Por Reinaldo Azevedo
Sugeri ontem que os jornais e veículos de comunicação não se limitem a entrevistar só quadrilheiros e corruptos condenados pelo STF, como José Genoino e José Dirceu.
Por que o preconceito?
Por que Fernandinho Beira-Mar e Marcola não têm vez?
Por que só àqueles que tentaram assaltar o estado de direito é reservada a licença para, uma vez mais, insultar as instituições brasileiras?
Não vale afirmar que aqueles dois são assassinos etc. e tal porque a corrupção mata ainda mais gente.
Os dois chefões do crime organizado certamente têm o que dizer sobre o Poder Judiciário, a ética, a moral e os bons costumes, não é mesmo?
Os jornais não estariam interessados?
Houve um muxoxo aqui e ali.
A minha ironia teria sido agressiva…
É mesmo?
Certas áreas no Brasil ficam muito dodóis quando a gente chama as coisas pelo nome que elas têm — como fez, reitero, o ministro Celso de Mello, que apontou, com acerto, que quadrilha tão organizada como a dos mensaleiros só encontra paralelo, talvez, no Comando Vermelho, no Rio, ou no PCC, em São Paulo — ele não citou o nome desses grupos criminosos.
Ora… Ontem, no Globo, estava lá Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e atual chefão do Instituto Lula, a acusar o Supremo de “tribunal de exceção”.
Segundo ele, se forem para a cadeia — e parece que vão, a menos que se mandem para Cuba ou para a Venezuela —, Dirceu e Genoino serão “prisioneiros políticos”.
Imaginem vocês: serão “prisioneiros políticos” num regime democrático e de direito!!!
E quem é Vannuchi?
Trata-se do ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, um dos grupos terroristas mais letais que houve no país.
Vannuchi poderia ter aprendido algo de novo, mas não esqueceu nenhuma das coisas velhas.
Marighella é aquele monstro que redigiu um Minimanual da Guerrilha, em que fazia a defesa aberta do terrorismo.
No catecismo seguido pelo chefão do Instituto Lula, encontravam-se maravilhas como esta: “Hoje, ser “violento” ou um ‘terrorista’ é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada (…)”.
A ALN tinha um “Tribunal Revolucionário” que executava pessoas que estivessem “do outro lado”, incluindo partidários seus suspeitos de traição. Alguns desses assassinos executores são hoje anistiados e recebem grana oficial.
Pois bem.
Vannuchi, este grande humanista — aquele que tentou implementar um Plano de Direitos Humanos que censurava a imprensa, extinguia a propriedade privada no campo, perseguia símbolos cristãos e legalizava o aborto —, considera que o STF é um tribunal de exceção e condena sem provas.
Que coisa!
No blog, já contei a história de Márcio Leite de Toledo, de 19 anos, membro da ALN, que foi assassinado pelos próprios companheiros.
Por quê?
Ah, havia a suspeita, que depois se comprovou infundada, de que ele pudesse entregar alguém à polícia. Foi executado pelo “tribunal” com oito tiros.
De tribunal de exceção, Vannuchi entende.
Com esse histórico brilhante de militância, com esse amor ao devido processo legal, Vannuchi vem a público para acusar o STF de ser um “tribunal de exceção”, sustentando que, se presos, Dirceu e Genoino são “prisioneiros políticos”???
É asqueroso!
E amplos setores da imprensa acabam dando trela a isso que seria o “outro lado”?
Esperem aí: “outro lado” exatamente de quê?
Curiosos esses patriotas, não é mesmo?
Eles podem ser flagrados pela história de arma na mão, matando inocentes e tentando implementar uma ditadura comunista no Brasil.
E daí?
São heróis!
Devemos reverenciá-los e lhes ser gratos, dando curso à farsa segundo a qual lhes devemos o regime democrático.
Mas ainda é pouco.
Eles também nos custam dinheiro.
As reparações do Bolsa Ditadura já passaram dos R$ 6 bilhões.
Passa o tempo, e alguns mesmos protagonistas daquelas peripécias ou seus descendentes ideológicos são flagrados pela mesma história com a mão no cofre — e, desta feita, não é o do Adhemar! —, roubando dinheiro público em benefício de um projeto de poder (e, certamente, para o enriquecimento pessoal também em alguns casos), enxovalhando as instituições, transformando a República num bordel.
E o que eles dizem sobre si mesmos?
Ora, são heróis mais uma vez.
A ditadura que queriam derrubar servia para mascarar a ditadura que pretendiam implementar se vitoriosos fossem.
Mas e agora?
A que regime essa gente, então, se opõe?
À democracia!!!
Antes, todos os métodos seriam aceitáveis porque se tratava de depor um governo discricionário — é evidente que falseavam seus reais propósitos.
Desta feita, no entanto, buscaram fraudar as regras do jogo que havia lhes garantido a chegada ao poder e atacam os fundamentos da legalidade que lhes assegurou três eleições seguidas.
Um lógico convencional se perguntaria: “Mas por que diabos essa gente tenta solapar o modelo que lhes facultou o poder?”.
Ocorre que esse modelo também assegura o exercício do contraditório, a liberdade de expressão, a independência da Justiça, a imprensa livre. E o PT, desde sempre, chegou ao poder pela via democrática com o intuito de mudar a natureza da democracia, a exemplo dos regimes autoritários ou ditatoriais que o partido apoia na América Latina e no mundo.
Ironia final
Finalmente, Marcola pode ser um entrevistado mais interessante do que Genoino ou Dirceu porque parece um tantinho mais letrado, né?
Em julho de 2006, publiquei trechos de seu depoimento à CPI do Tráfico de Armas. Num dado momento de uma longuíssima conversa, tentando entender quem era aquela personagem, o então deputado Raul Jungmann (felizmente eleito vereador em Recife) tentou entender melhor o depoente. Transcrevo:
Jungmann – Aí fora se fala muito que você é um leitor voraz de livros. Aí eu queria pedir que você me dissesse quais são os seus 5 principais autores, ou 3. Como você queira. De quem mais você gostou?
Marcola – Nietzsche…
Jungmann – Nietzsche!
Marcola – Nietzsche, Voltaire…
Jungmann – Hã, hã. Quem mais?
Marcola – Victor Hugo, Les Miserables. Sei lá… Eu adoro ler. Santo Agostinho, em determinados momentos. Confissões… É uma gama muito grande. Depende do momento e da situação, a gente tem um determinado prazer a mais de ler determinado autor.
Neucimar Fraga – A Bíblia também?
Marcola – A Bíblia… (…) Não, mas eu li, claro. Estudei a Bíblia, muito, porque eu queria crer. Eu quero crer. Eu quero que exista uma força, mas eu sei que não existe, porque, se existisse, não poderia ter tanta injustiça. Não só por isso. Como eu digo, a Bíblia, umas 5 vezes eu li ela inteira, de Êxodos a Apocalipse. Êxodos, não. De…
Neucimar Fraga – Gênesis.
Marcola – Gênesis
JUNGMANN – Uma terceira questão, Marcos: você tem ídolos? Você admira alguém?
Marcola – Não.
Encerro
Não, não! Toda essa bibliografia douta de Marcola não deve servir para tirá-lo da cadeia. De jeito nenhum! Mas me ocorre aqui uma graça.
Vocês sabem que foram comunistas presos que ensinaram a criminosos comuns a lógica de formação de um “partido” do crime, certo?
O regime militar fez a besteira de botar esquerdistas para assediar bandidos…
Como se diz em Dois Córregos, juntou-se a fome com a vontade comer.
Deu nisso!
Coisas como Comando Vermelho e PCC são a versão leninista do assalto, do latrocínio e do tráfico de droga.
Por isso são organizações tão perigosas!
É o banditismo comum com cabeça de banditismo político.
E, por óbvio, o banditismo político também já se beneficia da tecnologia do banditismo comum.
Já que os esquerdistas ensinaram aos criminosos comuns como montar um partido, penso agora que Marcola poderia dar aula de filosofia para José Dirceu e José Genoino…
Na cadeia, claro!
Já que chefão do PCC sabe com funciona o centralismo democrático, os dois Zés podem aprender um pouco de Nietzsche, Santo Agostinho, até Victor Hugo…
As aulas de Marilena Chaui, convenham, não deram em boa coisa.25/10/2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Já que Marcola aprendeu com esquerdistas como fazer o partido do crime, agora eu proponho que alguns esquerdistas estudem filosofia com o Marcola. Na cadeia!
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