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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Entrevista: RUBENS RICUPERO

'A política externa brasileira perdeu seu último trunfo''
O ex-ministro da Fazenda diz que o colapso da Rodada de Doha foi fracasso da mais importante aposta do Itamaraty

Por RUDOLFO LAGO E OCTÁVIO COSTA

FABIANO CERCHIARI
RUBENS RICUPERO

O embaixador Rubens Ricupero cerca-se de cuidados para criticar o governo Lula. Afinal, até hoje ele paga pelo “escândalo da parabólica”, que levou à sua demissão do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco.

Ali, quando se preparava a campanha de Fernando Henrique Cardoso para suceder a Itamar, Ricupero foi flagrado fazendo inconfidências a um jornalista antes de dar uma entrevista na televisão.

Assim, Ricupero, atualmente diretor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo, esforça-se em equilibrar críticas e elogios quando analisa a política externa e comercial de Lula.

Com a autoridade, porém, de quem foi o secretário-geral da Conferência Nacional das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Ricupero avalia que o Brasil pagará um preço grande pelo insucesso da Rodada de Doha, de negociação de regras para o comércio internacional.

Para o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Doha era o último vértice de um tripé em que o Brasil apostou. As duas outras pontas – o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e o estabelecimento do Mercosul como único bloco de países no continente – já tinham malogrado.
O fracasso de Doha representa a derrota da última grande aposta brasileira no campo internacional. O Brasil, insiste Ricupero, não errou na tese.

Apenas não teve sorte. “O príncipe precisa de virtude e de fortuna (sorte)”, diz Ricupero, citando Maquiavel. “Na política externa, faltou a fortuna”, completa ele, ressalvando que sua avaliação não é crítica, mas, sim, objetiva.
ISTOÉ – O Brasil apostou todas as suas fichas no sucesso da Rodada de Doha, mas a cúpula fracassou. O que se projeta agora para o País?


Rubens Ricupero – A aposta brasileira na rodada e na Organização Mundial de Comércio era uma imposição da nossa realidade.
Um país que tem a sua competitividade concentrada na agricultura não tem outro caminho.

Os problemas maiores da agricultura derivam sobretudo dos subsídios e das barreiras que os países desenvolvidos utilizam.

Os europeus não vão abrir mão dos seus subsídios ou das suas barreiras se os americanos não fizerem o mesmo. Portanto, eles não vão negociar nada disso com o Brasil porque o que está em jogo para eles não é o Brasil, são os Estados Unidos.

Então, isso só se resolve no âmbito multilateral. Infelizmente, para o Brasil, não há alternativa senão as negociações na Organização Mundial de Comércio.
IstoÉ

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