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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os presidenciáveis na TV: linguagens diferentes revelam estratégias diferentes. E você tem de saber


Xiii, hoje estou meio imodesto…

Acho que este texto analisando os programas de Serra e Dilma na TV ficou bem bacaninha.

Parece que tanto o programa do tucano José Serra como o da petista Dilma Rousseff foram eficientes segundo as escolhas que fizeram.

O que quer dizer “eficientes”?

As mensagens foram claras.

O telespectador-eleitor é que vai avaliar.

Foram eficientes, mas muito diferentes, com expectativas e propósitos distintos.
O programa de Serra foi quase monotemático: saúde.

Os problemas foram apontados, mas apelando à linguagem propositiva: em vez de destacar as carências, com a exposição de dramas pessoais, apontaram-se aquelas que o candidato considera as soluções, com o elenco de medidas que tomou quando ministro da Saúde, prefeito e governador de São Paulo:
genéricos, programa contra a AIDS,  Saúde da Família, AME, mutirão para cirurgias.

Serra deu especial destaque ao programa Mãe Brasileira: ele promete estender a todo Brasil o Mãe Paulistana, que lançou quando prefeito, repetindo experiência da prefeitura tucana de Curitiba.
Parece que a estratégia tucana é dar uma desacelerada na vertigem do processo eleitoral, chamando a atenção do telespectador para problemas específicos da gestão e lembrando que há medidas que podem ser adotadas para melhorar o Brasil.

Há uma preocupação didática.

Suponho que os programas serão temáticos.

No que diz respeito à personagem propriamente, procura-se mostrar a trajetória do menino vindo de uma família humilde e que acabou, como ministro da Saúde do Brasil, recebendo um premio na ONU em razão da excelência de seu trabalho.

Sua imagem parece serena e confiante no vídeo.

Dilma

O programa no PT  não querer saber de maratona e de corrida de longa distância. É para resolver tudo já, para tentar liquidar a fatura no primeiro turno.

Não medi o tempo, mas Lula ocupou pelo menos metade do programa. Na abertura, Dilma aparece no extremo sul do Brasil, com casaco de frio; ele, no extremo norte, em mangas de camisa. Um cientista social estrangeiro que ignorasse tudo sobre o Brasil, ao assistir ao programa e ler a legenda, concluiria nos dois ou três primeiros minutos:

“Essa é a linguagem que a direita fala mundo afora”.
Em vez daquele sotaque permanente que evoca a luta de classes, ainda que de forma subliminar, o programa pregou a continuidade de um país “com estabilidade; sem susto; sem conflitos”.
Não se fez, não por enquanto ao menos, uma só proposta objetiva, nada.

A mensagem é uma só: Dilma é a continuidade.

Está fundando o videoclipe do oficialismo.

Os da minha idade e até os mais jovens devem se lembrar do Canal 100, aquele “jornal” que abria as sessões dos cinemas de todo o Brasil durante a ditadura militar: o mesmo triunfalismo, a mesma felicidade espelhada no rosto do povo.

A linguagem foi modernizada. Digamos que o programa do PT na televisão eleve para a fase da orgia aquela permanente celebração do governo presente ao longo de quase oito anos na propaganda oficial e na das estatais.

Dom Sebastião

E vocês viram de novo o Lula como Dom Sebastião, aquele que está saindo e que já deixaria saudades…

Em película, em preto e branco, a câmera “lambe” o presidente passeando pelo palácio, “lambido”, por sua vez, por seus olhos talvez postos no passado , talvez no futuro.

Ela é a escolhida, diz Lula. Mas, se dúvida houver, a mensagem é uma só: ele continua por aí.
Aquele mesmo estrangeiro que ficaria com a impressão de que Dilma é a candidata da direita — o pais “sem susto”, “sem conflito”, “com estabilidade” — mudaria de idéia ao ler, estarrecido, a letra de uma canção — com evidente sotaque melódico das músicas de protesto dos anos 60 — para ilustrar o que seria a passagem do bastão.

Cantada em primeira pessoa, como se fosse Lula a fazê-lo, ouvimos:

Deixo em tuas mãos o meu povo
E tudo o que mais amei
Mas só deixo porque sei
Que vais continuar o que fiz
E meu país será melhor
E o meu povo mais feliz
Do jeito que eu sonhei e sempre quis
(…)
Agora as mãos de uma mulher vão nos conduzir
Eu sigo com saudade, mas feliz a sorrir
Pois sei, o meu povo ganhou uma mãe
Que tem um coração que vai do Oiapoque ao Chuí

Num programa tecnicamente bem-feito, isso é evidente, o apelo é do mais arreganhado populismo, evidência máxima do processo de deseducação a que Lula conduziu a política, fazendo-a regredir ao personalismo mais primitivo.

Como escrevi à tarde, Lula é o “Getúlio da exaltação”.

Aquele se matou, oferecendo-se como o cordeiro em sacrifício para que “o povo fosse livre” — vocês conhecem essa cascata.
Lula, sem prejuízo de também se considerar o sumo e a síntese do Brasil, oferece-se como um corpo de celebração.


Para que ele viva, no entanto, é preciso que a política se suicide.


E ela pode estar bem perto disso.


17/08/2010

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