NO PROGRAMA DO JÔ
MAIO DE 2006(TRANSCRIÇÃO COMPLETA DO TRECHO SOBRE POLÍTICA)
(...) Carlos Vereza - Agora, Jô, eu faço questão de fazer um registro aqui...
Jô Soares - Que registro?
Carlos Vereza - Você e as "meninas do Jô" representam pra mim, representaram e representam pra mim um momento de autêntica tribuna livre neste país, onde nós podemos ver uma das raras tribunas fazendo uma crítica pertinente, sem sectarismo, da maior vergonha política que eu já conheci como homem brasileiro, que foi a história do mensalão, do dinheiro na cueca e desse projeto de poder e de autoritarismo, que tentou e tenta se instalar no país. Muito obrigado...
(palmas)
Jô Soares - (...) e obrigado em nome das "meninas do Jô", também. Obrigado, obrigadíssimo, mesmo...
(intervalo)
Jô Soares - (...) mas vamos falar desse negócio, dessa coisa que continua terrível e parece que as pessoas estão se acostumando, o que é mais terrível ainda, porque ficou claro que foi caracterizado além de tudo por um projeto de poder tentacular, para a coisa não parar de repente: você chegou a declarar à época, como fez a minha amiga Regina Duarte, que falou - foi muito criticada e debochada - porque falou "eu tô com medo". Eu acho que o medo dela foi muito menor em relação ao que aconteceu, não é não?
Carlos Vereza - Muito menor, muito menor...
Jô Soares - Você chegou a ter medo também?
Carlos Vereza - Eu apoiei a Regina, eu fui na ABI, dei uma declaração modesta, mas dei, ao Serra, enfim, porque o Serra é a verdadeira esquerda, que não é viúva do muro de Berlim. Aquela esquerda progressista, que sabe que existe o mercado, que exista a Internet, que existe a globalização - e tenta trafegar entre essas contradições em meio a esse desenvolvimento, que é irreversível. Então, essa esquerda que fica se lamuriando, que ainda fica chorando por causa da queda do muro de Berlim, é uma esquerda histérica, que só leva ao atraso e ao acirramento das contradições, no país.
Então, por exemplo, o Lula, com todo o respeito, o Lula é uma invenção da USP, da UNICAMP e das comunidades eclesiásticas de base, com o aval do falecido Golbery do Couto e Silva.
Por quê?
Porque o Lula - que foi capa seguidas vezes de revistas prestigiosas - o Lula dividiu a esquerda, que estava voltando do exílio, com Brizola, Luiz Carlos Prestes e tantos outros, que se sacrificaram realmente na luta contra a ditadura e foram exilados.
Então, quer dizer, o que era um grande líder metalúrgico transformou-se na "glamourização do apedeuta", na glamourização da ignorância, no "borderline", quer dizer, um sujeito fronteiriço. Ele agora diz que nunca se fez no mundo tantos benefícios para o trabalhador como ele fez, quero dizer, é um delírio absoluto, um megalômano...
(palmas)
Jô Soares - (...) agora, em nenhum momento nisso tudo, você chegou a ser fascinado pelo PT ou pela idéia do PT?
Carlos Vereza - Não, não. O PT não engana! O apelido que eu dava para o PT, assim que ele começou, era o de "sempre alerta" (faz o gesto) de escoteiro, um "partido-escoteiro", sempre alerta (faz o gesto, de novo). O PT foi a oposição mais feroz, mais cruel, mais desonesta que se fez a todas as tentativas boas e generosas que se tentou colocar em prática nesse país. Eles eram "contra", levavam apito, pandeiro, batiam na bancada do Congresso... e com o discurso da ética, da moralidade, da virtude, como se eles detivessem o monopólio da virtude, da verdade e da honestidade. E chegam ao poder, quer dizer, sem projeto de governo, sem um pensamento pra formar o rosto desse país, sem um pensamento que forme a face desse país...
Jô Soares - ... não, projetos eles tinham, projeto têm...
Carlos Vereza - ... projeto para permanecer no poder: o Lula ficaria oito (anos), o outro ficaria mais oito, o Lula voltaria, ficaria mais oito e assim por diante..., quer dizer, e a América Latina, que dizem que está dando uma guinada para a esquerda, mentira! Ela eAMIGstá dando uma guinada pro populismo e pro autoritarismo. Essa é a verdade!
(palmas)
Jô Soares - ... e um populismo pior que o do Péron e do Getúlio...
Carlos Vereza - Claro, claro...
Jô Soares - ... se é possível se dizer isso. Acho que é pior. Inclusive por causa da época, por causa do acesso às comunicações e pelo ranço do discurso que você vê - eu não vou citar líderes de outros países - mas você vê na televisão, volta e meia, algumas declarações de líderes de outros países da América Latina que são de um ranço, de uma antiguidade e mentiroso...
Carlos Vereza - ... totalmente mentiroso...
Jô Soares - ... e a perspectiva, quer dizer, de repente ninguém..., parece que não incomoda mais tanto esse negócio de terem quarenta pessoas que foram para o Ministério Público...
Carlos Vereza - ... quarenta, foi um ato corajoso...
Jô Soares - ... é verdade...
Carlos Vereza - ... faltou o Ali-Babá. Quer dizer, quem gosta de metáfora, como o nosso amigo gosta, o presidente, o promotor veio com outra metáfora: "prendi quarenta, e agora!?, indiciei quarenta, falta o Ali-Babá..." Quem advinhou? Advinhem, quem é o Ali-Babá?
tudo "haver"...
POR WALDO LUÍS VIANA
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