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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Debate: nem tudo, nem nada








Debate: nem tudo, nem nada
 
 

Logo mais, o debate da TV Bandeirantes abre o ciclo dos confrontos diretos entre os presidenciáveis, como já é praxe.


Não são poucos os que consideram o confronto direto dos candidatos uma espécie de tudo ou nada.

Em certo sentido, Clóvis Rossi reproduz em sua coluna esta concepção, ao dizer que a série de debates representa a última oportunidade de Serra para reverter aquilo que ele chama de favoritismo de Dilma.

Há um exagero na afirmação de que os debates fazem a cabeça do eleitor.

Já se vai um bom tempo que isto não acontece.

Talvez o último debate que decidiu uma eleição aconteceu no segundo turno da eleição para governador de São Paulo, quando Covas massacrou Maluf, em um debate promovido pela TV Bandeirantes.

Limitações

Para começo de conversa, os debates do primeiro turno ocorrem em um horário em que o grande público, particularmente aqueles que labutam e estudam, já está indo para a cama, pois o outro dia é dia de trampo.

Isto leva a que os debates, sobretudo o que ocorrem antes do horário televisivo gratuito, tenham pouca audiência e interessem apenas aos iniciados em política.


Historicamente o confronto da Bandeirantes, que abre o ciclo de debates televisivos, aumenta a reduzida audiência da emissora, mas não de maneira espetacular.

Num início de campanha pública, de fato é um aquecimento.


Há mais um agravante.

O debate de hoje sofrerá a concorrência do jogo São Paulo x Internacional, na fase semifinal da Libertadores.

Camisa de força

Ao longo dos anos, as assessorias e as emissoras atuaram para criar uma verdadeira blindagem aos presidenciáveis
e outros candidatos a cargo majoritário, engessando assim o livre confronto de ideias e programas.

Os debates ficaram presos em uma camisa de força, que se expressa em regras rígidas, que só servem à pasteurização do embate de idéias.


Esta rigidez dos segundos para que um candidato se expresse sobre temas complexos e apresente suas propostas.

Nessas condições, os presidenciáveis só podem dizer generalidades, tais como, “vou priorizar a educação e cuidar da saúde”.

Por este caminho, o risco de um escorregão é mínimo. Quase não há confronto e comparação entre os candidatos.


No caso do debate de hoje, uma das regras impede que um jornalista diga a um candidato: “o senhor (ou a senhora) não respondeu à questão”. Ou seja, mesmo que seja alvo de uma pergunta incômoda por parte de um jornalista, o presidenciável pode sair pela tangente e ir pela linha do “embromation”, ou falar do assunto que lhe der na telha.

A camisa de força se mantém até mesmo o pós-debate. A TV Bandeirantes, por exemplo, só poderá divulgar imagens das intervenções iniciais ou finais dos presidenciáveis. Se por acaso algum dele tiver cometido um escorregão ou dado um vexame, isto não poderá ir ao ar, posteriormente. E a Justiça Eleitoral também impõe limites que impedem que um candidato leve imagem de seu adversário na propaganda eleitoral gratuita.
Influenciam, sim

Isto não quer dizer, contudo, que os debates são inúteis e que não servem para nada. Eles influenciam a cabeça das camadas mais politizadas do eleitorado – os chamados formadores de opinião –, que de uma forma ou de outra, interferem na opção da grande massa de eleitores.

E queiram, ou não, os marqueteiros, uma grande escorregadela de um candidato vira uma chama em uma pradaria. Seu conhecimento se espalha rapidamente por toda a população, pois passa a ser objeto de comentário de “analistas”, de programas de rádio e de outros instrumentos de difusão.


Já a militância partidária fica de olhos fixos na telinha, torcendo pelo seu candidato. Se o seu presidenciável for bem, isto interfere no seu ânimo e na sua disposição de botar o bloco na rua e partir para o corpo a corpo, na luta pelo voto.

A militância saberá explorar muito bem qualquer bobagem cometida pelos adversários. E para espalhá-la existe hoje um instrumento extremamente eficaz. Trata-se da internet, com suas redes sociais, blogs, emails instantâneos e outros recursos.

Os contendores

Dilma foi submetida a um cursinho intensivo para ser concisa em suas respostas e não deixar transparecer o autoritarismo e antipatia que estão no seu DNA. É possível que ela não faça uma grande besteira.

Mas é bom lembrar que treino é treino e que na hora do jogo, nem sempre é possível controlar os nervos.


Ela terá de defender o paraíso e justificar porque as mudanças que propõe já não foram implantadas. E rebater as pedras contra a vitrine. Não está descartado que opte por ser inodora, incolor e sem sabor, a tal “Dilminha maravilha”.

Acreditando estar na frente das intenções de voto, tentará não se expor, para conservar o patamar a que chegou.


Serra é macaco velho em situações como a que enfrentará hoje. Além do mais, tem dado provas de seu alto preparo técnico e da clareza política sobre o que é necessário fazer para que o Brasil avance mais. Como não é nenhum principiante, não cairá em pegadinhas.

Certamente não adotará postura de tecnocratas, aqueles que adoram citar uma montanha de números, que só dão sono ao telespectador e o fazem perder a linha de raciocínio.


Serra tem o desafio de criticar o governo, senão não seria oposição, ressaltar o que considera adequado e propor as mudanças necessárias. Não é tarefa para amadores.

O desempenho de Marina Silva é uma interrogação. Tende a colocar-se acima do bem e do mal e dar uma no cravo, outra na ferradura, sempre na mesma medida, para não parecer “tendenciosa”.

Costuma ser professoral, como se o tamanho da exposição fosse proporcional à compreensão de quem vê e ouve. Marina terá de marcar-se como “verde”, mas não só “verde”.

Ao sair do território ambientalista, terá de explicitar o que marca sua candidatura e não está contemplado nas propostas de Serra e de Dilma.

Terá, também, a obrigação de definir o foco de suas críticas, se em Dilma ou em Serra, o que deixará claro por onde espera crescer.


Plínio Sampaio é previsível. Acionará sua metralhadora giratória contra tudo e contra todos, mas centralizará na candidata situacionista.

A razão de ser do seu partido e da sua candidatura é a crítica radical ao PT. Suas propostas jurássicas são por demais conhecidas. O perigo que corre é cair no folclore.

Segundo turno muda tudo

O debate de hoje é apenas o primeiro. A audiência dos embates cresce com a aproximação do dia da eleição.
É previsível um pico de audiência, na boca do primeiro turno, no debate que será promovido pela Globo. A audiência deverá extrapolar o público minimamente politizado, já numa escala de dezenas de milhões de pessoas.

No segundo turno, os debates são estratégicos e podem, sim, decidir uma eleição, pois aí o confronto é direto e apenas entre dois presidenciáveis.

O tempo da propaganda eleitoral gratuita é igual, para ambos os candidatos.

O segundo turno é temido por Dilma, pois não há como ela fugir da comparação de sua biografia e a de Serra, bem como do confronto das propostas dos dois candidatos e de suas imagens.
Na rua

O Jornal Nacional passou a cobrir, com isonomia de tempo, o dia a dia dos candidatos. O debate da Bandeirantes abre o confronto direto.

Esta semana se marca pelo real lançamento público da corrida eleitoral, com o peso da televisão brasileira, num país em que esta mídia é o principal meio de informação.
05/08/2010

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