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sábado, 17 de julho de 2010

Equivalência forçada





Por Olavo de Carvalho
MSM

Ao noticiar a prisão de Alejandro Peña Esclusa, a TV Globo praticamente endossou a versão oficial chavista de que o fundador da UnoAmérica tinha explosivos em casa e planejava um atentado em parceria com um alegado terrorista (na verdade um pífio ladrão de carros), o salvadorenho Francisco Chávez Abarca.


Quem quer que ouse mencionar em público o poder crescente e avassalador do Foro de São Paulo, fato comprovado por mil documentos e visível com os olhos da cara, é imediatamente acusado de "teórico da conspiração" e "paranóico".

Mas, evidentemente, não há paranóia nenhuma, nem mania de conspiração, quando ao mais leve sinal de que alguém não gosta do comunismo ou do PT a mídia em peso se levanta para denunciar, em tons apocalípticos, o "rearmamento da direita" e o retorno iminente da ditadura militar.



Exemplos, como esse, de percepção invertida - a patologia mental característica das ideologias revolucionárias - reaparecem praticamente todos os dias nos jornais e revistas deste país, e se tornaram tão costumeiros que já ninguém repara no que têm de perverso, de monstruoso, de estupidificante.

Os jornalistas da minha geração, imperando nas redações desde há vinte anos, apegaram-se de tal modo à sua mitologia de juventude, que, para poder continuar acreditando nela e vendendo-a ao público depois de tantas vezes desmoralizada, não hesitam em demolir a própria inteligência e proceder como se tivessem QI de galinhas.



O mais impressionante é o ar de seriedade - forçada até ao desespero - com que se entregam a esse exercício.

Ao noticiar a prisão de Alejandro Peña Esclusa, a TV Globo praticamente endossou a versão oficial chavista de que o fundador da UnoAmérica tinha explosivos em casa e planejava um atentado em parceria com um alegado terrorista (na verdade um pífio ladrão de carros), o salvadorenho Francisco Chávez Abarca.


Para fingir que salvava um pouco da sua defunta credibilidade, o canal consentiu apenas em "ouvir o outro lado" um pouquinho e declarar que, segundo a família de Peña, a denúncia era falsa.



Ora, "ouvir o outro lado" é apenas um preceito formal.

Justo e necessário em princípio, não pode no entanto ser usado como pretexto para neutralizar ou substituir a obrigação substantiva e primeira do jornalismo, que é a investigação e avaliação racional da credibilidade das notícias.


"Ouvir o outro lado" não desobriga de praticar o senso de verossimilhança.


Se alguém anuncia aos berros que o sr. Luís Inácio da Silva botou um ovo e o sr. Luís Inácio alega timidamente que não fez nada disso, será bom jornalismo noticiar as duas coisas em pé de igualdade, com o ar mais neutro do mundo?


Deve-se ouvir o outro lado quando há dois lados.


Não há dois lados no confronto entre um estuprador e sua vítima de três anos.


Não há dois lados entre uma conta de 2 + 2 = 4 e uma de 2 + 2 = 5.


Não há dois lados entre a afirmação de que os hipopótamos são quadrúpedes e a de que são bípedes voadores.


Não há dois lados quando um governo associado a organizações terroristas como as Farc e o MIR chileno acusa de terrorismo um político desarmado que, ao mesmo tempo, o está processando por atos terroristas no Tribunal Penal Internacional.


Não há dois lados quando a afetação de neutralidade jornalística tem como única fundamentação lógica a hipótese de que o acusado, sem o menor treinamento ou experiência de ações truculentas, mandou chamar um ajudante alegadamente profissional (que na verdade não o é de maneira alguma) e, quando o ajudante foi preso, permaneceu placidamente em casa com um estoque de bombas, esperando por dias e dias a chegada da polícia em vez de dar no pé como qualquer terrorista que se preze o faria.



Essa história é tão louca, tão farsesca, tão obviamente forjada, que a simples idéia de noticiá-la em pé de igualdade com o desmentido já mostra a diferença entre a neutralidade genuína e o equivalentismo histriônico da Globo.

Num continente abalado pela onipresença do terrorismo de esquerda associado ao narcotráfico, a prisão de Peña Esclusa só serviu como artifício teatral para aliviar a angustiante escassez de terroristas de direita, que arriscava empanar o brilho da rentrée de Fidel Castro no palco internacional, ocorrida quase simultaneamente.



Não pode ser coincidência que a polícia política da Venezuela tenha tentado apresentar o ladrão de carros como colaborador de Luís Posada Carriles, acusado de ter explodido um avião cubano em 1976.

Tentando abafar a má impressão do festival contínuo de atentados, assassinatos e seqüestros praticados pelas Farc, pelo MIR, pelo ELN e outros membros do Foro de São Paulo, há trinta e quatro anos a ditadura cubana explora essa preciosidade única, o caso Posadas, para fazer a esquerda continental aparecer como vítima inerme da violência direitista.


A prisão de Peña Esclusa espreme uma vez mais esse limão que continua rendendo limonadas muito tempo depois de seu sumo ter descido abaixo do número de Avogadro.




Comentário

São tantos os "buracos" nesta história macabra que fica claro, para qualquer pessoa que tenha um mínimo de inteligência e acompanhe os fatos, que este circo foi montado com o único objetivo de levantar uma cortina de fumaça sobre o fracasso do tal bolivarianismo, do colapso energético, da semi-falência da PDVSA, das toneladas de comida apodrecidas em containers enquanto o povo passa fome, e uma maneira eficaz de "justificar" o encarceramento de todos os seus opositores de uma cajadada só.


Por Graça Salgueiro

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