Presidente assumiu comando da negociação política para retirar firmas necessárias à instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito que investigaria irregularidades nos Transportes
João Domingos
O Estado de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Tendo à frente a própria presidente Dilma Rousseff, que contou ainda com a ajuda de ministros e líderes na Câmara e no Senado, o governo conseguiu enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes requerida pela oposição.
Para abortar a CPI, o Planalto prometeu acelerar obras, apoiar um candidato ao Tribunal de Contas da União (TCU) e até garantir a presença de Dilma na inauguração de uma ponte.
O governo conseguiu que dois senadores da base aliada retirassem suas assinaturas a favor da CPI. Como a oposição havia coletado 27 assinaturas - número mínimo para a instalação de comissão parlamentar no Senado -, as duas baixas inviabilizaram a iniciativa.
Com apenas 25 assinaturas, o requerimento foi mandado pelo presidente José Sarney (PMDB-AP) diretamente para o arquivo.
Se quiser abrir uma CPI, a oposição terá que recomeçar a coleta de assinaturas.
O objetivo da CPI era investigar as irregularidades no setor de transportes, que já resultaram na demissão de 27 pessoas, entre elas o ex-ministro Alfredo Nascimento e o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura Rodoviária (Dnit) Luiz Antonio Pagot.
O senador João Durval (PDT-BA), o primeiro a retirar a assinatura, recuou em troca da promessa do governo e do PT de apoiar a candidatura de seu filho, o deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), para vaga de ministro do TCU.
Até então, Dilma mostrava-se simpática à candidatura da deputada Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Carneiro conseguiu da bancada de 86 deputados do PT a promessa de que cada um buscará o voto de um colega a seu favor na disputa pelo TCU. O cargo de ministro do tribunal é vitalício.
O PT nunca conseguiu pôr nenhum de seus integrantes no TCU.
Todas as vezes que disputou, perdeu.
Carneiro disse ter a certeza de que se contar com os votos de seus colegas, multiplicados por dois, será eleito.
Durval teria recebido ainda a promessa de que, enfim, será construído um anel viário em Feira de Santana, núcleo de sua base eleitoral, reivindicação que ele faz há cinco anos ao governo.
Como Alfredo Nascimento prometia o anel viário e não o fazia, Durval vingou-se assinando o requerimento da CPI. Mas recuou para não prejudicar o filho.
"O governo operou mesmo para impedir a CPI", disse na quarta-feira, 3, o líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR). "A CPI não vai servir de instrumento de açoite do governo pela oposição."
Já o líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), afirmou que trabalhou nas últimas 24 horas para acabar com a CPI antes mesmo que ela começasse.
Também retirou a assinatura o senador Reditário Cassol (PP-RO), suplente e pai do titular Ivo Cassol (PP). O próprio filho ajudou o governo a levar o pai ao recuo. De acordo com parlamentares da base, o filho lembrou ao patriarca que os Cassol são empresários do setor de geração de energia elétrica e fazem negócios com o governo.
Ponte
O tucano Ataídes Oliveira (TO), suplente de João Ribeiro (PR), também chegou a tirar a assinatura.
Para que ele recuasse, Dilma prometeu comparecer a seu Estado até o próximo mês para inaugurar a ponte sobre o Rio Tocantins que liga Miracema do Norte a Lajeado.
Quem mais fez pressão para que Oliveira recuasse foi o titular João Ribeiro, que tem interesse direto no Ministério dos Transportes e é padrinho de vários dos indicados para o setor.
Oliveira, empresário que nunca havia assumido mandato eletivo, foi pressionado pelo líder do PSDB e autor do requerimento da CPI, Álvaro Dias (PR). Terminou por recuar do recuo. Dizendo-se arrependido, assinou novamente.
03 de agosto de 2011
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