O PT e as Farc: rabo à mostra
A propalada ausência de ligações não é algo que mereça discussão, nem mesmo atenção. É uma desconversa insultuosa, inadmissível, que falta ao mais elementar respeito para com o ouvinte, o público em geral, a nação inteira, as leis e a moralidade.
Que o PT não tenha nenhuma ligação com as Farc é uma alegação que não se pode aceitar nem a título de hipótese.
Mesmo sem levar em conta as atas completas do Foro de São Paulo, nem os favores obscenos do governo Lula ao representante farqueano Olivério Medina, nem a completa omissão governamental ante as provas de atividade criminosa das Farc no nosso território, nem a revelação dos serviços de leva-e-traz oferecidos pelo Sr Marco Aurélio Garcia entre a narcoguerrilha colombiana e o então ministro Luiz Felipe Lampreia, até uma criança de cinco anos é capaz de compreender os seguintes fatos e juntar os pontos:
1. O Foro de São Paulo é a coordenação estratégica do movimento comunista na América Latina.
2. O sr. Luís Inácio Lula da Silva e o líder das Farc, Raul Reyes, já presidiram juntos uma assembléia do Foro, e juntos participaram de todas as outras.
3. É impossível conceber que os dois coordenadores máximos de uma estratégia comum não tenham nenhuma ligação, nenhuma comunidade de interesses, nenhuma atividade conjunta.
Quem fez a afirmação número 1 foi o próprio PT, no vídeo preparatório do seu III Congresso.
A número 2 veio da boca do próprio Raul Reyes em 2003, em entrevista à Folha de S. Paulo, e nenhum representante do PT jamais a desmentiu desde então.
A número 3 é uma exigência incontornável da inteligência humana.
Negá-la é fazer-se de besta.
Ou ser besta sem precisar fazer-se tal.
E não venham dizer que tudo isso é coisa de antigamente, que uma vez na presidência o PT cortou todos os laços com as Farc.
Só para dar um exemplo, um modesto exemplo de como as coisas não são assim: em plena gestão Lula, o seu chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, continuou dirigindo, de parceria com o chefe militar das Farc, Manuel Marulanda Vélez ("Comandante Tirofijo"), a revista de propaganda comunista America Libre.
Como poderiam fazê-lo sem ter ligação nenhuma é algo que só se alcança conceber, se é que se alcança, em estado alterado de consciência.
A propalada ausência de ligações não é algo que mereça discussão, nem mesmo atenção.
É uma desconversa insultuosa, inadmissível, que falta ao mais elementar respeito para com o ouvinte, o público em geral, a nação inteira, as leis e a moralidade.
A simples tentativa de impingir ao público uma mentira tão grosseira, tão boba, tão pueril, já é mostra daquele cinismo ilimitado que caracteriza a mentalidade sociopática, incapaz de medir, seja a feiúra dos seus atos, seja a inverossimilhança das palavras que os encobrem.
Quem quer que venha com esse tipo de subterfúgio só prova duas coisas.
Primeira: que tem muito a esconder.
Segunda: que ao tentar esconder-se está deixando o rabo à mostra.
Felizmente, não são tão espertos quanto se imaginam. Retorcendo-se em dores para fingir um sorriso de tranquilidade superior, só o que conseguem produzir é um sorriso amarelo.
Desmentem-se, atrapalham-se, gaguejam e, no fim das contas, dão a cara a tapa.
Só não levam o tapa porque nesse país não há mais homem que o desfira.
Nunca um crime esteve tão patente à vista de todos, nunca tantos desviaram o olhar para não ter de enxergá-lo.
Com aquela ligação, esses bandidos estão fazendo o mesmo que fizeram com o Foro de São Paulo inteiro:
primeiro negarão peremptoriamente a sua existência;
depois buscarão dar-lhe aparência de coisa mínima, inofensiva, sem peso nem substância;
por fim, quando sentirem que o perigo do escândalo já passou, passarão a trombeteá-la aos quatro ventos como façanha gloriosa, merecedora da gratidão da espécie humana.
Contarão, para isso, com a colaboração servil da mídia inteira e de praticamente todas as lideranças políticas, empresariais, religiosas, culturais, judiciais e militares desse país.
Aqueles que, dessa massa de escravos e sicofantas, se levantarem por um minuto para esboçar um vago muxoxo, para encenar um débil lamento entre prudentes pedidos de desculpas e depois voltar ao confortável silêncio de sempre, serão celebrados como heróis, porque a alma popular se aviltou tanto que já não consegue conceber o heroísmo senão como paródia, como chanchada, como jogo de cena.
03 Agosto 2010
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