Por Daniel Pipes
“Império”, a retórica principal do fascismo de esquerda
Nós sabemos o que Marx, Lenin, Stalin e Mao queriam (controle estatal de tudo) e como eles alcançaram essa meta (totalitarismo brutal); mas o que seus sucessores de hoje desejam e como eles esperam consegui-lo?
Curiosamente é um assunto ainda não examinado.
Ernest Sternberg da Universidade em Buffalo, Nova York, oferece respostas num artigo de abrir os olhos, numa recente edição da Orbis, “Purifying the World: What the New Radical Ideology Stands For[*]”. Ele começa esboçando rapidamente a quê a extrema-esquerda contemporânea (em oposição à “esquerda decente”) se opõe e o quê ela deseja.
A quê a esquerda se opõe: O principal inimigo é algo nomeado Império (sem necessidade de um artigo definido), um suposto monólito global que domina, explora e oprimi o mundo. Sternberg resume a abrangente denúncia da esquerda sobre o Império:
O povo vive na pobreza, a comida é contaminada, os produtos são artificiais, o consumo esbanjador é forçado, grupos nativos são desapropriados e a natureza em si é subvertida. Espécies invasivas espalham-se livremente, geleiras se derretem e as estações climáticas estão fora de equilíbrio, ameaçando uma catástrofe mundial.
O Império alcança isso por meio do “liberalismo econômico, militarismo, corporações multinacionais, mídia corporativa e tecnologias de vigilância”. E porque o capitalismo causa milhões de mortes que um sistema não-capitalista eliminaria, é também culpado de assassinato em massa.
Os Estados Unidos, obviamente, são o Grande Satã, acusados de acumular recursos desproporcionais. Suas forças militares oprimem os pobres para que suas corporações possam explorá-los. Seu governo promove o falso-perigo do terrorismo para agredir no exterior e reprimir internamente.
E Israel é o Pequeno Satã, servindo como o aliado sinistro do Império – ou talvez o estado judeu seja realmente o mestre? Das reuniões do Foro Social Mundial no Brasil à conferência contra o racismo da ONU em Durban e das principais correntes religiosas às ONGS, o sionismo é considerado como mal absoluto. Por que Israel? Além de um anti-semitismo não tão sutil, é o único país ocidental que vive sob o bombardeio constante de ameaças, que o compele a se engajar em guerras constantes. “Retiradas de qualquer contexto”, nota Sternberg, “as ações de Israel se enquadram com a indispensável imagem de agressor”.
Para confrontar os recursos superiores do Império, a esquerda precisa se aliar com qualquer outro que se opõe a ele – notadamente os islamistas. Os objetivos dos islamistas contradizem os da esquerda, mas isso não importa desde que os islamistas ajudem a combater o Império eles têm uma posição valiosa na coalizão.
O quê a esquerda busca: uma palavra-chave é autenticidade: A artificialidade do Império faz com que a cultura nativa seja análoga a espécies em extinção. A cultura deveria ser nativa, orgânica e protegida do mercantilismo crasso do Império (por exemplo: Hollywood), de seu racionalismo fictício e sua falsa concepção de liberdade.
Uma segunda palavra-chave é democracia: A esquerda rejeita a distante e formal estrutura de uma república madura e em vez desta, celebra uma democracia não hegemônica, estabelecida nas pequenas comunidades e que ofereça uma voz mais direta. O processo democrático, explica Sternberg “procederá por meio de reuniões livres das rédeas manipuladoras da lei, das normas, dos precedentes e da hierarquia”. No entanto, tais palavras floreadas, escondem uma receita para o despotismo; tais leis, normas, precedentes e hierarquias servem um propósito muito real.
Uma terceira palavra-chave é sustentabilidade.
Para integrar economias com o ecossistema da Terra, a nova ordem “funcionará com energia alternativa, cultivos orgânicos, mercados locais de alimentos, e um circuito fechado de indústria reciclável, isso se qualquer tipo de indústria for necessário.
As pessoas se locomoverão com transporte público ou dirigirão carros que exijam pouco da Terra, ou melhor ainda, dirigirão bicicletas.
Elas viverão em prédios verdes construídos com materiais locais e residirão em cidades que crescerão dentro de biorregiões.
A vida estará livre da emanação de gás carbônico. Será um modo de vida permanentemente plácido.”
Para integrar economias com o ecossistema da Terra, a nova ordem “funcionará com energia alternativa, cultivos orgânicos, mercados locais de alimentos, e um circuito fechado de indústria reciclável, isso se qualquer tipo de indústria for necessário.
As pessoas se locomoverão com transporte público ou dirigirão carros que exijam pouco da Terra, ou melhor ainda, dirigirão bicicletas.
Elas viverão em prédios verdes construídos com materiais locais e residirão em cidades que crescerão dentro de biorregiões.
A vida estará livre da emanação de gás carbônico. Será um modo de vida permanentemente plácido.”
O socialismo definitivamente forma parte deste quadro, mas a economia não domina mais, como antes dominou.
O novo objetivo esquerdista é mais complexo do que meramente o anti-capitalismo, ele constitui um inteiro modo de vida.
Sternberg nomeia este movimento de purificacionismo mundial, mas eu prefiro fascismo de esquerda.
O novo objetivo esquerdista é mais complexo do que meramente o anti-capitalismo, ele constitui um inteiro modo de vida.
Sternberg nomeia este movimento de purificacionismo mundial, mas eu prefiro fascismo de esquerda.
Então, ele faz a pergunta vital: Será que a última encarnação da esquerda mais uma vez se tornará totalitária? Ele acredita ser cedo demais para responder definitivamente, mas aponta para diversos “sinais totalitários preocupantes”, incluindo a desumanização de inimigos e as acusações de assassinatos em massa.
Ele alerta para um ponto de inflexão, quando fascistas de esquerda “se mantiverem fiéis à sua retórica cataclísmica e amarrarem cinturões suicidas ou pegarem em armas para tornarem-se mártires”.
Em outras palavras, os perigos são presentes e reais.
Ele alerta para um ponto de inflexão, quando fascistas de esquerda “se mantiverem fiéis à sua retórica cataclísmica e amarrarem cinturões suicidas ou pegarem em armas para tornarem-se mártires”.
Em outras palavras, os perigos são presentes e reais.
Chega daquelas teorias, em moda duas décadas atrás, aclamando quando o Muro de Berlim caiu, o fim da ideologia.
A esquerda reagrupou-se após a queda do leninismo e agora ameaça a humanidade com uma nova versão de sua ideologia anti-ocidental, anti-racional, anti-liberdade e anti-individualista.
A esquerda reagrupou-se após a queda do leninismo e agora ameaça a humanidade com uma nova versão de sua ideologia anti-ocidental, anti-racional, anti-liberdade e anti-individualista.
Atualizações em 22 de junho de 2010: Alguns pensamentos adicionais que não se enquadravam no artigo acima.
(1) Para um exemplo vívido do Império saqueando uma cultura nativa, em nada menos que em tecnologia 3D, veja o filme de James Cameron Avatar. [Leia: O 3D unidimensional de “Avatar”]
(2) Para provas de que esse tipo de pensamento não é apenas superficialismo de ONGs, mas possui consequências no mundo real, veja a Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez.
Tradução: Roberto Ferraracio
Publicado originalmente na National Review Online no dia 22 de junho de 2010. Também disponível no site do autor.
[*] NT: “Purificando o Mundo: No que a nova ideologia radical acredita” [O título em português é meramente ilustrativo].
13 de julho de 2010
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