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terça-feira, 3 de agosto de 2010

134 milhões ou apenas 7?


134 milhões ou apenas 7?


Um dos textos que escrevi na madrugada de ontem começava assim:

“O petismo só triunfa e tem triunfado porque seus advogados e procuradores na imprensa submetem a política ao que chamo “obscurantismo das luzes”. (…) O mais espantoso é que a reação dos petistas (…) é especialmente virulenta quando se atribui ao partido o que ele realmente pensa e faz. Notem que raramente gritam: “Isso é mentira!” Preferem o tom de denúncia:

“Os reacionários estão nos perseguindo!”

Pois é…

No mundo democrático, as eleições servem para que os postulantes sejam confrontados com as verdades dos adversários e com as suas próprias verdades. E qualquer decisão oficial que lembre ou cheire a censura é, evidentemente, impensável. Por aqui, as coisas parecem tomar outro rumo. Por aqui, lembrar a trajetória de um partido e de um governo, suas escolhas, seus vínculos ideológicos, suas afinidades eletivas caminha para o terreno do crime. Mais um pouco, e o sonho petista — expresso na Conferência de Comunicação, no Programa Nacional (Socialista) dos Direitos Humanos e num encontro aí financiado por estatais —  vai acabar se cumprindo: uma espécie de “Tribunal da Mídia” vai decidir o que pode e o que não pode ser publicado.

Talvez eu deva pedir o concurso dos ministros do TSE para me instruir no exercício da escrita e na lida com o vocabulário — já que o Houaiss e o Aurélião, suponho, caminham para a obsolescência. Depois da judicialização das eleições, chegaremos à judicialização do dicionário — que é, convenham, aonde chegam as tiranias.

1 - Irã

Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo que financia o terrorismo em três países — como é o caso do iraniano —, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa:

(  ) falando a verdade;
(  ) fazendo uma calúnia;
(  ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
(  ) cometendo crime eleitoral;
(  ) sendo indelicado com os petistas.

O Houaiss oferece sinônimos para “vínculo” — entre eles, “liame”, “relação”, “relacionamento”. Tendo a achar que Lula mantém “relação”, “relacionamento”, com Ahmadinejad, que, inequivocamente, financia o terrorismo no Líbano, no Iraque e nos territórios palestinos, o que é reconhecido até por Mahmoud Abbas. E dizer que o governo petista mantém “vínculos” com um líder abertamente anti-semita? Posso ou não?

Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio PT não tem?

2 - Narcotráfico da Bolívia

Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo conivente com o narcotráfico — como é o caso do boliviano — estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):

(  ) falando a verdade;
(  ) fazendo uma calúnia;
(  ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
(  ) cometendo crime eleitoral;
(  ) sendo indelicado com os petistas.

O Houaiss etc… (não vou repetir). Acho que o financiamento do BNDES para Evo fazer uma estrada que só serve ao escoamento da produção de folha de coca caracteriza “vínculo especial”. Acho que a facilidade com o que Lula entregou uma unidade da Petrobras a seu “querido” amigo é outra evidência dessa proximidade. Creio ainda que o comprovado crescimento da produção e do refino de coca naquele país, que o incentivo de Evo a novos campos de produção na fronteira com o Brasil e que o fato de quase 80% da cocaína consumida por aqui vir das terras do indígena de araque sejam evidências da conivência daquele governo com o narcotráfico. Talvez o TSE não goste da palavra “vínculo”. Se eu escrever que o PT é simpático a um governo conivente com o narcotráfico, melhora ou piora?

Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?

3 - Tortura e morte

Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos especiais com um governo que tortura e mata seus opositores nas masmorras — como é o caso do governo cubano (e também iraniano, claro…) —-, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):

(  ) falando a verdade;
(  ) fazendo uma calúnia;
(  ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
(  ) cometendo crime eleitoral;
(  ) sendo indelicado com os petistas.

O Houaiss etc… Ainda ontem, publiquei as fotos de dois momentos na vida do dissidente cubano Ariel Sigler Amaya (vejam abaixo). As masmorras dos irmãos Castro o transformaram num farrapo. As relações especiais dos petistas com os facinorosos são dadas pela história.

Eu poderia dizer, por exemplo, que Lula fundou um foro internacional, o de São Paulo, em parceria com um assassino em massa — no caso, Fidel. Sim, eu sei: há quem ache que ser responsável pela morte de 100 mil pessoas não é suficiente para merecer tal epíteto…

É que a morte de um único homem já me choca, no meu conservadorismo atroz.

Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?

4 - Farc

Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos com as Farc e que as Farc se dedicam ao narcoterrorismo, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):

(  ) falando a verdade;
(  ) fazendo uma calúnia;
(  ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
(  ) cometendo crime eleitoral;
(  ) sendo indelicado com os petistas.

Vínculo?

O Houaiss etc e tal…
 

De fato, não creio que o tribunal tenha alguma dúvida sobre o caráter das Farc. Ou tem? Não, o tal advogado do PT está errado.

Elas não são como os nossos favelados, onde há gente boa e gente bandida — como há em qualquer lugar, rico ou pobre. As Farc são compostas apenas de bandidos, de narcoterroristas.

E chamo de “vínculo” — ou “liame, relação, relacionamento”:

a - a convivência pregressa do partido com o grupo no Foro de São Paulo;

b - a reunião havida entre petistas e membros das Farc numa chácara em Brasília;

c - o encontro entre Olívio Dutra e Hernan Ramirez, membro das Farc, no Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul, em 1999;

d - a presença de outro terrorista, Javier Cifuentes, no Fórum Social Mundial, em 2001, também em Porto Alegre, a convite do petista Renato Simões;

e - o abaixo-assinado para que Olivério Medina, dirigente das Farc, ficasse no Brasil;

f - o requerimento assinado por Dilma para empregar a mulher de Medina no governo federal;

g - os e-mails no computador de Raul Reyes elencando os “amigos” das Farc no governo brasileiro;

h - o e-mail em que Medina conta a Reyes que o emprego dado a sua mulher era uma operação de natureza política;

i - o fato de o governo brasileiro se negar a reconhecer o caráter narcoterrorista das Farc;

j - o conselho que Lula deu aos membros da Farc para que fizessem como o PT e passassem a disputar eleições — como se aqueles valentes estivessem interessados em democracia.

Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?


Valores
É claro que, em considerações dessa natureza, também entram valores. Eu tenho um desprezo absoluto por demagogos, traficantes, terroristas e ditadores.

Outros podem achar que eles devem ser tolerados como parte da fauna humana. Há ainda quem os considere bons ou ruins a depender do que está em disputa.

Vejam o caso de Lula:

bem poucos ditadores escaparam de seu abraço fraterno —o que, entendo, torna o presidente conivente com essas ditaduras.

Segundo a versão planaltina, Lula está construindo um outro eixo de poder no mundo, e não lhe cabe entrar na economia interna de outros países.

Quer dizer: em alguns casos, ele entrou. Em Israel,  por exemplo, fez proselitismo em favor dos palestinos. Mas não defendeu a democracia no Irã.

Não reconhece o governo de Honduras, mas é advogado da causa cubana. Alguns acham que assim está bom. Eu avalio se tratar de uma postura detestável.

A sociedade é feita dessa diversidade. Não me parece que caiba à Justiça decidir que valor é ou não aceitável desde que nos limites do que a Constituição resguarda.
 
Países se tornaram grandes libertando as palavras, em vez de aprisioná-las, como Fidel, Ahmadinejad e as Farc fazem com seus adversários.

Se a imprensa, políticos ou, sei lá, entidades não puderem atribuir a um partido aquilo de que esse próprio partido se orgulha — mas não necessariamente com o seu mesmo viés —, então é melhor desligar as urnas e decidir a eleição num tribunal.


A gente pode trocar 134 milhões de eleitores por apenas sete, que decidirão, então, por nós…

03/08/2010


1 comentários:

Anônimo disse...

Rei é demias. Mas essa decisao do TSE nao cabe recorrer para o STF? O Supremo que pode ainda decidir esse absurdo, ou estou enganada?