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domingo, 8 de julho de 2012

Desarticulação e ineficácia




Desconexas, limitadas, sem objetivos claros, as medidas tomadas pelo governo para estimular a produção, o consumo e os investimentos privados, e assim reduzir o impacto da crise global sobre a economia do País, não estão produzindo os resultados esperados


Diante da sucessão de dados que demonstram sua ineficácia, já estão sendo criticadas até na área do governo.

"As medidas de estímulo foram insuficientes para reverter o cenário de maior retração da indústria", reconheceu o gerente de coordenação da área de indústria do IBGE, André Macedo, ao comentar os números de maio da produção industrial.

A queda foi de 0,9% em relação a abril e de 4,3% em relação a maio de 2011.

Esta é a nona queda consecutiva da produção mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Nos cinco primeiros meses de 2012, a redução já soma 3,4%. No resultado acumulado de 12 meses, a queda é de 1,8%.

As medidas anunciadas pelo governo visam a estimular o consumo de determinados bens industriais, entre os quais automóveis, eletrodomésticos da linha branca e mobiliário.

Os dados do IBGE indicam alguns resultados pontuais dessas medidas, mas mostram sobretudo que a queda é generalizada entre os diversos setores industriais. Houve queda de produção em 17 dos 27 segmentos pesquisados.

"Há predominância de resultados negativos em qualquer comparação que se faça", admitiu o gerente do IBGE. Tomando-se a média móvel trimestral, por exemplo, houve queda em 21 dos 27 setores industriais.

A desaceleração não se limita à indústria. Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seus principais assessores continuem a prever que o desempenho da economia neste ano será melhor do que em 2011, quando o PIB cresceu 2,7%, vai se consolidando entre os economistas do setor privado a avaliação de que o ritmo da atividade econômica está se desacelerando.

Pela oitava semana consecutiva, os economistas consultados pelo Banco Central para a elaboração de seu boletim sobre as expectativas do mercado reduziram suas previsões para o desempenho da economia em 2012.

A média das projeções para o crescimento do PIB neste ano caiu de 2,18% para 2,05%. A diminuição constante da confiança do empresariado, como a que acaba de ser constatada pela Fundação Getúlio Vargas com os empresários do comércio, sugere que, nas próximas sondagens do BC, a média das projeções será ainda menor.

Uma explicação para a baixíssima eficácia das medidas do governo foi dada por outro funcionário, o economista Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ao mesmo tempo esclarecedor e arrasador sobre a reação do governo aos efeitos da crise internacional, seu comentário merece reprodução extensa: "A política econômica está se transformando num emaranhado de medidas desconexas, pontuais, que não estão atuando no sentido de ganhar tempo para que se encontrem estratégias de longo prazo. As estratégias de longo prazo passaram a ficar de lado", disse, no lançamento do boletim Conjuntura em Foco elaborado pelo Ipea.

Em resumo, "estamos perdendo o foco da política econômica".

Às medidas pontuais, tomadas em caráter de urgência para "apagar incêndios", como as descreveu Messenberg, deveria se seguir a elaboração de uma estratégia de longo prazo, para assegurar o crescimento.

Uma decisão essencial neste momento seria o aumento dos investimentos - sobretudo os públicos, visto que, temerosos, os empresários paralisaram seus programas de expansão da capacidade produtiva -, mas isto não está sendo feito.

O gerente do Ipea equivoca-se, porém, ao afirmar que há um conflito entre ampliação do investimento público e preservação das metas fiscais.

Na sua opinião, a redução do superávit primário permitiria a ampliação da capacidade de investimento do governo.

Para o aumento dos investimentos públicos, porém, o contribuinte prefere outro caminho, mais racional: a redução do gastos de custeio.

08 de julho de 2012

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