Ou:
“Quanto mais os reis deliram, mais os gregos apanham”
“Quanto mais os reis deliram, mais os gregos apanham”
Pronto!
A Câmara dos Deputados, liderada pela maioria republicana, aprovou o plano para elevar o teto da dívida e evitar a moratória americana, cujo prazo limite é amanhã.
O plano foi aprovado por 269 votos contra 161.
E algo muito interessante se deu: o acordo anunciado pelo próprio Obama teve mais votos contrários do seu próprio partido — 95 votaram contra e 95 a favor — do que dos republicanos: 173 a favor e 66 contra.
Isso nos diz algumas coisas.
Leiam o post anterior sobre a negociação. Como a imprensa ocidental toda, inclusive boa parte da nossa, está pautada, vamos ser genéricos, pelos “liberais” do New York Times, então seria de se acreditar que aquela gente do Tea Party é mesmo muito malvada, direitista e racista. Seriam extremistas que não gostam de preto, de pobre e de benefícios sociais.
Só estariam interessados em ajudar os ricos. Lula já definiu como é essa gente de olho azul, né?
A turma quer é derrotar Barack Obama, certo?
Por isso o homem não teve dúvida: sacou o seu celular e resolveu travar a batalha pelo Twitter. Ai, ai…
Um bom exemplo da natureza da crise poderia ser esta frase do deputado Joseph Crowley, um democrata: “A questão é quantos votos os republicanos podem garantir. Eles são a maioria na Câmara, e é responsabilidade deles gerar votos para aprovar um projeto que eles criaram”.
Viram como o Tea Party sozinho não consegue servir o chá da insensatez???
A midiática Nancy Pelosi também não se mostrou nada encantada.
Ora, vejam lá.
Quem foi mais irresponsável?
Os democratas ou os republicanos?
Eu não sei se vocês notam, mas o problema fundamental, meu caros, está na falta de liderança de Barack Obama. É aí que reside a questão. Sim, caso a Câmara e o Senado se dispusessem a fazer tudo o que ele quer, as coisas estariam resolvidas. Mas, para tanto, uma condição necessária, ainda que não suficiente, seria ter a maioria nas duas Casas — e ele não tem. As últimas eleições legislativas o derrotaram na Câmara e quase provocam a catástrofe completa: a derrota no Senado. Atenção! Chamei essa maioria de “condição necessária, mas não suficiente”. Nos EUA, ela não garante automaticamente os votos, não. Como Obama não tem estatais para distribuir cargos, e o poder não se organiza na base do toma-lá-dá-cá, não basta o chefe do Executivo querer. É por isso que não surge um PMDB ou um PR na América, entenderam?
Para que partidos dessa natureza pudesse prosperar por lá, a democracia americana teria de regredir muito, o estado se expandir demais, o país ficar coalhado de estatais para abrigar larápios, e o fisiologismo se espalhar como praga. Aí um tolo dirá: “Ah, mas, ao menos, no Brasil não há crise como aquela…” É verdade! Vai ver é o PMDB que impede, não é mesmo? Jesus!
Estou chamando atenção para o fato de que também os democratas resistem a acordos, e sua linguagem não é nem mais nem menos “populista” (como os nossos esquerdistas e os liberais americanos chamam o Tea Party) do que a dos ditos “radicais de direita”. Estes maximizam, no limite do temerário, a necessidade de cortar gastos; os “progressistas” decidiram que a culpa recai nas costas daqueles que chamam “ricos”, de quem esperam mais impostos.
Se as posições se extremam, alguém tem de aparecer para negociar. A pessoa com a responsabilidade institucional se chama Barack Obama. Mas, há dois dias, a com a crise comendo solta, ele se dedicava a seu tuitaço e a satanizar a turma “de Washington” — ou seja, os políticos.
Não conseguiu nem mesmo unir o seu próprio partido.
E uma falácia magnífica ganhou corpo: a responsabilidade do impasse seria do “Tea Party”, que compõe uma vistosa minoria, e, secundariamente, dos republicanos moderados, que não estariam sabendo controlar seus radicais.
Muito bem: a esmagadora maioria dos republicanos deu mostras de concordar com uma proposta que já tinha sido anunciada pelo próprio Obama, o que o fez anunciar o acordo. E, então, foram os democratas a fazer bico doce, dividindo-se de modo irresponsável, sem controle, sem liderança.
E é aí que deveria entrar Barack Obama…
Mas ele tarda.
O acordo ficou para ser votado no Senado no último dia. O poeta latino Horácio já sintetizou um momento como esse há alguns séculos:
“Quanto mais os reis deliram, mais os gregos apanham…”
Ok, no fim eles venceram os troianos, mas deu um trabalhão.
01/08/2011
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