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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Protógenes vai à guerra 2


Protógenes vai à guerra

O delegado acusa o comando da Polícia Federal de vigiá-lo durante as investigações contra Daniel Dantas. E se prepara para reagir às acusações de que avançou o sinal na Operação Satiagraha
Rodrigo Rangel, de Brasília

Baiano de nascimento, mas criado no Rio de Janeiro, Protógenes ganhou esse nome porque seu pai, ex-militar do Exército, resolveu homenagear o almirante Protógenes Guimarães, ministro da Marinha no primeiro governo de Getúlio Vargas e governador do Rio entre 1935 e 1937.

Aos 49 anos, pai de três filhos de três casamentos diferentes, o delegado mais polêmico do momento é cristão – e demonstra ser bastante ligado à família.

Um dos celulares que o acompanham 24 horas por dia serve apenas para falar com a mulher. O aparelho tem um toque diferente, daqueles bem escandalosos.

Apesar de estar em meio a um furacão, Protógenes se mostra um homem multitarefas. Arruma tempo até para pagar as contas de casa.

E o faz com atenção. A ponto de perceber que o plano de saúde está lhe cobrando em dobro a fatura do mês. O delegado reclama. E logo segue para o banco, tendo à mão meia dúzia de boletos, um deles das Casas Bahia.

O delegado é de hábitos simples. Anda bem vestido, com gravatas vistosas. Mas não faz questão de luxo. Nos hotéis onde se hospeda, sua única preocupação é com a privacidade.

Semana passada, em rápida viagem a Goiânia para receber uma homenagem, ele se ausentou por algumas horas do hotel. Ao retornar, não hesitou em pedir para trocar de quarto.

A explicação para o pedido: enquanto estava fora, alguém poderia ter entrado e instalado uma escuta. No quarto novo, escolhido de supetão, não haveria esse risco.

Na véspera, outra cena do delegado que desconfia de tudo. Era noite. Num restaurante do Setor Marista de Goiânia, ele se senta para jantar. O salão está vazio e, à exceção da mesa onde está sentado, um casal chega e ocupa justamente a mesa ao lado.

Logo, começa a disparar flashes em direção à mesa do delegado. Protógenes desconfia. Eleva a voz. Quer que o casal perceba que ele está incomodado. A estratégia funciona. Coincidência ou não, o casal logo pede a conta e sai, apressado.

Sem as prerrogativas dos tempos em que presidia o inquérito da Satiagraha, ao delegado agora resta a expectativa pelo resultado das quatro investigações abertas pelo Ministério Público e pela própria Polícia Federal para apurar supostos desvios em sua operação.

“Isso tudo vai ser esclarecido”, afirma.

Enquanto isso, Prótogenes colhe apoios pela internet, em seu blog pessoal, e começa a assumir um ativismo diferente daquele de antes: planeja viajar pelo país em atos contra a corrupção.

O primeiro deles foi justamente o da semana passada, em Goiânia.
O delegado foi aplaudido de pé por uma platéia formada, em sua maioria, por estudantes de direito. É uma cena do Protógenes solitário, que agora não anda mais cercado por seu staff. Ainda possui aliados, mas a crise os obrigou à discrição.

Para esta quarta-feira (17), há mais um evento na agenda. Desta vez, em Porto Alegre. Na capital gaúcha, Protógenes participará de debate sobre corrupção a convite da deputada federal Luciana Genro, do PSOL.

Falará sobre as dificuldades que enfrentou na Satiagraha e, inevitavelmente, sobre seu afastamento da investigação. Por ironia, discursará a convite da filha do ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a Polícia Federal está subordinada.

O delegado tem discurso pronto para as críticas. Além de negar que tenha feito ou encomendado escutas ilegais, diz não haver nenhuma ilegalidade na participação de agentes da Agência Brasileira de Investigação (Abin) na Operação Satiagraha.

“A Abin faz parte do Sistema Brasileiro de Inteligência, o Sisbin, e a troca de informações pelos órgãos que integram esse sistema é normal”, diz.

A mesma explicação o delegado dá para a participação dos serviços secretos das Forças Armadas, revelada por ÉPOCA. O que nem Protógenes sabe dizer é até onde foram os agentes secretos nos quais depositou sua confiança.

Há quem admita a possibilidade desses agentes, sabe-se lá movidos por quais interesses, terem implantado uma bomba-relógio dentro da investigação mais importante da vida do delegado.

O clima, agora, é de desconfiança geral.



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