Qualquer que seja o resultado das investigações que serão conduzidas pela Polícia Federal a respeito do vazamento de informações sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, Ruth – que a oposição batiza de dossiê e o governo chama de banco de dados –, um ponto a essa altura é incontestável:
o senador Álvaro Dias (PSDBPR) é um dos personagens centrais desse enredo.
Os papéis passaram pelas suas mãos antes de se tornarem públicos.
Nesta entrevista à ISTOÉ, o senador oposicionista confirma que teve acesso aos documentos e invoca o direito constitucional de sigilo da fonte para não dar explicações sobre quem lhe levou a papelada.
É mais um episódio da guerra pesada que governo e oposição travam no Congresso.
Dias, porém, aposta que o vazamento do documento que chamusca a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a abate em plena tentativa de vôo presidencial, é obra do “fogo amigo” petista que tornou-se público numa manobra precipitada, com o propósito de constranger Dilma.
“Nessa selva petista, tucano não sobrevive”, ironiza o senador.
O fato é que a papelada, seja qual for seu autor e seu objetivo, serviu de motivação para que Dias voltasse a exercer seu estilo pesado de oposição.
No episódio do mensalão, Dias foi o primeiro político adversário a pedir claramente o impeachment do presidente Lula. Para Dias, a oposição perdeu, ali, por timidez, a sua melhor oportunidade de abater Lula.
Hoje, padece de um discurso incapaz de retirar o presidente dos seus altos índices de popularidade e enfrenta dificuldades para se manter unida.
Lula, na opinião de Dias, é o político “com maior capacidade de transferência de votos” que ele já conheceu nos seus mais de 30 anos de vida política.
Isso dá a medida do quanto poderá ser renhida a disputa eleitoral em 2010. Abaixo, a entrevista que Dias concedeu à ISTOÉ em seu gabinete no Senado.
ISTOÉ – Foi o sr. que vazou para a imprensa o dossiê sobre os gastos do presidente Fernando Henrique e dona Ruth?
Álvaro Dias – Evidente que não. O dossiê existe. Isso está comprovado. Foi formatado na Casa Civil. A própria ministra Dilma Rousseff anunciou- o, em São Paulo, quando disse:
“Temos uma bala na agulha, não vamos apanhar quietos, estamos fazendo um levantamento sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso.
” Logo em seguida jornais noticiaram que o governo preparava um dossiê. E coincidentemente o líder do governo no Senado (Romero Jucá) vinha propor a instalação da CPI, mudando a estratégia oficial.
Antes, a tentativa de impedir, e, agora, o desejo de instalar. Na esperança de confundir as coisas, desviando o foco para o governo passado.
Revista IstoÉ
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