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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Poema: Requiem para um algoz


Destituída e só
tu me abandonaste no escuro
cheio de tuas certezas.
Agora
destituído e só
é tua vez de penetrar o escuro.
Do que te revestirás
se me cobriram de todas as vestes?
Veja este veludo cor da noite
bordado em fios de prata:
são minhas lágrimas
derramadas pelos filhos que roubaste
no poder e no nome do teu deus.
Sente esta seda rosada
escapando por entre teus dedos:
é o amanhecer da esperança
do dia em que retornaram.
E cobre-me ainda
o branco linho da inocência
o diáfano tule da confiança
o crepe sombrio do meu desamor...
Cobriram-me de todos eles, amado.
Com que te vestirás?
Que textura teria o engano
que cor teria a crueldade?
Ah, mas esperas cobrir-te
do sangue do teu deus!
Mas que deus seria este
com sangue da cor do orgulho
tecido com o ouro do preconceito?
E assim vestido de sangue
para onde pensas ir, meu amado?
Os Jardins Sagrados pertencem aos inocentes
aos injustiçados, aos torturados
à mãe destituída de seus filhos
aos filhos destituídos de sua mãe...

E contudo
nem agora, às portas da noite
estendes teus braços
buscando o nosso perdão...

Dalva Agne Lynch

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