Tudo que o presidente brasileiro fez em benefício da mulher iraniana condenada à morte, por apedrejamento, foi apressar sua execução, depois de “avacalhar” o movimento internacional que obteve mais de 700 mil assinaturas, de todo o planeta pedindo sua libertação
IRÃ - DIREITOS HUMANOS
Fotomontagem Toinho de Passira
Quando assumiu a presidência pela primeira vez, o Presidente pelo menos parecia ter consciência da sua ignorância e assessorava-se.
No segundo mandato, depois de ter lido meia dúzias de discursos produzidos por outros e ser elogiado, pensou que havia virado gênio e começou a dispensar colaboração e a adotar uma política internacional, baseada na sua experiência de sindicalista no ABC Paulista. O começo de um desastre que tem se acelerado nesse último ano, progressivamente.
Acabou desaguando nos posicionamentos equivocados e vexatório no caso da libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani condenada a morte por apedrejamento, acusada de adultério.
Primeiro, o presidente Lula intrometeu-se no caso com uma das mais infelizes declaração, depois de pressionado para que fizesse uma gestão diplomática junto ao presidente iraniano, usando sua estranha amizade com o presidente Ahmadinejad, disse que seria uma “avacalhação” interferir nas leis dos países.
Mirian Leitão no seu blog lembra que “Leis injustas e arbitrárias devem ser combatidas, porque os direitos humanos são universais.” Não importa em que país esteja.
Mais vexatório, na segunda intervenção, no palanque de Dilma, o presidente errou feio, no local, na forma e nas palavras: “disse que, já que ela estava incomodando, o Brasil oferecia asilo.”
Pela rejeição ríspida do governo iraniano, dizendo em tese Lula é um emotivo que não sabe do que está falando. Imaginava-se que algo de ruim ia acontecer, com a mulher.
De prático, para pior, a Corte Suprema do Irã ignorou ontem apelos de defensores dos direitos humanos e atendeu ao pedido do Ministério Público para que a iraniana Sakineh Ashtiani seja executada.
Em uma aparente tentativa de aplacar as críticas internacionais, Teerã mudou o teor da principal acusação contra Sakineh - de adultério para assassinato. O tribunal definirá na próxima semana se ela será enforcada ou apedrejada. Não cabe recurso e priu.
Um detalhe nesses episódios recentes, é que o advogado de defesa, da mulher presa, Mohammad Mostafaei desapareceu de Teerã desde 24 de julho depois de interrogado por autoridades iranianas. Sua mulher e cunhado foram presos depois disso, segundo um relatório da Anistia Internacional.
No momento ele está em Istambul, num local onde são mantidos imigrantes em busca de asilo político.
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43 anos, foi julgada pela primeira vez em 15 de maio de 2006, por um tribunal de Tabriz, quando admitiu ser culpada do crime de "manter relacionamento ilícito" com dois homens, em ocasiões diferentes, embora o incidente tivesse ocorrido após a morte do seu marido. Por isso ela recebeu uma condenação já cumprida de 99 chibatadas.
Em setembro de 2006 o processo foi novamente aberto quando outro tribunal julgava um dos dois homens envolvidos na morte do marido de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Ela foi então condenada por cometer adultério enquanto ainda era casada e sua sentença confirmada como pena de morte por apedrejamento.
Durante uma das apelações ela declarou ao tribunal que não era verdadeira a confissão de adultério, que fizerá. Na verdade confessará sob pressão e por só falar fluentemente o turco, não compreendia corretamente o que lhe falavam os seus interrogadores, que falavam no idioma farsi.
Precisa-se esclarecer que a relação sexual nesses casos é presumida. Basta que ela tenha caminhado com o homem, por um local pouco movimentado, recebido-o como visita em casa, sem a presença de um familiar masculino, para se concluir pelo adultério.
Mulheres estrupadas já foram condenadas no Irã, por por não ter se precavido, ou ter tido um comportamente considerado insinuante.
O caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani virou comoção internacional, principalmente por causa da brutal pena de apedrejamento, mas os iranianos estão acostumados com esse tipo de execução: segundo o correspondente da BBC em Teerã Jon Leyne pelo menos duas pessoas por ano continuam a ser executadas pelo método no país.
O assessor especial para Assuntos Internacionais Marco Aurélio Top Top Garcia, afirmou ontem (4/8) que o presidente Lula não se ofendeu com o comentário do porta-voz do governo iraniano de que ele era desinformado e por essa razão ofereceu asilo político à mulher condenada à morte por suspeita de adultério e que as relações bilaterais entre Brasil e Irã estão mantidas, sem alterações.
Teme-se que da próxima vez que Lula for falar do assunto, não diga que não vai brigar com seu amigo o presidente Ahmadinejad, “por causa de umas pedradas...”
Fontes: Blog Mirian Leitão, Estadão , BBC Brasil, Estadão, Correio Braziliense
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