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quinta-feira, 16 de abril de 2009

A divisão do trabalhismo no Brasil.

Não querendo diminuir o brilho da corajosa entrevista de Carlos Vereza, para mim um verdadeiro pórtico histórico, gostaria de transcrever o que já disse, há muito tempo, num livro que escrevi sobre abuso do poder econômico nas eleições.

Aí vai...
"Um dia, quando os arquivos do regime militar puderem ser examinados por historiadores isentos, saberemos ao certo até que ponto o general Golbery influiu para dividir realmente o trabalhismo. Como todo bom conspirador e estrategista, o pai da geopolítica nacional sabia que o esfacelamento do poder civil, anterior a 1964, passava pelo aniquilamento do antigo PTB. O chefe da Casa Civil do general Geisel arquitetou a divisão do trabalhismo por medo de que a ordem anterior fosse restaurada. No entender do velho bruxo, um néo-populismo seria indesejável para o futuro do país. Assim, procurou fracionar o espólio trabalhista em três facções distintas: - um partido moderado, de centro-direita, comandado por Ivete Vargas;
- um partido progressista, de centro-esquerda, comandado por Leonel Brizola e
- um partido de esquerda social-trabalhista, chefiado por alguma dissidência radical de Leonel Brizola. O parto da última sigla nem chegou a acontecer, ficando a idéia à mercê do operariado urbano de São Paulo, que concentrou no metalúrgico e hoje deputado Luiz Inácio "Lula" da Silva a sua liderança exponencial. (...) Desejoso, entretanto, de abrir espaços aos trabalhistas desde que concordassem em se dividir, Golbery começou a negociar passo a passo a liberalização da Lei Orgânica dos Partidos, nos idos do governo Geisel.

Em tempos de exceção, qualquer conquista obtida pelos políticos ansiosos por novos partidos era comentada como concessão direta do maquiavelismo do general e prova de subserviência poir parte dos civis. Ivete Vargas era considerada, por seu desejo de ressuscitar o PTB, uma personagem submetida aos interesses do estrategista.

Por linhas sinuosas e transversas, de Golbery também se aproximou o professor Darcy Ribeiro, já que teve de agradecer ao general a sua volta ao país, sob condições e para tratamento de saúde, muito antes da Lei da Anistia.

O chefe da Casa Civil de João Goulart voltou, acreditando que padecia de um câncer irrecorrível. Felizmente não morreu e pôde, sem ser molestado e quase anonimamente, trabalhar pela volta dos demais exilados (entre eles, Leonel Brizola) e ajudar na reconstrução do trabalhismo.
Nesse ínterim, forças ocultas estranhamente chamaram a atenção de Brizola em seu exílio no Uruguai para o perigo que sua vida corria, sob ameaça de forças secretas e conjugadas da repressão do Cone Sul.
O ex-governador fugiu com a roupa do corpo e foi albergar-se nos Estados Unidos, sob a anuência do Departamento de Estado e do presidente Jimmy Carter.
Disseram as más línguas que a CIA ajudou a salvar a vida do ex-governador e que ele anda pagando o favor até hoje...
De qualquer forma, veio a Lei da Anistia e Brizola voltou menos agressivo e radical. Veio reorganizar o PTB, como confidenciava aos velhos amigos.
Enquanto isso, Golbery conspirava nos bastidores para que o registro provisório do Partido recaísse nas mãos da deputada Ivete Vargas, incompatibilizando-a à época com quem se considerava o único herdeiro de Vargas e precipitando o seu rompimento com Brizola. O duelo entre as duas vaidades terminou com o gesto histórico e teatral do ex-governador, rasgando em público a sigla que não conseguiu retomar e que desejava que fosse só dele. Foi fundado o PDT pelos seguidores de Brizola, ao mesmo tempo em que pelas mãos de Ivete o PTB seguia o seu tortuoso caminho. Estava cumprida, assim, a primeira etapa do trabalho divisionista do chefe da Casa Civil de Geisel e Figueiredo.

Faltava-lhe apenas isolar os esquerdistas num partido radical, sectário, mas que não fosse comunista - e àquela altura isso era fundamental para o regime. Uma sigla que aproveitasse o potencial contestador do operariado urbano em ascensão e o unisse a forças sociais progressistas.

Golbery achava importantíssimo que surgisse um partido com essas características para justificar o processo de abertura política e a absorção de contingentes trabalhistas mais radicais.
O Partido dos Trabalhadores surgiu então sob o comando de Lula da Silva e vem crescendo de eleição para eleição. O curioso é que o professor José Barbosa, que abonou a ficha de filiação de Getúlio Vargas ao velho PTB, desde 1975 até a reforma partidária, que começou em 1979, procurava sem sucesso registrar o seu "PT" - Partido Trabalhista.

Estranhamente, o TSE concedeu a sigla a outro grupo político, embora o partido do prof. José Barbosa tivesse um programa nitidamente socialista e o pedido antecedesse em alguns anos ao do PT de Lula.
A história haverá de dirimir tantas dúvidas e intrigas intestinas sobre a divisão do trabalhismo no Brasil. Com certeza, vamos ter respostas nítidas a todas as questões pendentes.

Não resta dúvida, porém, que todos os partidos, de origem trabalhista, que surgiram após a reforma partidária, queiram ou não, devem alguma coisa ao general Golbery. E os que mais contestam tal versão histórica, talvez sejam o que mais devem às bruxarias do mago da abertura."
(cf. WALDO LUÍS VIANA, "ELEIÇÕES, A VERDADE DO SEU VOTO", pp. 125 a 128, Rio de Janeiro, Ed. Cátedra, 1988)

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