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terça-feira, 12 de agosto de 2008

Lula prepara (de novo) o golpe de Estado do terceiro mandato

Embalado pela popularidade, Lula convoca sua tropa-de-choque para retomar a tese da prorrogação do seu mandato.

No mais recente movimento, o presidente levou para a Argentina o
deputado- metalúrgico Devanir Ribeiro, autor da emenda do terceiro mandato, e instalou-o como isca na comitiva de 264 empresários para sondá-los sobre o assunto.

Há tubarões Fiesp que agora acham que o melhor para o Brasil seria mudar a Constituição para manter Lula mais tempo no poder. Se isso prosperar, voltamos à escuridão política, aquilo que o professor Oliveiros Ferreira define como a nossa "longa noite hobbesiana", numa referência a Thomas Hobbes, autor de "O Leviatã".

Por HUGO STUDART

Desde que foi criado, há 28 anos, o PT vem sendo chamado pelos intelectuais liberais de a “UDN de macacão”. Esse apelido, inventado pelo professor Cláudio Lembo, tinha por objetivo ironizar o falso-moralismo e a histeria denuncista demonstrados pelos petistas –obviamente até estourar o escândalo do mensalão. Pois agora o PT apresenta uma outra característica daquela velha UDN do brigadeiro Eduardo Gomes: a atração atávica por golpes de Estado.

Pois o presidente Lula voltou a se movimentar pelo terceiro mandato. Ano passado ele ensaiou a idéia duas vezes. No primeiro semestre, a Executiva do PT discutiu abertamente o plano de promover um plebiscito para a adoção do parlamentarismo – com Lula, de novo, com a força do povo, evidentemente.

No segundo semestre Lula colocou na rua o bloco que pregava o terceiro mandato. Diante da reação dura da oposição, Lula recuou e fechou um acordo com a ministra Dilma Roussef. Lula lança Dilma candidata à sucessão. Em troca, Dilma se comprometeu a só ficar no poder um único mandato, caso seja eleita, abrindo espaço para a volta de Lula em 2014.

A ISCA DE LULA

Nesta semana Lula esteve em Buenos Aires, à frente de 264 empresários. Levou também alguns políticos, entre eles o deputado federal Devanir Ribeiro, do PT paulista, autor da emenda do terceiro mandato. Devanir não ficou entre os colegas políticos, mas se inseriu estrategicamente na comitiva de empresários.

Devanir pertence ao baixo clero da Câmara, mas não é um deputado qualquer. Ele faz parte da bancada pessoal do presidente. É amigo de Lula desde os anos 70, quando os dois foram diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No Congresso, se presta ao papel de ventríloco informal do presidente. O que ele diz, é compreendido como recado de Lula que não pode ser enviado pelos canais formais.

Em Buenos Aires, o deputado estava em missão acintosa do Planalto. Puxou assunto com vários empresários sobre o governo Lula. E sobre como seria bom que o presidente pudesse continuar por mais tempo no poder. Lula sondava o capital a procura de peixes graúdos dispostos a morder a isca. Devanir era a isca de Lula. Nem sabia direito quem era quem. Apenas foi colocado ali, como atrativo aos tubarões.

Na segunda-feira 4 de agosto, Devanir se viu cercado de quatro empresários de peso, sendo dois deles diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp. Foram eles que puxaram assunto sobre a emenda do terceiro mandato – segundo relatou Devanir, já de volta a Brasília, em conversa reservada com um petista amigo. Durante essa conversa, os empresários teriam dito a Devanir que a melhor saída para o Brasil, no atual cenário, é continuar com Lula. E pediram a ele que reapresente sua emenda constitucional, que volte a falar abertamente sobre o terceiro mandato, porque há centenas de grandes empresários dispostos a apoiar a idéia – e a convencer seus deputados e senadores a votar na emenda.

Devanir fala a verdade. Pelo menos no essencial. Confirmei com dois empresários que estavam em Buenos Aires que a tese do terceiro mandato foi correu solta entre eles.

Há capital graúdo a fim de manter Lula. Entre eles, estariam Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau, Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, e Márcio Cypriano, presidente do Bradesco.
Na quarta-feira 6 de agosto, quando Lula seguia para a China e a comitiva política estava de volta a Brasília, a tese do terceiro mandato retornava às conversas de bastidores do Congresso Nacional.

OS TRÊS FATORES DE RISCO

Um fato novo e dois antigos estão levando Lula mudar de planos e a preparar um golpe constitucional:

1) O fato novo é um possível terceiro mandato para o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia. Quando Lula ensaiou a mudança constitucional, ano passado, o precedente externo era Hugo Chávez, da Venezuela.

Se a tese fosse aprovada por aqui, seria inevitável a comparação de Lula e Chávez pelos analistas de Wall Street, algo péssimo para nossos negócios. Agora é diferente.

Uribe é o maior aliado dos Estados Unidos no continente. Está derrotando com armas em punho os narco-terroristas das Farc. Uribe busca o terceiro mandato. Se passar na Colômbia, não haverá mais resistência dos aliados ocidentais para que o terceiro mandato seja adotado também para Lula.

2) Outro fato é que a popularidade de Lula prossegue batendo recordes em cima de recordes por conta dos programas sociais e de uma condução correta da economia. A última novidade, anunciada na terça-feira 5 de agosto, é que a classe média agora representa 51% da população, um fato histórico espetacular, admita-se.;

3) O terceiro fato é que a oposição, capitaneada pelo PSDB, continua cada vez mais perdida. Não consegue apresentar programa de governo alternativo. E muito menos dá sinais de conseguir se unir em torno de um candidato único ao Planalto. Enfim, estamos sem oposição.

DUBIEDADE PRESIDENCIAL

Quando a idéia do terceiro mandato tomou fôlego pela primeira vez, em setembro de 2007, Lula agiu com dubiedade.Em áudio público, o presidente condenou a idéia.

“Esse negócio de achar que tem pessoas que são imprescindíveis e insubstituíveis não existe em política”, disse na época. “A alternância de poder é uma coisa extremamente importante para o fortalecimento da democracia.”

Mas nos bastidores, Lula fazia de tudo para tirar de cena todos os possíveis candidatos da base do governo, como Marta Suplicy (leia detalhes logo abaixo) -- enquanto nada faz para conter os defensores do terceiro mandato.

Naquela investida, Devanir era apenas um dos defensores da idéia. “Nunca toquei nesse assunto diretamente com Lula”, jura Devanir a todos que perguntam. Ele, no entanto, faz a ressalva.

“O Lula nunca me desautorizou. Nem me repreendeu.”

Ora, ora, se Lula efetivamente não pensasse em terceiro mandato, teria intimidade para barrar a iniciativa de Devanir. Eles dividiram uma cela no Dops, quando Lula foi preso com base na extinta Lei de Segurança Nacional. Juntos, fundaram o PT.

Quando Lula chegou ao poder, ajudou Devanir a se eleger deputado federal. As duas famílias se freqüentam e Lula e Devanir costumam se encontrar nos finais de semana. “Já perdi a conta de quantas vezes estive no Alvorada”, diz o deputado.

Leia mais no Studart.

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