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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Leis desdenhadas, negócios escusos

A ex-diretora da Anac Denise Abreu cansou de ser bode expiatório e botou a boca no trombone no Senado, ao confirmar o que as torcidas do Flamengo, do Corinthians e do Sport Recife sabiam:

1) Os compradores da VarigLog eram laranjas de um fundo internacional e, portanto, não poderiam fazer o negócio. Afinal, a lei limita a 20% o capital externo no setor.

2) Essa foi apenas uma etapa de todo o processo para que esse grupo comprasse a própria Varig depois, sem sucessão das dívidas trabalhistas e tributárias. E, numa guinada fantástica, pudesse vender tudo no final para a Gol, com um lucro estratosférico.

3 ) Tudo isso foi feito por pressão da Casa Civil e do advogado Roberto Teixeira, compadre e velho amigo do casal Lula e Marisa da Silva, que estiveram por trás de todos os passos para que a lei fosse jogada para o alto e os sucessivos negócios fossem fechados, sem resistência.

Quem fizer uma pesquisa dos jornais da época, particularmente da Folha, pode ver que os nomes de Teixeira, de Dilma, do fundo Matlin Patterson já estavam todos na roda. E que os pareceres, em tempo surpreendentemente rápido, se contradiziam e iriam acabar jogando a operação na Justiça.

Denise Abreu se declara "bode expiatório" da crise aérea e, aos seus interlocutores, tem dito que foi fritada simplesmente por se expor, por brigar pelos seus pontos de vista e por ter marcado uma imagem pública negativa, com um charuto na boca no meio da crise aérea.

Mas é inegável que seu depoimento foi sóbrio, convincente, sobretudo veraz. Vai ter conseqüências.

Ela defendeu enfaticamente o Comando da Aeronáutica e os colegas diretores Jorge Veloso e Leur Lomanto, também rifados, como ela. Mas foi dura com Milton Zuanazzi, descrito praticamente como marionete dos interesses de Lula, e com Dilma, Erenice Guerra (da Casa Civil e envolvida no dossiê contra FHC) e Roberto Teixeira. Não teve papas na língua.

Também foi dura com o procurador geral da Anac, João Ilídio, que estava internado no hospital, saiu às pressas e foi para os gabinetes de governo cumprir a vontade do poder, autorizando o negócio.

Denise colocou as cartas na mesa, disse que está muito calcada em documentos, que foi várias vezes ao Ministério Público e que toda a trama da Varig foi bem descrita pela imprensa ao longo de todo esse tempo.

Os governistas do Senado estão se empenhando arduamente. Mas vai ser difícil desmenti-la.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha

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