continuação do post acima
Cara ou coroa?
Por *Fernando Henrique Cardoso
Será?
As comparações feitas, fundadas ou não, apontam mais para o lado psicológico.
O que está em jogo, entretanto, é muito mais do que a diferença ou semelhança de personalidades.
O quadro fica confundido com a discussão deslocada do plano político para o pessoal e, pior, quando se aceita a confusão a que me referi inicialmente entre a situação de desafogo e bem-estar que o país vive e Lula, que dela se apossou como se fosse obra exclusiva sua.
Se tudo converge nos objetivos e se estamos vivendo um bom momento na economia, podem pensar alguns, melhor não trocar o certo pelo duvidoso.
Só que o certo foi uma situação herdada, que embora aperfeiçoada, tem a marca original do fabricante e o duvidoso é a disposição da herdeira eleitoral de continuar a se inspirar na matriz originária.
O candidato da oposição, este sim, traz consigo a marca de origem: ajudou a construir a estabilidade, a melhorar as políticas sociais e a promover o progresso econômico.
Não nos iludamos.
O voto decidirá entre dois modelos de sociedade. Um mais centralizador e burocrático, outro mais competitivo e meritocrático.
No geral, ambos oponentes levarão adiante o capitalismo.
Estamos longe dos dias em que o PT e sua candidata sonhavam com o que Lula nunca sonhou: o controle social dos meios de produção e uma sociedade socialista.
Mas estamos mais perto do que parece de concretizar o que vem sendo esboçado neste segundo mandato petista: mais controle do estado pelo partido, mais burocratização e corporativismo na economia, mais apostas em controles não democráticos, além de maior aproximação com governos autoritários, revestidos de retórica popular.
A escolha a ser feita é, portanto, decisiva.
Como tudo indica, o teatro eleitoral se está organizando para esconder o que verdadeiramente está em discussão.
Há muita gente nas elites (vilipendiadas pelo lulismo nos comícios, mas amada pelos governantes e beneficiada por suas decisões econômico-financeiras) aceitando confortavelmente a tese de que tanto dá como tanto deu.
Dê cara ou dê coroa, sempre haverá “um cara” para desapertar os sapatos.
Ledo engano.
Há diferenças essenciais entre as duas candidaturas polares.
Feitas as apostas e jogado o jogo, será tarde para choramingar, “ah, eu nunca imaginei isso”.
Melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto e escolha um ou outro lado. Há argumentos para defender qualquer dos dois.
Mas que não são a mesma coisa,
não são.
não são.
E não porque num governo haverá fartura e noutro escassez, para pobres ou ricos.
E sim porque num haverá mais transparência e liberdade que noutro.
Menos controle policialesco, menos ingerência de forças partidário-sindicais.
E menos corrupção, que mais do que um propósito é uma consequência.
31 de julho de 2010
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