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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Senado dá um bom exemplo e cassa Demóstenes; que os ministros do STF sigam o exemplo e não empurrem o país para a lama



O Senado cassou o mandato de Demóstenes Torres por um placar bastante eloquente: 56 votos a 19, com 5 abstenções

Por Reinaldo Azevedo

Um único senador, que já estava de licença, não votou.

Ninguém faltou à sessão.

Está proibido de se candidatar a cargo eletivo por oito anos a partir do fim do seu mandato, que expiraria em 2018 — foi reeleito em 2010.

A punição se estende até 2026, e ele só poderá se apresentar ao eleitorado, mantido o atual calendário, em 2028, já que não há eleições em 2027.

Na prática, foi banido das urnas por 16 anos.

Termina de modo melancólico — e emblemático — a carreira política de um homem que parecia talhado para tarefas até maiores do que as compreendidas num mandato parlamentar.

Havia, no entanto, dois Demóstenes no Senado: Dr. Jekyll costumava abraçar as boas causas, afinadas com o estado democrático e de direito e se mostrava implacável com os desmandos da República, com os arroubos autoritários do Executivo e com as agressões aos direitos individuais.

Era, por isso, admirado por muitos, inclusive por alguns adversários ideológicos, que reconheciam nele as virtudes da coerência e da firmeza.

Mas ninguém sabia da existência de Mr. Hyde, aquele que trocava telefonemas frequentes com o contraventor Carlinhos Cachoeira e que atuava como uma espécie de despachante dos interesses de um grupo que se esgueirava nas sombras, do qual fazia parte.

Ainda que não tivesse sido cassado por seus pares, Demóstenes sabia que já tinha sido cassado por juízes bem mais severos: o seu eleitorado, que jamais o perdoaria ou perdoará.


Quando recuperar seus direitos políticos, José Dirceu vai se apresentar aos petistas e se elegerá deputado.

Eles se orgulham das porcarias que seu líder faz.

Os eleitores do senador que teve o mandato cassado nesta quarta são, na esmagadora maioria, pessoas honradas.

Não reconhecem naquele senhor das gravações o seu representante.


Esse é o aspecto que chamei “emblemático” do caso Demóstenes.

É claro que as esquerdas e os petistas procuraram inflar as suas lambanças;

é evidente que o fato de ele ser considerado um político conservador, “de direita”, pesou no processo de satanização;

é inquestionável que a patrulha ideológica colaborou para fazer do agora ex-senador o inimigo público número um do país.

Mas atenção!

Nada disso tira o peso daquilo que ele efetivamente fez.

Não foram os seus adversários que o impeliram ou o convidaram a se comportar como mero esbirro de um esquema que, tudo indica, frauda licitações, compra o mandato e o voto de políticos, torna irrelevantes os instrumentos de controle do uso do dinheiro público.


E aqui começo a tratar da segunda parte do título deste post, aquela que remete ao STF.

Vamos ver.

Não se iludam. Demóstenes Torres não era o único braço de um esquema a atuar no Senado ou, se quiserem, no Parlamento.

Seu caso provoca especial constrangimento porque parte das atividades de Cachoeira é clandestina.

Há outros que se comportam como despachantes de interesses privados no Legislativo, no Executivo e, infelizmente, também no Judiciário.

É certo que o nome do grande esquema, de que o contraventor é mera expressão local, é Delta.

Refaço aqui algumas perguntas: quem é, por exemplo, o Cachoeira do Rio?

Vale indagar: quem é o despachante de Fernando Cavendish nesse estado?

Quem é o Cachoeira do governo federal, o maior cliente da empreiteira?

Tudo indica que nem Polícia Federal nem CPI fornecerão essas respostas.

Nesse particular aspecto, Demóstenes é um bom bode expiatório: era um político de perfil conservador, defendia em seus discursos valores afinados com a austeridade (que agora são tachados de “falso moralismo”) e perdeu sua base social, uma vez que seus eleitores não moverão uma palha para defendê-lo.

E o STF com isso?

No começo de agosto, tem início o julgamento do mensalão — que é criminal, não político, como o do Senado, que avaliou se Demóstenes quebrou ou não o decoro.

Seria interessante indagar ao senador Humberto Costa (PT-PE), relator implacável do caso Demóstenes no Conselho de Ética do Senado, que destino ele espera para seus pares petistas no Supremo.

Não perderei um dos mindinhos se apostar que ele os considera a todos inocentes, puros como as flores.


Aquela que foi a mais grave ameaça institucional aos fundamentos da República — a compra de partidos políticos e de parlamentares, acenando para a tentativa de criar um Congresso paralelo — certamente parecerá coisa de pouca importância ao duríssimo Costa, convicto, a exemplo da esmagadora maioria dos petistas, de que os adversários são sempre criminosos, mesmo quando inocentes, mas que os aliados são sempre inocentes, mesmo quando criminosos.

Reparem, senhoras ministras e senhores ministros do Supremo: Demóstenes Torres foi cassado — e responderá por seus atos também na esfera criminal —, e ninguém sai por aí a alardear uma tramoia política para desestabilizar um ativo parlamentar da oposição.
Porque a suposição seria mesmo descabida, e ninguém, entre os antigos admiradores do trabalho do então senador, tem essa cara de pau.

Os defensores dos mensaleiros, no entanto, na política e também na imprensa, não se vexam de afirmar que o julgamento do Supremo representará o confronto entre as forças reformistas — os petistas — e os conservadores.

Um articulista como Janio de Freitas, por exemplo, da Folha, escolheu essa vereda.

Não, não! As convicções de Demóstenes — aquelas que ele alardeava ao menos — não foram cassadas; tampouco foram julgadas. Nem faria sentido!

Em nove anos e meio de mandato, ele defendeu, reitero, os fundamentos do estado democrático e os direitos individuais.

Não caiu por isso.

Da mesma sorte, O SUPREMO NÃO VAI JULGAR O DISCURSO OFICIAL DO PT, O SEU PROPALADO AMOR PELA JUSTIÇA SOCIAL E SUAS PREOCUPAÇÕES COM A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES — sempre destacando que há muito de mistificação e picaretagem nessa conversa.

Não será, em suma, isto a que chamam “progressismo” que estará em julgamento.

É claro que alguns vigaristas votaram em favor da cassação de Demóstenes também como vingança.

Em si, isso não tem grande importância.

O que interessa é o fato de a instituição ter deixado claro que certos comportamentos, se descobertos, são inaceitáveis.

Temos é de cobrar sempre mais transparência do Poder Público e exigir que as evidências de falcatruas sejam investigadas.

Cumpre listar no caderninho da rede mundial de computadores os políticos que estão tentando impedir que a Delta seja investigada.


O caso de Raul Filho (PT), prefeito de Palmas, é por demais eloquente.

O acordo, conforme revelam as fitas, foi feito com Cachoeira, mas a empreiteira é que foi beneficiada por contratos sem licitação.

A cassação de Demóstenes é positiva, ainda que insuficiente.

Cumpriu-se um dever, mas, como se vê e como Palmas evidencia, ainda não se cumpriu a tarefa.
Como instituição, o Senado sai engrandecido desse embate. Em agosto, será a vez de o Supremo dizer que Brasil espera nossos filhos e nossos netos.

Vamos saber, em suma, se as instituições que acabaram com a carreira política de Demóstenes Torres seguirão na trilha do bem ou serão expostas à sanha e aos métodos de José Dirceu.

Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Ayres Britto, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Dias Toffoli (???), Luiz Fux e Rosa Weber vão dizer se os crimes dos petistas são crimes ou são virtudes.

O Senado que há se aproximou um pouco mais de um bom Brasil a haver.

O STF vai decidir se o empurra ou não para a lama.

1/07/2012


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