Este trabalho versa sobre o livro MENTES CATIVAS
Seu autor - o escritor e poeta polonês Czeslaw Milosz, ganhador do prêmio NOBEL de literatura, em 1980, nasceu na Polônia, naturalizado norte-americano na década de setenta.
'Mente Cativa' analisa o poder dos regimes tiranos COMUNISTAS que escravizam homens e mulheres, não somente por meio do terror, mas por meio das ideias, obtendo a qualidade de 'propriedade sobre o espírito humano'.
Este trabalho constará de excertos extraídos do próprio livro, em várias partes.
Utilizarei as imagens do fotógrafo MISHA GORDIN - russo, também
naturalizado norte-americano, cujo trabalho expressa o HORROR do regime comunista.
PRÓLOGO ESCRITO PELO PRÓPRIO AUTOR
Este livro foi escrito entre 1951 e 1952 em Paris, em uma época cuja maioria dos intelectuais franceses ressentia-se da dependência de seu país à ajuda americana e alocava sua esperança em um novo mundo no Oriente , ditado por um líder chamado STALIN.
Seus compatriotas, que, como Albert Camus, ousaram mencionar a rede de campos de concentração como a pura base do regime socialista, foram DIFAMADOS e condenados ao ostracismo por seus colegas.
Meu livro, mediante sua aparição, em 1953, desagradou a todos. Os admiradores do comunismo o acharam infame. O livro foi uma aventura solitária, visto que se embasa em FATOS E DEFENDE-SE BEM contra todos os tipos de crítica.
Seu tema é a VULNERABILIDADE do pensamento intelectual do século 20 À sedução pelas doutrinas socio-políticas e sua PRESTEZA EM ACEITAR O TERROR TOTALITÁRIO pela PROTEÇÃO DE UM FUTURO HIPOTÉTICO.
Mente Cativa foi amplamente lido na POLÔNIA, após os anos oitenta e tem exercido um PAPEL LIBERTADOR
Berkeley, fevereiro de 1981
EXCERTOS INICIAIS
" Assisti uma garota russa com sua metralhadora, avançar em minha direção. Para ela, eu era um dos milhões de europeus a ser "libertados e educados". E o meu único bem era o meu macacão surrado de trabalhador que usava - minha única posse neste mundo"
" Mas como ?- pode indagar o leitor, "você pode tornar-se um oficial diplomático de tal governo, se não era um membro do Partido?"
A resposta se embasa no fato que escritores nas democracias populares pertenciam à nova casta privilegiada. Pensavam que indicar um escritor a um cargo diplomáitco produziria uma boa impressão no exterior.
" Você concordou em servir por dinheiro" - pode prosseguir meu leitor.
Não , não sou nenhum santo, mas aqueles que me conhecem têm consciencia de que minhas necessidades são modestas, exceto o amor aos livros.
Concordei em servir , em princípio, com medo do exílio, e também como forma de mater viva a LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
Servi no exterior, pois assim ficava livre da pressão direta.
Se me exilassem, perderia a chance de trabalhar em minha terra natal e participar do que acontecia em meu próprio país.
Mais tarde, admitiria minha derrota"
" Para se entender o curso dos eventos na Europa oriental e ocidental durante os primeiros anos pós-guerra, deve-se constatar que as condições sociais demandavam extensas reformas.
A guerra produziu uma desintegração da ordem social. Assim sendo, o que se planejou em MOSCOU como uma passo em direção à servidão foi voluntariamente aceito nesses países, que percebram isto como uma esperança.
Os homens se agarram à ilusões quando não há mais nada a se segurar
O método - ou seja, o materialismo dialético como foi interpretado por LENIN E STALIN, exerce uma poderosa e magnética influência sobre o homem fraco.
Nas democracias populares, outro nome para COMUNISMO, os comunistas falam da NOVA FÉ, e compara-se seu crescimento ao do cristianismo no Império Romano.
Na França, instituiu-se um grupo de padres trabalhadores que trabalham nas fábricas e levam o evangelho às massas. Uma grande parte destes padres abandonou o catolicismo e se converteu à NOVA FÉ - o comunismo.
À medida que os centros de controle do país foram elaborados pelos seguidores de MOSCOU fui forçado a me lançar no abismo. E o abismo, para mim, era o exílio, o pior de todos os infortúnios.
No campo da literatura, proíbe-se a independência, dizer a verdade como ele a vê .
Observe meu problema.
Minha casa na Polônia, meus amigos, minha família, os teatros nos quais minhas traduções de SHAKEASPEARE estavam sendo encenadas, editoras prontas para publicar meus livros.
MEU PAÍS E MINHA LÍNGUA.
O que é um poeta que não mais possui a sua Língua?
Mas reneguei à tirania e à conformidade.
Não me arrependo.
Por Gracias Ferraz
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