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quinta-feira, 1 de maio de 2008

"Prendam a imprensa, a suspeita de sempre"



O jornalismo e o poder

Excelente texto de Reinaldo Azevedo

Na próxima VEJA, escrevo um artigo sobre a imprensa e o que dizem dela por aí. De fato, trata-se de um texto sobre o jornalismo e o poder. Essa relação já foi incestuosa. Hoje em dia, em todo o mundo livre, tende a ser, felizmente, um tanto conflituosa — falo de jornalismo, não de mascates de opiniões. Na falta de um culpado, os poderosos fazem como Louis, aquele policial corrupto de Casablanca:

"Prendam os suspeitos de sempre". Ou seja: a imprensa.

Lula, ontem, fez mais uma das suas. A coisa poderia ser tomada como fato isolado, mas não é. O homem resolveu meter a sua colher no "Escândalo da Sogra", no Ceará.

Vocês sabem: o govenador Cid Gomes fretou um jatinho, viajou por cinco cidades européias em companhia da mulher, da sogra, de um secretário, um assessor, mais as respectivas digníssimas de ambos.

E o que fez Lula, o homem que já defendeu das maldades da imprensa tanto Renan Calheiros como Severino Cavalcanti? Ora, saiu em defesa de Cid também.

E nestes termos: "A gente não pode permitir que um companheiro da qualidade do Cid seja mostrado a nível nacional apenas porque atendeu a um pedido da mulher para levar sua mãe. Sei o que é isso e você tem a minha solidariedade."Itálico

Como se vê, Lula falava de si mesmo. O "sei o que é isso" não deixa a menor dúvida. Imaginem se alguém vai se meter na vida conjugal de Cid e sua mulher. Ela lhe faça quantos pedidos quiser. O problema é o governador atendê-los com dinheiro público, não é mesmo?
O presidente ainda achou que era pouco:

"Se, em vez de sua sogra, você tivesse levado um empresário, não teria tido problema".

Depende. O empresário estaria no avião a passeio, a exemplo da madame Gomes, ou iria cuidar de levar investimentos para o Ceará?

"A gente não pode permitir que um companheiro como Fulano..."

Podem pesquisar. Essa é uma fórmula de Lula. O presidente não acredita que existam crimes, ilicitudes ou irregularidades previstos em lei. Os atos são ou não viciosos a depender sempre de seus autores.

E um "companheiro", por princípio, está acima — ATENÇÃO!!! — não da suspeita, mas da própria lei.


Lula tornou-se, de fato, um aristocrata à moda antiga e tem o poder de aristocratizar os aliados. Os políticos podem adquirir títulos de nobreza: basta, no caso, que sejam amigos do rei. E pronto: aí "não se pode permitir que...".

Cid fez o seu Aviãozinho da Alegria? E daí? Isso seria condenável num outro político, não em alguém com a sua "qualidade".

Como Lula "sabe muito bem o que é isso", está afirmando o óbvio:

"A imprensa pega injustamente no seu pé, como pega também no meu; os caras querem saber até os gastos do presidente! Veja que absurdo!!!"

É... Mais um pouco, e a imprensa ainda acaba se atrapalhando e achando que o Brasil é uma república...

Lula poderia usar a sua enorme popularidade para refinar a democracia brasileira; para torná-la mais transparente; para fazer com que as instituições avançassem.

Mas, aí, teria de ser outra a sua natureza, outra a natureza de seu partido, outra a natureza de seus partidários. O dia de ontem foi exemplar.

Os tontos-maCUTs do petismo, tão logo saiu a notícia da elevação do rating (ver texto abaixo), invadiram o blog:

"Aí, você se f _ _ _ U!!!".

Eu???

Por acaso previ aqui algum desastre decorrente da política econômica? Pouco antes, José Alencar, o vice, insistia, numa entrevista de rádio, no terceiro mandato, com a simplicidade de um vendedor de camiseta. Sua tese: "Se o povo quer mais, por que não?"

Alguém poderia lembrar ao vice:

"E quando a popularidade de um presidente cai, a gente deve dar um golpe de estado?"


É interessante notar como se conseguiu tornar corrente a idéia de que a popularidade confere ao mandatário a licença para mandar a lei às favas, como se esta só devesse colher, sei lá eu, os "impopulares".
Lula ontem usou, mais uma vez, os seus 70% de aprovação para aquiescer com a bandalheira.

Como bem lembrou o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, em entrevista à VEJA, na democracia, nenhum Poder é soberano.

Muito menos o poderoso de turno.


Postado por Artigos

Blog Reinaldo Azevedo

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