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domingo, 1 de agosto de 2010

Mainardi decidiu voltar à Itália no fim do mês de julho.


Comentarista decidiu voltar à Itália no fim do mês de julho

Mainardi fala ao Itu.com.br antes de sua saída do Brasil

Diogo Briso Mainardi é paulista. Viveu quatorze anos em Veneza. Retornou ao Brasil oficialmente após o nascimento de Tito, seu filho mais velho, que sofre de paralisia cerebral graças a um grave erro médico durante seu parto.

Deve retornar ao seu canto italiano no dia 31 de julho.


A escolha pelo Rio de Janeiro, cidade que é o reflexo das características nacionais que ele mais rejeita e comenta em seus textos está intrinsecamente ligada ao tratamento de seu filho, uma criança alegre, integrada e, pelo menos no dia de meu encontro com Diogo, também vítima dos roteadores – seu laptop não conseguia acessar a Internet.

As pessoas que o criticam, chamando-o de nazista, reacionário, direitista, elitista, verme, entre outros nomes, esses impublicáveis, certamente ficariam surpresas com o apartamento de Diogo.


Foto

Espaço em que Diogo Mainardi escreve suas colunas em Veja
Nada de cristais, televisores de 57 polegadas, mármore desperdiçado a cada quina e pessoas em pijamas mais caros que um bom paletó.

Não há luxo. Não há maletas de dólares enviadas pelos americanos.

A família Mainardi é simples, direta, bem a exemplo dos textos de seu comandante. Com uma camisa furada e chinelos, Diogo finalizava sua xícara de café e conversava com Nico, o filho mais novo e mais tímido, que brincava na sala, composta apenas por sofás, um longo criado mudo e a televisão 21 polegadas, que transmitia o GP da Inglaterra de Fórmula 1.

Antes que eu ensaiasse perguntar se ele era Ferrarista, uma risada e uma recomendação:

“Vai ser uma entrevista de pijama.
Você vai ter que considerar isso no texto também”.


Antes de iniciar as perguntas, que fora do contexto padrão da política e de sua profissão, passaram também pela literatura e pelos esportes, onde descobrimos suas preferências futebolísticas, explico que invariavelmente ele responderia perguntas já antes respondidas, como a relacionada à influência de Ivan Lessa no abandono de seus estudos em Londres – Lessa se encontrava com Diogo semanalmente em um restaurante chinês, onde entregava um saco com três livros, que eram devolvidos na semana posterior.

“Às vezes o catatauzão tinha 500 páginas, então não havia escolha”.

Sobre isto, ele arrematou:

“Não são as perguntas que são repetidas. São as respostas.”, com seu humor característico.
Confira abaixo as respostas – inéditas- do único iconoclasta (de pijama) da imprensa nacional.

Do colunista que, a exemplo de Paulo Francis, sabe que “crítica é apenas crítica”, e, mais importante, sabe como escrever um bom artigo opinativo.
 
Itu.com.br – Você viveu boa parte da ditadura militar. Que lembranças você tem deste período?

Diogo Mainardi: Em casa havia um clima muito ruim, porque havia medo de retaliação contra meus pais. Eles faziam publicidade, mas de qualquer maneira se expunham bastante, contra a censura sobretudo.

Eles tinham amigos que haviam sido perseguidos, no exílio. Era uma constante ameaça. Eu lembro dos livros que nós tínhamos e que eram proibidos. Então havia uma proibição, e alguém me colocou na cabeça - eu era bastante pequeno ainda, que determinados livros davam cinco anos de cadeia cada um. Eu calculava que nós tínhamos oito prisões perpétuas em casa em forma de livro.

Itu.com.br - Emir Sader recebeu em 2007 um prêmio Jabuti. Você recebeu o mesmo prêmio em 1990, com seu primeiro livro, Malthus. Sader, em seu blog, lançou um post sobre a premiação “O Corvo do Ano”, nome que é referência à Carlos Lacerda, considerado por ele o fundador do “Partido da Imprensa Golpista”, um trocadilho com PIG.
Você está em primeiro lugar nesta votação...
Diogo Mainardi: Ah, eu ganhei? E em 2º lugar?
Itu.com.br - Não, ainda não. Só depois da eleição sai o resultado.

Diogo Mainardi: Ah, não acabou ainda? Dura um ano inteiro a votação? Puxa! Isso é que é processo democrático!

Itu.com.br - Te incomoda ter recebido o mesmo prêmio que Emir Sader recebeu dezessete anos depois? Teve alguma influencia na sua vida ter ganho o Jabuti?

Diogo Mainardi: Não teve nenhuma influência. Eu morava fora nem sabia o que era um Jabuti. Recebi uma tartaruguinha em casa. Não me ajudou, não me atrapalhou. Foi absolutamente indiferente na minha vida ter recebido o prêmio. E se eu recebesse o prêmio “O Corvo do Ano” com 357 votos... Você vê como tem prestígio o Emir Sader? Muito lido o blog dele. Agora, escândalo que ele tenha vencido algum prêmio na vida. Acho inacreditável que ele tenha conseguido alguma coisa.


Itu.com.br - Você foi amigo pessoal de Paulo Francis, talvez o maior nome do jornalismo opinativo brasileiro. Seria possível prever o que ele pensaria sobre o Brasil hoje?

Diogo Mainardi: Ele não teria mudado de opinião a respeito de nada. Ele continuaria fazendo uma avaliação muito critica e brutal sobre o país, sobre o PT, não tenho a menor duvida disso. E eu acho que hoje em dia ele teria mais dificuldade para se mexer.

A imprensa ficou um pouco mais acovardada do que era. E acho que as coisas que ele dizia, se pra mim renderam 200 processsos, pra ele renderia dois mil. Ele teria que consultar advogados toda semana. Isso é uma limitação bem grande pro exercício dessa profissão.



Itu.com.br - Saindo da literatura e incursionando no cinema: Você pretende investir novamente em filmes?

Diogo Mainardi: Não. Eu tenho dois filhos agora, não posso mais perder dinheiro.

Itu.com.br - Existe algum projeto pra lançar Mater Dei e 16060 em DVD?

Diogo Mainardi: Existe um problema, primeiro de desinteresse por parte dos espectadores, depois de direitos, eu não acompanho isto, já encerrei minha carreira.

Itu.com.br - Em 2007 você arrumou alguma confusão comentando Tropa de Elite. Você comentou a pose de Wagner Moura nos cartazes promocional do filme, que o respondeu.

Diogo Mainardi: Era a única coisa que eu tinha visto

Itu.com.br - Depois disso você acabou assistindo ao filme, e comentou que o mérito do filme não era suscitar o debate, mas sim acabar com ele, pois a obra retrata o Brasil do jeito que ele é, uma “guerra de bandido contra bandido”. Em três meses chega aos cinemas a continuação de Tropa, com pompa de blockbuster. Você teria interesse em assistir o segundo filme?

Diogo Mainardi: Esteticamente é um mau filme. Mas é um filme que teve um papel. Exatamente pelos motivos que expus na época.

Itu.com.br - Tropa é melhor que Glauber Rocha?

Diogo Mainardi: Esteticamente os dois são um desastre. Tropa de Elite e Glauber Rocha eu passaria longe. Como idéia, naquela hora, Tropa de Elite funcionou muito bem, não sei agora, não sei se um repeteco vai funcionar. Eu só vou ver o pôster.

Itu.com.br - Você já fez referencias a diversas séries durante as colunas. My Name Is Earl, The Office, South Park, alguns dramas. Existe uma corrente que defende que o texto das séries de televisão estão mais densos que os textos de cinema. Você concorda? O que você acompanha?

Diogo Mainardi: Concordo. Eu acho que é mais adulto. Em um jantar, estávamos comentando as séries que todos nós na mesa assistíamos e recomendávamos. Mad Men, Curb Your Enthusiasm, The Office... Esses seriados são mais adultos. Tem mais experimentação do que no cinema. O cinema ficou um passeio para adolescentes, porque ainda podem usufruir deste rito coletivo, de todos na mesma sala, com óculos, assistindo um negócio em três dimensões. Televisão, não. É pra velho, adulto, deitado na cama, fazendo digestão. É um publico mais velho, o da televisão.

Itu.com.br - Marco Aurélio Garcia comparou a TV paga à quarta frota americana e disse que dela saia apenas esterco cultural.

Diogo Mainardi: Eu adoraria que a Quarta Frota viesse e tirasse o Marco Aurélio do poder. Se vierem, minha casa está a disposição para eles montarem uma sede da invasão americana. Basta me livrarem do Marco Aurélio Garcia.

Itu.com.br - O projeto PL-29 propõe às tv’s pagas a obrigatoriedade de uma cota de 3 horas e meia no horário nobre somente para produtos nacionais. Esta ideia surge após 3 anos de TV Brasil, que não passa dos 0,4 na média diária de audiência e quatro anos depois da tentativa de regular o jornalismo. Como você vê este projeto de lei e o conjunto de obras que tentaram abarcar a imprensa?



Diogo Mainardi:
É uma tentativa de cercear a imprensa. De calar, ameaçando. Obviamente eles não podem fazer algo como faz o Chávez. De fechar a Globo, por exemplo. Mas eles podem incutir o medo, e é essa a arma que eles contam para cercear a imprensa, prejudicar no ponto de vista econômico.



Itu.com.br - Ainda existe um fetiche do Brasil em ter uma cultura?

Diogo Mainardi: Existe um fetiche, que é explorado pela propaganda nacional. O que se fez nos últimos anos de propaganda ufanista, e eu tenho muito orgulho de ter denunciado os primeiros comerciais do Banco do Brasil, muito antes do mensalão, mostrando que ali havia alguma coisa muito suja. Eu comecei a falar de Pizzolato, fui o primeiro a falar, e depois descobrimos que toda essa gente estava envolvida no mensalão. É uma instrumentalização de um sentimento retrógrado dos brasileiros de se enrolar na bandeira em qualquer ocasião.

Itu.com.br - Muitos jovens estão ingressando nas escolas de jornalismo buscando o mesmo estilo do programa Custe o que Custar, apresentado por Marcelo Tas. Você gosta dessa joint venture entre jornalismo e humor?

Diogo Mainardi: Acho que há um espaço para isso. Se todo mundo fizer isso, vira uma palhaçada. Eu não conheço o programa, fui entrevistado por eles uma vez, quando estava passando na frente do hotel Fasano. A Madonna estava hospedada ali, um rapaz do CQC me fez uma pergunta que não era particularmente espirituosa – nem os comentários dele foram particularmente espirituosos (rindo). Se você faz diferente, existe espaço; se você não tem verve, aí é uma bomba.

Itu.com.br - Em 2006 a coluna Jornalistas são brasileiros rendeu muitos protestos de sindicatos, fora o processo de Franklin Martins.

Diogo Mainardi: Eles se lembram só que eu apontei o problema de conflito de interesse do Franklin Martins, mas eu apontava também da Eliana Catanhêde do outro lado, do PSDB.

Normalmente me acusam de ser antipetista por interesse tucano, mas naquela coluna eu vi os dois lados. O problema era o conflito de interesse. O interesse pessoal envolvido com o partidário, nessa promiscuidade tão brasileira
Itu.com.br - Como vai o jornalismo opinativo no Brasil?.

Diogo Mainardi: É um mercado inflacionado pela internet, quando eu comecei havia pouca gente que fizesse o que eu fazia, que é opinião de pijama no sofá de casa. Hoje em dia tá todo mundo de pijama em casa fazendo comentário sobre tudo. E as pessoas acham que elas têm quase o dever de opinar a respeito de tudo o tempo todo. Então o que era quase exclusivo virou uma peste. Hoje há um excesso de opinião e uma escassez de reportagem, que é o fundamento do jornalismo.
E a opinião é enriquecida quando ela pode comentar uma reportagem bem feita. Há um problema ligado à internet de um excesso de opinião e de um jornalismo que virou assessoria de imprensa. A fonte, a internet, é só assessoria de imprensa. E os jornalistas acham que reproduzindo o que diz a assessoria de imprensa eles estão fazendo jornalismo. Então eles citam o twitter do político, que é assessoria de imprensa, como se fosse uma noticia.

Itu.com.br - Lula tem 77% de aprovação, segundo o Datafolha. O dado acaba demonstrando que muita gente que compreende os malefícios de um país que privilegia a escalada de impostos e as estatizações está ignorando o fato por estarem acomodadas com a boa fase da economia brasileira. Essa relação te surpreende?



Diogo Mainardi: Não, eu não superdimensiono instrução, acho que caráter, falta de caráter, são características comuns a todas as classes sociais. Acho que quem tá ganhando muito dinheiro fica com uma opinião diferente sobre o governo. Entendo que as pessoas que não estão no dia-a-dia da política possam achar que o governo merece aprovação deles.

Eu aprovo a política econômica do governo moderadamente, por exemplo. Nunca imaginei que eles fossem subverter as regras do capitalismo brasileiro porque eu sabia quem os financiava. Sempre achei o Lula um pelego muito obediente, sabia que ele obedeceria as instruções dadas pelos financiadores dele

Itu.com.br - A eleição de 2010 está perdida?
Diogo Mainardi: Não. Espero que a Dilma perca. Espero que seja uma eleição perdida pro PT e pra Dilma. Acho que se o José Serra tivesse a coragem de despedir 10% dos petistas que ganharam cargos comissionados ele já faria um trabalho razoavelmente decente, se a gente comparar aos 200% de petistas a mais que vão aparelhar o governo caso a Dilma vença as eleições. E isto já seria saudável. Adoraria também que se fizesse uma bela de uma checagem em tudo o que foi feito nesses últimos anos, mas isso não será feito.

Acho que existe chance de fazer um governo que interfira um pouquinho menos na vida das pessoas. E isso é pra mim um bom governo. Um governo que amola o menos possível.

Itu.com.br - O Brasil tem um partido de direita?

Diogo Mainardi: Brasil não tem partido de direita, de esquerda, de nada, tem um bando de salafrários que se reúnem pra roubar juntos.

Itu.com.br - Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Millenium, realizada pelo sociólogo Alberto Carlos Almeida, aponta que os brasileiros são "favoráveis a estatização" de algumas das empresas que consomem, como a TV Globo. Ao mesmo tempo, o Datafolha divulgou pesquisa que aponta metade da população na balança da direita. Essa confusão é um fator de atraso educacional?

Diogo Mainardi: É um fator de atraso, a nossa direita é estatizante, sempre foi estatizante. Nós nunca tivemos uma direita liberalizante, o que cria confusão também. Se a direita nazista foi estatizante, a comunista também foi. A estatização ou o liberalismo nunca foram uma política de direita ou de esquerda. A gente tem que separar essas coisas. E os brasileiros têm uma grande confusão, nem sabem o que é estatização, nem sabem no que implicaria isso.

Itu.com.br - Os brasileiros têm medo do capitalismo?

Diogo Mainardi: Eles têm medo da competição, porque não estão habituados a competir. Nossa economia nunca foi competitiva, nunca estimulou competição, nunca estimulou concorrência. Os brasileiros gostariam de ser tutelados para sempre.

Itu.com.br - Você incomoda ambientalistas ao afirmar que a Terra não está se aquecendo, mas sim perdendo temperatura. O mundo está ecochato?


Diogo Mainardi: Há um dogmatismo, dogmatismo sempre é chato, qualquer tipo de dogmatismo é chato, o ecológico se baseia em um monte de pesquisas pouco confiáveis, furadas. Obviamente eu não enfio meu nariz no escapamento de um automóvel. Eu sei que faz mal, mas ao mesmo tempo eu não acredito que possam prever a temperatura do globo daqui a 150 anos de maneira precisa. Acho que há um catastrofismo, um milenarismo. Eu desconfio de todos esses tipos de profecias.

Itu.com.br - Meu Pequeno Búlgaro é, talvez, um de seus melhores textos nestes 11 anos de Veja. Quando você selecionou os artigos que formou A Tapas e Pontapés, a ordem, demonstrando muita sinceridade, mostrou que você evoluiu seu pensamento em relação a vários valores emocionais. O Tito e o Nico tornaram você mais emocional?

Diogo Mainardi: Não, tenho um amor absoluto por eles, mas eu já era capaz de sentir amor antes disso.

Itu.com.br - Você está saindo em definitivo do Brasil?


Diogo Mainardi: Que sei lá eu. Minha mulher adora o país. A gente se deu muito bem no Rio de Janeiro, se as coisas derem certo lá a gente vai ficar alguns anos em Veneza, mas não há um projeto em longo prazo não. A nossa idéia é ver como as crianças se adaptam. Era a ultima oportunidade de ir, por questões familiares, de casa, pessoais. O pequenininho já vai entrar na escola de alfabetização, então tem todas essas questões ligadas a idade deles e às nossas possibilidades lá. Era a nossa ultima chance.

Itu.com.br - Você tem mágoa do Brasil?

Diogo Mainardi: Não, o Brasil é ótimo pra mim. Eu me dou muito bem. Meus amigos estão aqui, todos os meus afetos estão aqui.

Itu.com.br - Você disse em uma coluna que saía do Brasil apenas para ficar longe daqui, não para encontrar um lugar melhor. Na Itália, você se sente mais integrado?

Diogo Mainardi: O melhor detalhe é isso. Não sou nada integrado. Tenho uma mulher veneziana, sou integrado a ela, a minha casa. Mas não sou integrado ao país, nada disso. Não quero. Não quero ser abraçado por ninguém, não quero abraçar ninguém.

Itu.com.br - Arnaldo Jabor, Caetano Veloso e Gilberto Gil são três nomes do campo das artes que ilustraram constantemente sua coluna. Quais desses nomes evoluíram a ponto de não merecem mais ser lembrados nos artigos?

Diogo Mainardi: Bom, eles evoluíram, tanto que devem estar com 90 anos cada um. Eles naturalmente foram se aposentando da minha coluna e vão se afastar gradualmente. Eu, inclusive. Todos nós estamos velhos.

A gente já está fora de jogo.



 29 de julho de 2010

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