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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Corrupção e governabilidade - Rubens Ricupero

Corrupção, hoje, passou a ser
condição para governar

"Se queremos um dia despertar e retomar o espírito de nação, nossa primeira atitude deve ser não a soberba nem a estima das coisas presentes, mas a vergonha".

Rubens Ricupero 
Folha de São Paulo

No país, substituíram-se a violência e a tortura como suposta
condição para ter segurança e governar


A CORRUPÇÃO passou a ser condição da governabilidade. É essa a justificativa de dirigentes de partidos do governo para sua cumplicidade no enterro dos escândalos parlamentares. A diferença com o regime militar é uma só: substituíram-se a violência e a tortura pela corrupção como suposta condição para ter segurança e governar.

Corrupção e violência, ensinava o filósofo Norberto Bobbio, são os dois tipos de câncer que destroem a democracia. No regime militar sacrificou-se a democracia em nome da segurança, elemento da governabilidade. Hoje a situação mudou e se usa o mesmo pretexto para fazer engolir o conluio ou a indulgência com a corrupção. Não sendo apanágio apenas de um governo, o vício se agrava ano a ano.

Nem a seriedade dos últimos escândalos, que comprometem instituições inteiras, conseguiu alterar a complacência dos governos, que pode não ser eterna, mas tem se revelado infinita enquanto dura.

Outro escândalo, agora de caráter intelectual, é que os politicólogos julgam o sistema de "presidencialismo de coalizão" como perfeitamente funcional, pois produziria governabilidade.

Aparentam-se os nossos sábios aos fundamentalistas do mercado, que também acreditavam na neutralidade moral do mercado, que seria autorregulável, capaz de se corrigir automaticamente.

Em ambos os casos, os resultados justificariam os meios. Contudo, o derretimento do mercado financeiro mostrou que as torpezas e as falcatruas dos operadores acabam por provocar degeneração funcional, destruindo a própria instituição. A moral e a ética não são adornos para espíritos delicados, mas componentes indispensáveis ao bom funcionamento de qualquer sistema.

Isso não vale apenas para os mercados. A Primeira República italiana, que resistira ao desafio de governabilidade devido à presença do maior Partido Comunista do ocidente, se desmoronou à luz da corrupção desvendada pela Operação Mãos Limpas. A República Velha brasileira afundou no pântano da corrupção eleitoral e foram os escândalos que puseram fim à carreira e à vida de Getulio Vargas.

Não passa de autoilusão a ideia de que a economia cresce e o país se desenvolve apesar da corrupção e dos escândalos. Também na Itália, o "milagre econômico", o dinamismo, a inovação pareciam legitimar um sistema decadente. Com o tempo, a corrupção e o fracasso na reforma das instituições produziram o inevitável: a estagnação e o desaparecimento do dinamismo. 


Seria diferente aqui onde os mesmos vícios tendem a produzir idênticos efeitos?

Quando foi assassinado o juiz Giovanni Falcone, Bobbio chocou a opinião pública ao declarar que sentia vergonha de ser italiano e deixaria o país se fosse mais jovem. 


Recompôs-se depois desse momento de abatimento moral. Neste centenário do seu nascimento, a capacidade de se indignar do velho filósofo tem sido evocada ao lado da lição do grande poeta Giacomo Leopardi.

Numa das incontáveis horas amargas da Itália, dizia o poeta:
 

"Se queremos um dia despertar e retomar o espírito de nação, nossa primeira atitude deve ser não a soberba nem a estima das coisas presentes, mas a vergonha".

No panorama de miséria moral de nossas instituições, deve-se escolher entre a atitude de soberba e estima das coisas presentes da propaganda complacente e a vergonha regeneradora do país futuro.



1 comentários:

Anônimo disse...

Peço aos amigos que me permitam fugir da pauta e propagandear minhas mais novas enquetes:

O jornalista Muntadhar al-Zeidi, que ganhou fama mundial ao atirar seus sapatos no então presidente americano George Bush no fim do ano passado, está sendo libertado hoje e deverá ser recebido em seu povoado com honras de chefe de Estado e com muita comilança pela família, que lhe prometeu alguns pares de sapato para que Muntadhar continue sua sina de homem-sapato, o que já é uma grande evolução em um país onde os homens e mais recentemente as mulheres ao invés de jogarem sapatos, se jogam com bombas no adversário...

Pois bem, cientes de que temos contas a ajustar com a cena política nacional, em qual personalidade da atual e deprimente realidade republicana o amigo e a amiga atirariam um sapato com muito chulé? funcionaremos com duas enquetes, sendo a já mencionada sapatada nos anjos nacionais e outra que estimará quem deve ser alvejado fora do Brasil... para termos o perfeito perfil do alvo, solicito que a atual enquete seja divulgada para toda a família e amigos, para que durante 15 dias possamos renovar nosso estoque de pisantes...

Basta acessar http://novoblogdoclausewitz.blogspot.com