Como previsto, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) escalou a tribuna para falar sobre a crise moral que o ejetou da poltrona de ministro dos Transportes
Ao se defender, Nascimento terminou por arrastar Lula e a própria Dilma para o epicentro da crise
Por quê?
Segundo o ex-ministro, o orçamento das obras do PAC tocadas pela pasta dos Transportes foi engordado em R$ 14 bilhões no ano eleitoral de 2010.
“O Ministério dos Transportes já era uma das pastas com o maior volume de investimentos do PAC”, disse Nascimento.
“E, para o período aberto em 2011, registrava um aumento significativo em todos os seus projetos”, prosseguiu o orador.
“Quando saí [31 de março de 2010], o PAC do ministério significava investimentos da ordem de R$ 58 bilhões. Quando retornei, já estava em R$ 72 bilhões.”
Diante do que chamou de “disparada dos gastos”, Nascimento disse ter determinado, em fevereiro, um “pente fino” nos contratos.
“Nos primeiros dias de março”, disse Nascimento, “levei minhas preocupações sobre o que me pareceu um grande salto e descontrole no orçamento” a Miriam Belchior.
Sob Dilma, a ministra Belchior (Planejamento) é a responsável pelo PAC. Segundo Nascimento, ela concordou com a necessidade de rever os projetos.
O ex-ministro disse ter levado a encrenca, dias depois, à própria Dilma. Acertou com ela uma data para a adoção de providências saneadoras: 15 de julho.
Considerando-se o quadro apresentado por Nascimento, na época em que Lula era presidente Dilma candidata, o PAC tornara-se um programa de fancaria.
Nas palavras de Nascimento: “Significava que a nova administração não teria recursos necessaries para iniciar nenhuma nova ação […] Não haveria o PAC 2.”
O orçamento engordou numa fase em que respondia pela pasta dos transportes o atual ministro, Paulo Passos, nomeado por Dilma para fazer a “faxina.”
Nascimento cuidou, porém, de atenuar a responsabilidade de Passos. Quem define o orçamento, disse ele, é o Comitê gestor do PAC.
Quem integrava o comitê?
Casa Civil [Erenice Guerra, ex-segunda de Dilma], Planejamento [Paulo Bernardo] e Fazenda [Guido Mantega].
Quer dizer: embora Nascimento tenha se esquivado de dizer com todas as letras, o sobrepreço das obras, origem da “faxina”, nasceu sob Lula.
No DNA da encrenca está a manobra do ex-soberano para adensar a vitrine eleitoral na qual Dilma foi exposta.
Nascimento teve o cuidado de enfatizar: Dilma, como ele, estava fora do governo. Era candidata, não ministra. Porém…
…Porém, embora informada por ele acerca da gordura orçamentária, Dilma comandou, em 24 de junho, uma reunião para a qual Nascimento não foi convidado.
Nesse encontro, vazado para a revista Veja, Dilma passou uma carraspana na equipe de Nascimento. Munida de planilhas e documentos, disse coisas assim:
“Vocês ficam insuflando o valor das obras.
Não há orçamento fiscal que resista […].
Eu teria de dobrar a carga tributária do país.”
Ou assim: “Vocês precisam de babá. E terão três a partir de agora, a Miriam [Belchior], a Gleisi [Hoffmann] e eu.”
Nascimento insinuou que o teor da reunião foi vazado pelo Planalto. “Não foi desmentido”, ele realçou.
Ficou entendido que Dilma injetou dissimulação sob o lodo. Reclamou de gastos criados sob Lula para vitaminar a candidatura dela.
Simulou surpresa diante de um cenário de “descontrole” que Nascimento diz ter, ele próprio, levado ao gabinete presidencial.
"Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo, nossos sete senadores não são lixo”, disse Nascimento a certa altura.
O ex-ministro disse que não foi varrido. Pediu para sair porque não obteve de Dilma o apoio que ela lhe prometera.
À medida que o senador discursava, a oposição coletava assinaturas para uma CPI.
Ao final do discurso,atingiu-se o patamar mínimo exigido: 27 assinaturas.
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