, ainda sob forte censura, já dava para perceber uma dissonância ou outra, que se acentuou durante o processo de abertura.

Vieram as eleições de 1982, as Diretas-Já, Sarney, as diretas propriamente, Collor, Itamar, FHC…



E o jornalismo foi-se tornando cada vez mais crítico. Agora à distância, já dá para caracterizar algumas coisas: muitas das divergências eram, a partir de um certo momento, ação partidária.

Só que “O Partido” chegou ao poder — e o que era contestação transformou-se em mera justificação do presente. Ocorre que “O Partido” tem valores. Serão valores democráticos? Já volto aqui.

Antes que o processo sucessório fosse deflagrado, definiu-se em amplos setores da imprensa e em alguns aparelhos que até chegam a se confundir com institutos de pesquisa que a sucessão, no Brasil, se daria segundo a vontade de Lula.

A equação considerada fatal era esta: presidente muito popular faz seu sucessor, pouco importando se algumas democracias do mundo já demonstraram, na prática, que pode não ser assim.

Basta que se recue no tempo — a Internet pode servir para derreter memórias, mas também pode servir para reavivá-las — e se verá: mesmo quando Serra vencia a disputa no primeiro turno, asseverava-se: “Vai mudar”.

E se estabeleceu uma doxa: Lula elege quem ele bem quiser. E o noticiário passou a perseguir esse futuro.

Em muitos casos, esforçou-se para construí-lo. Era o caso de perguntar: “Eleições para quê? O fututo está selado!” Leiam a Folha de S. Paulo hoje: “Eleições para quê? O futuro está selado!”

Dilma, hoje, está na frente. Os analistas diriam, então, satisfeitos: “Viram como estávamos certos?” Porque, no passado, asseverava-se que tudo iria mudar, praticamente não havia notícia positiva para o tucano. Porque acabaram mudando, continua a não haver notícia positiva para o tucano, claro!, pouco importa o que ele faça e o que aconteça.

É o que se viu no debate Folha/UOL: a superioridade de Serra no encontro ficou patente, embora Dilma Rousseff não tenha sido um deastre. Mas não! Isso jamais se dirá.

Ao contrário: a candidata petista está despertando em certos círculos uma perversão intelectual inédita (vejam qual é no post abaixo deste).

Desempenho de Serra?

A Folha decretou a morte da candidatura tucana na edição desta quinta.

Basta ler. Como se estabeleceu que ele vai perder, então não faz nada de certo ainda que faça, e os erros dela acabam se revelando… acertos.


Os valores

O debate político na imprensa encontra-se em estado terminal — e as exceções só evidenciam essa agonia. Entre a militância partidária, a submissão à patrulha e a mais assustadora ignorância — há gente cobrindo política que jamais leu um maldito livro a respeito; e, bem, ela também é uma ciência e congrega um saber —, sobra espaço para a torcida e para uma variante de assédio moral, que o PT exercita com rara competência.

O que importa que Lula se coloque como o “dono” do povo, doando-o, por vontade soberana — como o jingle e a propaganda deixam claro — à sua candidata?

Que importa que esse tipo de pensamento tenha história, tenha uma filiação ideológica, tenha, em suma, passado?

Que importa que isso seja, em si, a negação de princípios básicos da democracia?

Nada importa!

No fundo, boa parte vê o confronto eleitoral como a luta entre “progressistas” e “reacionários”, ainda que notáveis e notórios reacionários sejam hoje garotos-propaganda daquele tipo de progressismo.


Encerro

Não vejo nada disso com olhos apocalípticos ou dou, sei lá, a causa por perdida. Não tenho causa nenhuma! Faço a crítica porque acho que meus leitores têm direito a esse debate e porque quero que esse registro fique como documento de um tempo.

E houve um tempo em que um candidato de oposição contestar uma candidata do governo foi considerado “agressividade”.

Houve um tempo em que “o pai do povo” anunciou que passaria o bastão para a “mãe do povo”, e a quase totalidade do jornalismo político fez um silêncio cúmplice, rompendo-o apenas para atacar o candidato da oposição. Não que ele não possa ser atacado.

Claro que pode!

Mas quais são os valores que pautam, num caso, o ataque e, no outro, o silêncio?

Entre petistas, ignorantes e covardes, os covardes são o pior tipo, como sempre.
Afinal, os petistas sempre sabem o que fazem;

os ignorantes nunca sabem o que fazem;

e os covardes fingem não saber, fazendo.


19/08/2010

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